Avaliação do Estado Nutricional de doentes em Hemodiálise no Hospital Amato Lusitano

Abstract

Introdução: A hemodiálise, apesar de prolongar a sobrevida dos doentes com insuficiência renal crónica terminal, está associada a várias complicações, agudas e crónicas, e a alterações nutricionais. A desnutrição energético-proteica aumenta a mortalidade e compromete a qualidade de vida destes doentes. Como tal, é fundamental uma avaliação regular do estado nutricional, de forma a intervir o mais precocemente possível. Como não existem formas de avaliação únicas e ideais validadas capazes de avaliar, precisamente, o estado nutricional, recomenda-se a utilização de um conjunto de parâmetros bioquímicos e antropométricos, associados a uma monitorização da ingestão alimentar de cada doente. Objectivos: Avaliar o estado nutricional de uma população em hemodiálise através da análise estatística de diferentes parâmetros bioquímicos, antropométricos e avaliações subjectivas dos próprios doentes em relação à sua alimentação, actividade diária e tipo de sintomas que podem influenciar o estado nutricional. Quantificar a prevalência de desnutrição/risco de desnutrição na população em estudo. Materiais e Métodos: Estudo observacional transversal, desde Setembro de 2015 a Fevereiro de 2016, tendo como população alvo 46 doentes em tratamento de hemodiálise, no serviço de Nefrologia do Hospital Amato Lusitano. Dados subjectivos relativos a alterações recentes na alimentação, existência de sintomas gastrointestinais e mudanças na actividade diária, desde o início do tratamento de hemodiálise, foram obtidos por meio de questionários especificamente desenvolvidos para tal. Para a avaliação do estado nutricional utilizaram-se também parâmetros bioquímicos e antropométricos. A análise estatística foi feita com recurso ao Statistical Package for the Social Sciences. Resultados: Dos 46 doentes estudados, 52,2% refere “comer pouco” e 50% refere sintomas gastrointestinais, sendo o mais comum a falta de apetite (65,2%). Segundo a classificação usada para a avaliação da adequação da circunferência do braço, 40,7% dos homens apresentam “eutrofia”, enquanto 47,4% das mulheres demonstram “desnutrição leve”. A grande maioria dos doentes apresenta níveis de albumina 1g/kg/dia. São as mulheres que frequentemente apresentam níveis mais baixos de pré-albumina e um índice de massa corporal inferior a 23kg/m². Contrariamente, são estas que mostram níveis de colesterol total mais elevados. Relativamente à vitamina D, os valores médios foram de 13,9±13,3ng/mL, para a população em estudo, revelando valores muito abaixo do recomendado (>30ng/mL). Metade da amostra apresenta pelo menos três parâmetros (bioquímicos e/ou antropométricos) abaixo dos valores de referência, indicando desnutrição ou risco de desnutrição. Discussão: Os níveis médios da albumina, pré-albumina, colesterol, transferrina, ureia pré-diálise, creatinina e nPCR apresentam níveis inferiores nos doentes classificados como desnutridos ou em risco de desnutrição, com diferenças estatisticamente significativas. Estes resultados estão de acordo com a literatura que considera todos estes parâmetros como importantes marcadores do estado nutricional, em pacientes sob tratamento dialítico. Pelo contrário, os parâmetros antropométricos utilizados não revelaram diferenças estatisticamente significativas. Desta forma, e contrariamente ao evidenciado noutros estudos, neste trabalho, nem o IMC nem a medição da circunferência do braço se mostraram importantes marcadores do estado nutricional. Conclusão: As mulheres apresentam maior risco de desnutrição relativamente aos homens. Metade da população em estudo (23 doentes) está desnutrida ou em risco de desnutrição energético-proteica.Introduction: Hemodialysis, although prolong the survival of patients with end stage renal failure, is also associated to several complications (acute and chronic) and nutritional changes. The protein-energy malnutrition increases the mortality and compromises the quality of life of these patients. So, a regular evaluation of nutritional status is essential for an early intervention. There aren’t unique and optimal validated ways of evaluation capable of accurately measure the nutritional status. It is recommended to use a set of biochemical and anthropometric parameters associated with a monitoring food intake of each patient. Objectives: First of all, evaluate the nutritional status of a hemodialysis population through statistical analysis of different biochemical and anthropometric parameters and subjective evaluations of patients about their diet, daily activity and kind of symptoms that may influence their nutritional status. Second, quantify the malnutrition/risk of malnutrition in this population. Methodology: This is an observational cross-sectional study, performed during the period from September 2015 to February 2016, and includes 46 hemodialysis patients in nephrology service of Amato Lusitano’s Hospital. Questionnaires were specifically developed to get subjective data about recent changes in diet, gastrointestinal symptoms and changes in their daily activity, since the beginning of hemodialysis treatment. For the evaluation of nutritional status it was also used biochemical and anthropometric parameters. Statistical analysis were performed using Statiscal Package for the Social Sciences. Results: 52.2% of the 46 patients studied, refers to "eat little" and 50% reports gastrointestinal symptoms, the most common being lack of appetite (65.2%). According to the classification used for the adjustment of the arm circumference evaluation, 40.7% of men presents "eutrophic", while 47.4% of women showed "mild malnutrition." The majority of patients show levels of albumin 1g/kg/day. The womens are often who have lower levels of prealbumin and a body mass index less than 23 kg/m². In contrast, they are also the ones who show higher cholesterol. Regarding vitamin D3, the mean values were 13.9 ± 13,3ng / mL, for the general population, showing values well below the recommended (> 30 ng / mL). Half of the sample had at least three parameters (biochemical and/or anthropometric) below the reference values, indicating malnutrition or risk of malnutrition. Discussion: The average levels of albumin, prealbumin, cholesterol, transferrin, pre-dialysis urea, creatinine and nPCR are lower in patients classified as malnourished or at risk of malnutrition, with statistically significant diferences. These results are in agreement with literature, which considers all of these parameters as important nutritional status markers in dialysis patients. By contrast, the anthropometric parametrs used did not show statistically significant diferences. Therefore, and unlike other studies, in this work neither IMC or arm circunference measure were important nutritional status markers. Conclusion: The womens have a higher risk of malnutrition and mortality, comparing to men. Half of the study population (23 patients) are malnourished or in risk of protein-energy malnutrition

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