Entre restos, há quem sonhe : sobre a escuta psicanalítica com pessoas em situação de rua

Abstract

Esta pesquisa surgiu a partir de indagações sobre as possibilidades da escuta psicanalítica na Política Pública de Assistência Social, mais especificamente, em um serviço dedicado ao trabalho com pessoas em situação de rua no município de Porto Alegre/RS. Iniciou-se com considerações sobre lugares que pessoas ocupam na malha social, lugares pré-determinados por um discurso que dá coordenadas para constituições ou destituições subjetivas. No contexto da pobreza, essas pessoas tomadas como um “resto” da maquinaria capitalista, muitas vezes, não encontram endereçamentos possíveis de fala. Com a psicanálise resgatamos o que há de mais fundamental nesse campo: a função enunciativa desses sujeitos. Por ser uma experiência singular, sua metodologia de escrita aconteceu a partir dos efeitos que essa escuta produziu no trabalhador: sonhar. É com os sonhos, elemento que Freud destacou como via privilegiada ao inconsciente, do lado de quem escuta, que apontamos formas de fazer furos aos discursos totalitários e políticas da indiferença. Assim, se com os “restos” trabalhamos, foi a partir do que resta dessa clínica que se criou possibilidades de transmissão.The present study was originated from the author’s questions about the possibility of psychoanalytic listening with individuals attended by Brazilian public policy of Social Assistance, more specifically by a municipal service directed to homeless people at Porto Alegre, Rio Grande do Sul. It was started with considerations about those individual’s social categorization, which is predetermined by a discourse that leads to subjective formations and destitutions. In the poverty context, those people are taken by the capitalist machine as a “leftover”, usually neglected of possible speech position. Through psychoanalysis, it’s possible to retrieve the most fundamental thing there is on that context: their enunciative function. Since it’s a singular experience, the study writing method developed from the effect that the approach brought to the researcher: to dream. By dreaming, element that Freud highlighted as unconscious Via Regia, the listening one indicates ways of breaking the totalitarian discourse and the actions of social indifference. Therefore, working with the “leftovers”, transmission possibilities were created with what remained from this clinic

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