Evidências prosódicas para o tratamento de estruturas desgarradas como uma estratégia de focalização

Abstract

Decat (1999, 2011) postula a existência de cláusulas desgarradas e afirma que o fenômeno do desgarramento funciona como estratégia de focalização para atender aos objetivos comunicativos e discursivos, sendo comparável à topicalização e à clivagem. Apesar de não realizar análise acústica, Decat (2011) afirma que será considerado um caso de desgarramento uma estrutura que seja precedida por uma pausa e que tenha um contorno entonacional de princípio e de fim de unidade. A fim de averiguar se as estruturas desgarradas de fato apresentam pistas prosódicas que as singularizam ou que sejam semelhantes às já descritas para tópicos e clivadas no PB (Fernandes Svartman 2007, 2012), fornecendo evidência fonológica à estratégia sintática, este trabalho realiza análise acústica de gravações feitas com base em exemplos retirados dos trabalhos de Decat (2011). Foram gravados, por quatro informantes cariocas, nove exemplos encontrados nos estudos de Decat (2011) para a língua escrita e, a partir de análise no programa computacional PRAAT, foram verificados os parâmetros acústicos de frequência fundamental (F0), pausa e duração. Foram observados os pressupostos teóricos do modelo Autossegmental e Métrico da Fonologia Entoacional (Pierrehumbert, 1980; Ladd, 2008) e, espera-se, a existência de correlatos acústicos já descritos para tópicos e clivadas também em estruturas desgarradas. Os resultados revelam que o “contorno final” e a presença de pausa, descritos por Decat (2011) como possíveis caracterizadores de cláusulas desgarradas, é traço comum em todas as estruturas analisadas e não evidencia, fonologicamente, o desgarramento. Entretanto, uma maior duração das pausas antes das desgarradas pode ser indício de uma estrutura sintaticamente diversa

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