Orientador: Claudia Thereza Guimarães de LemosDissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da LinguagemResumo: Qual a eficácia simbólica (função) das histórias infantis (contos maravilhosos) na trajetória da criança pela linguagem? Eis a questão que move essa pesquisa. Cabe esclarecer que o termo 'histórias infantis¿ está numa referência ao efeito que uma narrativa ficcional produz sobre um sujeito e que o sentido de 'infantil¿ fundamenta-se na concepção freudiana. Dentre os fenômenos nos quais é possível verificar a presença de fragmentos provenientes desse tesouro popular, dois deles foram eleitos para a investigação: o sonho e a fala da criança. O eixo do presente estudo é o sonho dos lobos, exposto no relato clínico 'História de uma neurose infantil¿ (Freud: 1914): trata-se de um sonho de infância interpretado na análise do paciente em sua maturidade (retroativamente). Na leitura do caso foi destacada a insistência do significante 'postura¿ na história do sujeito, a qual ilustra a articulação entre real do corpo (o sexual, o infantil atualizado nos sintomas da juventude) e linguagem (trata-se de um significante que ¿ retroativamente - convoca um outro significante, na cadeia). Tanto na 'de-cifração¿ do sonho quanto na narrativa da criança (independentemente de sua posição na relação com a linguagem) foi constatado que as histórias infantis foram desfeitas para serem refeitas. No entanto, não há uma equivalência entre sonho e fala da criança. As histórias infantis abrem uma janela para que o traumático (o real, o sexual) compareça e oferecem significantes chaves para a elaboração da passagem edípica, os quais não têm um significado pré-estabelecido; não se trata de um conjunto de signos que representaria alguma realidade extralingüística. O que constitui propriamente o maravilhoso é a dimensão do impossível. Nos contos maravilhosos, tudo é possível, isto é: o desejo de preencher o vazio existente entre coisas e palavras (um preenchimento da ordem do impossível) não é questionado. Tal desejo afeta a estrutura, opera sobre a falta - o impossível de simbolizar cujo traço insiste ¿ e produz como efeito o 'des-fazimento¿ das histórias (também na construção do fantasma). A literatura infantil alimenta o desejo, cuja função é situável pela linguagem: ¿[...] existe desejo porque existe inconsciente, isto é, linguagem que escapa ao sujeito na estrutura e nos efeitos [...]¿ (Safouan, 1970: 32)Abstract: What is the symbolic (function) efficacy of children¿s stories (wonderful tales) on the child¿s way through language? That is the question which directs this research. It is useful to say that the expression ¿children¿s stories¿ points to the effect of which a fictional narrative produces on the subject. Futhermore, the meaning for ¿children¿s stories¿ is based on the Freudian concept of infantile. Among the phenomena under which it is possible to show some fragments, I elected two to be examined: the dream and the child¿s speech. The pillar of the present research is the study of the dream of the wolves that is showed in "From the History of an Infantile Neurosis" (Freud 1914), that is about a childhood dream interpreted along the patient¿s analysis in his adult life (retroactively). Reading the case, I pointed out the insistency of the ¿posture¿ signifier in the history of the subject by which illustrates the articulation between the real of the body (the sexual, the infantile in the symptoms of youth) and the language (which refers to a signifier that evokes ¿ retroactively- another). It was seen that the children¿s stories were undone to be redone in the ¿de-coding¿ of a dream and in the child¿s narrative (independently of her position referred to the language). However, there is no equivalence between dream and child¿s speech. The children¿s stories open a window for the appearance of the traumatic (the real, the sexual) and offer important keys for elaborating Oedipus passage, which has no pre-established signified. That is, it is not about a group of signs that would represent any extra-linguistic reality. The dimension of the impossible is what constitutes the wonderful. Everything is possible in those wonderful stories: the desire to fulfill the emptiness that exists among things and words (a fulfilling that comes from the realm of the impossible) is not questioned. That desire affects the structure and operates over the lack- the impossible to symbolize in which the trait insists ¿ and produces and effect of ¿undoing¿ of the stories as well as in the construction of the phantom. Children¿s literature feeds the desire whose function can be spotted in the language: ¿[¿] there is desire because there is unconscious, that is, language that escapes form the subject in structure and in effects [¿]¿ Safouan (1970:32)Mestrad