Os fitoterápicos e a anestesia na cirurgia de ambulatório

Abstract

A utilização de fitoterápicos (medicamentos à base de plantas e substâncias derivadas das plantas) para fins terapêuticos e profiláticos é uma prática frequente nas nossas sociedades. Estes produtos contêm substâncias que podem interagir com os medicamentos usados convencionalmente, nomeadamente com os anestésicos e adjuvantes da anestesia. Contudo, estudos que demonstrem estas interacções são escassos. A presente dissertação tem como objectivo estudar as interacções que podem ocorrer entre os fitoterápicos e os anestésicos, manifestadas pela ocorrência de eventos adversos no período perioperatório, no que concerne a determinadas mudanças cardiovasculares (tensão arterial e frequência cardíaca) e, também caracterizar o consumo de fitoterápicos na amostra. Recolheram-se os dados por aplicação de um inquérito aos doentes, que realizaram uma cirurgia na Unidade de Cirurgia de Ambulatório na ULS, Hospital Sousa Martins – Guarda, entre 3 de Março e 7 de Abril de 2011 e pela análise dos seus processos. Considerou-se que ocorreram eventos adversos quando estes valores diferiram em 20% ou mais do valor basal. Utilizou-se o Microsoft Office Excel 2007® para o tratamento estatístico dos dados, realizando estatística descritiva (média, desvio-padrão e frequências) e indutiva (odds ratio e χ2). Inquiriram-se 29 mulheres e 19 homens com uma média de idades de 49,25±16,41. Os fitoterápicos foram consumidos maioritariamente pelas mulheres (86%) e a faixa etária consumidora está entre os 25 e os 65 anos. O mais consumido foi a erva-cidreira (39%) e as infusões foram as mais utilizadas. Os locais de aquisição preferíveis foram o supermercado (56%) e o cultivo próprio (33%). Apesar do consumo diário ser significativo (31%), não ultrapassou a toma de 2 chávenas por dia. A maioria dos entrevistados seguiu a recomendação dos fabricantes (71%) e não consumiu fitoterápicos nos 7 dias anteriores à cirurgia (56%). As mulheres e os utentes idosos foram os que recorreram mais aos fitoterápicos provenientes do cultivo próprio e quanto menor foi o nível de escolaridade, maior foi esta aquisição. Os fitoterápicos consumidos nos 7 dias anteriores à cirurgia (camomila, cidreira-mel, erva cavalinha, erva-cidreira, hipericão e tília) não interferiram com os anestésicos e com o acto cirúrgico (χ2=2,23). Concluiu-se que o consumo de fitoterápicos é frequente e que os fitoterápicos estudados não parecem interagir com os anestésicos utilizados. O resultado obtido é de grande importância, pois sugere que estas plantas podem ser utilizadas no período perioperatório sem causar efeitos nefastos. Contudo, dadas as limitações do estudo, não pode ser generalizado à população

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