Maciel, Carlos Alberto da Rosa

Portuguese

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Da racionalidade desenvolvimentista ao desenvolvimento rural agroecológico

Lume 5.8

DA RACIONALIDADE DESENVOLVIMENTISTA AO DESENVOLVIMENTO RURAL AGROECOLÓGICO Carlos Alberto da Rosa Maciel Jaqueline Mallmann Haas Introdução Por muito tempo as ciências ligadas ao campo da economia tiveram como base estrutural ideológica a maximização dos lucros, através da exploração dos recursos naturais de forma desmedida. Tal visão, vem desde os pressupostos da economia clássica, passando pela economia neoclássica e chegando até os dias atuais, mesmo esse campo do conhecimento tendo elaborado análises mais refinadas, do ponto de vista acadêmico, como a Nova Economia Institucional e a Sociologia Econômica.  Dessa forma, após terem surgido diversas teorias que tentaram criar modelos de desenvolvimento para regiões rurais economicamente desfavoráveis, emergiu o debate pautado pelo viés do desenvolvimento de uma ética ambiental, ou seja, mais sustentável, discordando de vários pressupostos defendidos por teorias que o precederam. Tais conceitos, criados a partir de teóricos ambientalistas, carregam consigo uma gama de elementos que tem base em várias áreas do conhecimento científico. Pode-se dizer que, o ponto de vista econômico não é o motor principal do modelo de desenvolvimento sustentável, sendo que ele é mais um dos elementos que fazem parte do complexo sistema de desenvolvimento rural, juntamente com outros aspectos. Outro ponto importante de referenciar, é o respeito aos elementos endógenos existentes, divergindo profundamente de modelos que defendem o máximo de interferências externas para promover o anunciado desenvolvimento, partindo do pressuposto de que as regiões não conseguiriam por si só avançar economicamente e socialmente.  De forma mais geral, este resumo busca discutir, de forma teórica, a proposta agroecológica enquanto uma alternativa sustentável e com viabilidade econômica para as famílias rurais, fazendo uma crítica aos processos de racionalidade desenvolvimentista em curso.  Discussão Diversas são as teorias que buscam explicar o comportamento econômico dos agentes e suas estratégias de ação no mundo dos negócios, no entanto, nem todas as variáveis são colocadas na equação. Quando se trata de recursos naturais, esses são considerados enquanto bens inesgotáveis e de difícil mensuração, portanto, são deixados de lado nos cálculos econométricos, exceto em tempos de escassez. Para Cavalcanti (2010), a economia-ciência tradicional, com efeito, não considera quaisquer conexões que possam existir entre o sistema ecológico e as atividades de produzir e consumir que representam o cerne de qualquer sistema econômico (economia-atividade). Dessa forma, a visão econômica da economia (como é denominado pelo autor), avança e legitima consigo a noção de que os recursos naturais devem servir ao homo economicus, que busca as melhores fontes de lucro, potencializando os ganhos econômicos. A discussão acerca do desenvolvimento rural abarca uma série de elementos que podem ser de âmbito social, ambiental, cultural, político e econômico. Primeiramente, antes de pensar em construir qualquer projeto que vise ao desenvolvimento rural, deve-se fazer um estudo demográfico e econômico sobre o mesmo, identificando como foi o processo de formação e quais os recursos passíveis de serem utilizados. Em um segundo momento, com as primeiras informações em mãos, pode-se realizar uma análise conjuntural da produção existente até I Salão DRentão, se este for o caso, ou sobre as formas de produção anteriores. Dessa forma, se tornará mais fácil mapear quais as potencialidades que poderão ser constituídas.  O principal elemento a ser debatido enquanto modelo mais apropriado de desenvolvimento rural é qual a demanda existente para tal situação. Importar modelos existentes em outras localidades ou regiões é extremamente problemático. As variantes de produção podem ser diferentes, podendo gerar ao invés de promoção da qualidade de vida, a decadência e derrocada econômica. No tocante aos modelos desenvolvimentistas, temos, na maioria das vezes, processos fechados e empacotados. O processo de escolhas e de formato desses modelos não são realizados por um grupo amplo (diferente dos moldes do desenvolvimento rural agroecológico), mas sim de uma reduzida equipe gerencial. Nesses projetos, o retorno nem sempre é gerado apenas para o local, pois se dão em uma esfera afastada da onde deveriam estar. Os interesses das corporações que atuam junto a locais em processo de desenvolvimento atentam, em primeiro plano, aos ganhos econômicos que poderão lhes servir, deixando de lado o comprometimento social e político para com a comunidade inserida. Isso ocorre porque, na lógica do desenvolvimento exógeno, o comprometimento é apenas mercantil e empresarial. Essa lógica acaba por criar um tensionamento para ambas as partes, a comunidade envolvida e o grupo coordenador. O Marco Referencial em Agroecologia, elaborado pela Embrapa (2006),nos diz que os projetos articulados a programas de desenvolvimento local em geral são de longamaturação, devendo ser dimensionados para prazos estendidos, evitando riscos dedescontinuidade e frustração por parte das comunidades.Considerações Finais O termo Agroecologia é propositivo no que se refere a modelos de desenvolvimento rural sustentável e que operem a partir da compreensão das relações entre o homem o meio que ele habita, promovendo um alavancamento de práticas endógenas e renováveis. A lógica de funcionamento é de uma estrutura horizontalizada de relações internas baseadas na solidariedade entre os atores envolvidos diretamente no sistema, sensível aos desarranjos que por ventura existam, buscando sempre desconstruir tais problemas por meio do diálogo promovido pelo mediador social ou pelo próprio membro da comunidade. O enfoque da Agroecologia é amplo, não atuando de forma a ver a agricultura enquanto uma questão econômica e preocupada apenas em solucionar os problemas utilizando insumos químicos de origem industrial. Portanto, experiências de transição agroecológica devem ser cada vez mais apoiadas, de forma a mostrar possíveis caminhos a serem seguidos para uma agricultura mais sustentável. Nesse sentido, a extensão rural tem papel importantíssimo, orientando e trabalhando junto com os atores envolvidos no processo de transição, buscando sempre o diálogo e operando de forma a construir o empoderamento dos agricultores, para que cada vez mais não dependam de influências externas. Não existem respostas totalmente concluídas ou pacotes “milagrosos” que possam resolver todos os problemas da agricultura de uma só vez. O que existe, do ponto de vista do cuidado com o meio-ambiente, são alternativas ecológicas que buscam um equilíbrio natural dos elementos e que se inter-relacionam de forma a atuarem em conjunto.  Referências bibliográficas CAVALCANTI, Clóvis. Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a economia ambiental. Estudos Avançados 24 (68), 2010. MATTOS, Luciano (coord.). Marco Referencial em Agroecologia. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. I Salão DR

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