HIV/AIDS e profilaxia pós-exposição sexual: estudo de caso de uma estratégia de saúde

Abstract

O surgimento de novos métodos preventivos eficazes revigora a prevenção da infecção pelo HIV e potencializa a atenção a diversas situações de vulnerabilidade e risco que as pessoas vivenciam. Todavia, a apropriação destes avanços tecnológicos em benefício da população exige exame e reflexão crítica sobre as práticas de saúde, a gestão dos serviços e a organização dos processos de trabalho na rede de saúde. Esta pesquisa é um estudo de caso realizado em um serviço público de saúde do Estado do Rio de Janeiro, com objetivo de analisar os modos de aplicação da Profilaxia Pós-Exposição Sexual (PEP sexual), visando à identificação de fatores associados às limitações e possibilidades de “sucesso prático” desta estratégia, como dispositivo de cuidado na prevenção do HIV. Foram utilizados métodos qualitativos e adotada uma perspectiva analítica das ciências sociais, humanas e da saúde. O princípio da integralidade, em suas dimensões ligadas às práticas de saúde e organização do processo de trabalho (Mattos, 2004), foi utilizado como parâmetro para a análise do material. Os dados foram organizados em três eixos de análise: percepção de risco, cuidado e processo de trabalho. Também foram observados aspectos relacionados à intersubjetividade produzida na relação entre profissionais e usuários, à construção do cuidado integral, ao estímulo à autonomia dos sujeitos usuários e respeito aos direitos humanos. Os resultados demonstram que os espaços de intersubjetividade circunscritos pela busca /indicação da PEP sexual são atravessados por distintas lógicas de risco, segundo “usuários” e “profissionais” de saúde, por padrões morais discriminatórios, por um modelo de atenção médico centrado e prescritivo. Também indicaram ausência de uma gestão democrática na organização dos processos de trabalho para incorporação da nova tecnologia na rotina do serviço, e falta de espaços de integração e capacitação dos trabalhadores no desenvolvimento desta estratégia. Estes fatores configuram a forma de atenção predominante no serviço. Ocorreram também, ainda que em menor frequência, situações em que a racionalidade da práxis predominou sobre a racionalidade tecnológica, e o atendimento às demandas de PEP sexual se transformou em cuidado integral. O estudo nos forneceu elementos para a reflexão crítica sobre o que pode nos afastar e nos aproximar do “sucesso prático” (Ayres, 2009) da PEP sexual na prevenção do HIVThe emergence of new effective preventive methods strengthens the prevention of HIV infection and enhances attention to diverse situations of vulnerability and risk that people experience. However, the utilization of these technological advances for the benefit of the population requires analysis and critical reflection concerning health practices, service management and organization of work processes in the health system. This research is a case study of a public health service of the State of Rio de Janeiro, with the aim to examine the ways of application of the Sexual Post-Exposure Prophylaxis (sexual PEP), to identify factors associated with the limitations and possibilities of the "practical success" of this strategy as a care device in HIV prevention. Qualitative methods were used and an analytical perspective of social sciences, humanities and health was adopted. The principle of integrality with its dimensions related to health practices and organization of work processes (Mattos, 2004), was used as a parameter for analysis of the material. The data were organized into three analytical groups: risk perception, care and work process. Furthermore, the aspects related to intersubjectivity developed in the relationship between professionals and users were also observed, as well as the construction of integral care, the stimulus to the autonomy of the users and the respect for human rights. The results show that the intersubjectivity spaces circumscribed by the search / display sexual PEP are crossed by distinct logic of risk, according to "users" and " health professionals", by discriminatory moral standards and by a centered and prescriptive medical attention model. They also indicate the absence of democratic management in the organization of work processes that incorporate new technology into service routine, and the lack of opportunities for integration and training of workers in developing this strategy. These factors constitute the predominant form of attention in the service. There were also, situations occurred, although less frequently, where the practical rationality predominated over the technological one, and attending the demands of sexual PEP turned into integral care. The study provided elements for critical reflection about what can move us away or bring us near the "practical success" (Ayres, 2009) sexual PEP for HIV preventio

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