Malária em Moçambique: políticas, provedores de cuidados, saberes e práticas de gestão da doença

Abstract

As sociedades do distrito de Chókwè, no sul de Moçambique, caracterizam-se por uma diversidade de etnomedicinas, nomeadamente a biomedicina, a medicina tradicional e a cura espiritual. No âmbito das atividades de controlo da malária, analisaram-se os conhecimentos e práticas relacionados com a sua etiologia, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento, de acordo com os diferentes provedores de cuidados de saúde consultados. A análise deste fenómeno foi realizada à luz de uma perspectiva interpretativa e crítica, integrando fatores de ordem económica, social, política, organizacional e cultural, que são frequentemente marginalizados na compreensão desta doença. Com base numa abordagem multidisciplinar e qualitativa, concluiu-se que a construção social da enfermidade emerge não só da experiência psicossocial dos doentes e grupos sociais mas também de todas as dinâmicas que integram a vida em sociedade, em especial da teia de relações socioculturais, ideológicas, políticas e vivências, simbolismos, fluxos de informação e os múltiplos atores, que compõem a complexa arquitetura do Sistema Nacional de Saúde, em Moçambique. Recusando a “monocultura epistémica”, as histórias de vida relativas aos provedores de saúde tradicionais (curandeiros e pastores) e os discursos sobre a sua identidade evidenciam os conflitos e as tensões existentes bem como as tentativas de harmonização, cooperação e complementaridade terapêutica. Do mesmo modo que o mosquito Anopheles resiste e se adapta às alterações do meio, também os conhecimentos, as práticas terapêuticas e as relações sociais respeitantes à saúde e à doença estão em constante mutação. Em ambos os casos, desconhecem-se as subsequentes modalidades e configurações.The societies of Chókwè’s district in the south of Mozambique are characterized by a diversity of ethnomedicines, including biomedicine, traditional medicine and spiritual healing. Focusing on malaria control activities, knowledge and practices related to malaria’s etiology, diagnosis, prevention and treatment were analyzed, according to the consultation of different health care providers. The analysis of this phenomenon was based on an interpretive and critical perspective, integrating economic, social, political, organizational and cultural factors, which are often marginalized in the understanding of illnesses. Based on a multidisciplinary and qualitative approach, it was concluded that diseases’ social construction emerges not only from the psychosocial experience of patients and social groups, but also from the social dynamics, especially socio-cultural, ideological and political relationships as well as experiences, symbolisms, flows of information and multiple actors that constitutes the complex architecture of the National Health System in Mozambique. Refusing the "epistemic monoculture", the traditional health care providers’ oral histories (traditional healers and pastors) and their discourses about identity illustrate the current conflicts and tensions as well as matching attempts to achieve therapeutic cooperation and complementarity. Just as the mosquito Anopheles resists and adapts to environmental changes, also the knowledge, therapeutic practices and social relations relating to health and disease are constantly changing. In both cases, we are unaware of subsequent arrangements and configurations

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