Introdução: O sucesso no aleitamento materno tem sido medido, basicamente, pela sua duração, desconsiderando a satisfação da mulher e da criança com a amamentação. Esse aspecto é muito importante, podendo impactar, inclusive, na duração dessa prática. Entretanto, são raros os estudos dedicados à pesquisa do grau de satisfação das mulheres com a amamentação, sobretudo no Brasil, e pouco se sabe sobre os seus determinantes. Atualmente, existe disponível na literatura apenas um instrumento para avaliar a percepção materna de sucesso na amamentação, o Maternal Breastfeeding Evaluation Scale (MBFES), proposto em 1994 por autoras norte-americanas. O instrumento foi publicado em inglês e validado nos Estados Unidos, sendo também utilizado em outros países de língua inglesa. Foi também traduzido e validado em outros países, mas não no Brasil. Objetivos: (1) validar o instrumento MBFES para a população brasileira; (2) medir o grau de satisfação das mulheres com a amamentação no primeiro mês de vida de seus filhos em uma população brasileira; e (3) identificar os fatores associados à satisfação dessas mulheres com a amamentação nesse período. População e Métodos: Foi realizado estudo transversal aninhado a uma coorte envolvendo 287 duplas mãe-bebê recrutadas em duas maternidades de Porto Alegre, RS, uma pública e outra privada, entre janeiro e julho de 2016. Foram incluídas aleatoriamente mulheres residentes no município de Porto Alegre que tiveram recém-nascidos vivos, não gemelares, com idade gestacional maior ou igual a 37 semanas e que tivessem iniciado a amamentação. Não foram incluídas as residentes em áreas com alto índice de violência. Na semana seguinte à criança completar 30 dias, as mulheres foram entrevistadas em seus domicílios ou outro local de sua preferência, sendo aplicado um questionário estruturado para obtenção de informações sobre características sociodemográficas, saúde da mulher, última gestação e atenção pré-natal, ao parto e no pós-parto, além de algumas informações sobre o primeiro mês de vida da criança. Para o processo de validação do instrumento foi realizada análise fatorial com rotação varimax. Para a validação de constructo, quatro hipóteses foram testadas pelo teste T não pareado. A análise de confiabilidade foi realizada utilizando o coeficiente alfa de Cronbach. A satisfação da mulher com a amamentação foi medida pelo MBFES. As associações entre satisfação da mulher com a amamentação e as diversas variáveis explanatórias avaliadas foram estimadas pela regressão multivariável de Poisson com variância robusta em abordagem hierarquizada com quatro níveis. O grau de satisfação da mulher foi categorizado tendo como ponto de corte a mediana da pontuação obtida no MBFES. As mulheres com pontuação igual ou acima da mediana foram consideradas as de maior satisfação e as com pontuação abaixo da mediana, as com menor satisfação. Resultados: Quanto à validação do instrumento de medição do grau de satisfação da mulher com a amamentação, os resultados da análise fatorial exploratória identificaram a necessidade de exclusão de um item e a reformulação das subescalas. A validação de constructo mostrou que todas as hipóteses propostas foram confirmadas: as mulheres que estavam amamentando, as que estavam em amamentação exclusiva, as que não apresentavam problemas relacionados à amamentação e aquelas com intenção de amamentar por pelo menos 12 meses apresentaram valores médios significativamente superiores na escala. O instrumento na sua íntegra apresentou consistência interna adequada (alfa de Cronbach = 0,88; IC 95%: 0,86-0,90), assim como as subescalas prazer e realização do papel materno (0,92; IC95%: 0,91-0,93), crescimento, desenvolvimento e satisfação infantil (0,70; IC 95%: 0,65-0,75) e aspectos físico, social e emocional materno (0,75; IC 95%: 0,70-0,79). A satisfação da mulher com a amamentação no primeiro mês pós-parto foi alta, pois a mediana da pontuação obtida no MBFES (124 pontos) se aproximou do escore máximo (145 pontos). A prevalência de maior satisfação com a amamentação, ou seja, de ter uma pontuação igual ou maior que a mediana, foi maior entre as mulheres pardas e pretas (razão de prevalência [RP] 1,33; IC 95%: 1,05- 1,69), as que moravam com o pai do bebê (RP=1,75; IC 95%: 1,05-2,94), as que tinham intenção de amamentar por 12 meses ou mais (RP=1,48; IC 95%: 1,02-2,17) e as que não relataram problemas com pouca produção de leite (RP=1,47; IC 95%: 1,03-2,10) ou fissura mamilar (RP=1,29; IC 95%: 1,01-1,65). Conclusões: Conclui-se que (1) o MBFES, após a exclusão de um item e a reformulação das subescalas, mostrou ser um instrumento válido e confiável para ser aplicado à população brasileira; (2) o grau de satisfação das mulheres com a amamentação na população estudada foi alto; e (3) os fatores associados à satisfação dessas mulheres com a amamentação incluem fatores individuais e expectativas da mulher, constituição familiar e problemas relacionados com a amamentação.Introduction: Breastfeeding success has been measured basically based on its duration, disregarding mother and child satisfaction with the experience. This aspect is very important and may have impacts even on breastfeeding duration. Notwithstanding, studies aimed to investigate levels of maternal satisfaction with breastfeeding are rare, especially in Brazil, and little is known about their determinants. Currently, only one instrument is available in the literature to assess maternal perception of breastfeeding success, namely the Maternal Breastfeeding Evaluation Scale (MBFES), developed in 1994 by American authors. The instrument was originally published in English and validated for use in the United States, and has been used in other English-speaking countries. It has also been translated and validated in other countries, but not in Brazil. Objectives: The objectives of the present study were: (1) to validate the MBFES instrument for use in the Brazilian population; (2) to measure the level of maternal satisfaction with breastfeeding in the first month postpartum in a Brazilian population; and (3) to identify factors associated with the satisfaction of these women with breastfeeding in this period. Patients and methods: A cross-sectional study nested within a cohort was conducted with 287 mother-child dyads recruited at two maternity wards in the municipality of Porto Alegre, state of Rio Grande do Sul, one public and one private, between January and July 2016. Women residing in the municipality of Porto Alegre who had given birth to a healthy newborn, singleton, with gestational age ≥ 37 weeks, and who had initiated breastfeeding, were randomly included. Women residing in areas considered to be dangerous were not included. The week after the child completed 30 days of life, the women were interviewed at their homes or at a location of their choice, and a structured questionnaire was used to collect data on sociodemographic characteristics, maternal health, latest pregnancy, prenatal, labor and postpartum care, in addition to some data on the first month of life of the baby. For the instrument validation process, factor analysis with varimax rotation was conducted. For construct validation, four hypotheses were tested using the unpaired t test. Reliability analysis was performed using Cronbach’s alpha coefficient. Maternal satisfaction with breastfeeding was measured using the MBFES. Associations between maternal satisfaction with breastfeeding and the different explanatory variables assessed were estimated using multivariate Poisson regression with robust variance in a four-level hierarchical approach. Maternal satisfaction level was categorized using as cutoff point the median score obtained with the MBFES. Women with scores equal to or above the median were considered to have higher levels of satisfaction, whereas those scoring below the median were considered to be less satisfied. Results: With regard to MBFES validation, the results of the exploratory factor analysis identified the need to exclude one item and to reformulate the subscales. Construct validation showed that all proposed hypotheses were confirmed: women who were breastfeeding, who were exclusively breastfeeding, who did not present breastfeeding-related problems, and who planned to breastfeed for at least 12 months showed significantly higher mean scores. The instrument as a whole showed adequate internal consistency (Cronbach’s alpha = 0.88; 95%CI 0.86-0.90), as did the subscales pleasure and fulfillment of the maternal role (0.92; 95%CI 0.91-0.93), child growth, development, and satisfaction (0.70; 95%CI 0.65-0.75), and maternal physical, social, and emotional aspects (0.75; 95%CI 0.70-0.79). Maternal satisfaction with breastfeeding in the first month postpartum was high: the median score obtained with MBFES (124 points) was close to the maximum score (145 points). The prevalence of higher levels of satisfaction with breastfeeding, i.e., of scoring above the median, was higher among women with brown (pardo) and black skin color (prevalence ratio [PR] 1.33, 95%CI 1.05-1.69), who lived with the baby’s father (PR 1.75, 95%CI 1.05-2.94), planned to breastfeed for 12 months or more (PR 1.48, 95%CI 1.02-2.17), and did not report problems such as low milk supply (PR 1.47, 95%CI 1.03-2.10) or cracked nipples (PR 1.29, 95%CI 1.01-1.65). Conclusions: The present findings suggest that (1) following exclusion of one item and reformulation of subscales, the MBFES can be considered a valid and reliable instrument for use in the Brazilian population (2) the level of maternal satisfaction with breastfeeding in the studied population was high; and (3) factors associated with maternal satisfaction with breastfeeding include individual factors and maternal expectations, family constitution, as well as breastfeeding-related problems