Morfologia das hemácias no sedimento urinário : técnica de detecção de hematuria glomerular

Abstract

A identidade de alterações morfol6gicas das hemácias no sedimento urinário vem sendo relatada como método apto para a detecção da origem glomerular destas células. O presente trabalho consiste num estudo do sedimento urinário em 93 pacientes portadores de hematúria (cuja etiologia foi glomerular em 46, e não-glomerular em 47), mediante microscopia de contraste de fase. As hemácias foram contadas e, quanto à morfologia, classificadas em dism6rficas ou isom6rficas, calculando- se suas percentagens em cada exame. Buscou-se verificar ainda a ocorrincia de cilindros com hemácias e avaliaramse a densidade, o pH e a presença de proteína. Os objetivos principais do trabalho consistiram na averiguação da eficácia da técnica da morfologia das hemácias no sedimento urinário (MHSU) como método de detecção da hematúri a glomerular, comparando-a com outros indícios de doença glomerular, como a presença de cilindros com hemácias e de proteinúria. Visou-se estabelecer os níveis percentuais de hemácias dism6rficas que mais adequadamente se correlacionam com o diagn6stico de hematúria glomerular. Empregou-se a microscopia eletrônica de transmissão para estudar o sedimento urinário de 4 pacientes com hematúria glomerular, no intuito de melhor observar e compreender as alterações morfológicas das hemácias dismórficas. Obteve-se diferença significativa (p<O ,05) entre as percentagens de hemácias dismórficas presentes na urina de pacientes com hematúria glomerular e não- glomerular. Houve associação significativa (p<O ,OS) entre a presença de dismorfismo, definido por diferentes níveis percentuais de hemácias dismórficas, e o diagnóstico clínico-laboratorial de hematúria glomerular. A máxima especificidade e o mais alto valor preditivo positivo (100%), mantendo-se suficiente sensibilidade (86 ,9%), ocorreram quando adotadas como critério de dismorfismo, percentuais iguais ou superiores a 65% de hemácias dismórficas. Constatou-se diferença significativa (p<O,OS) entre a técnica da MHSU e a presença de proteinúria patológica, como métodos de detecção da hematúria glomerular.As alterações morfológicas mais freqUentemente observadas nas hemácias dismórficas foram amplas variações de tamanho e forma, com distribuição irregular da hemoglobina em seu interior, e perda da superfície lisa pela presença de emissões citoplasmáticas (espículas). Ficou demonstrado que a técnica da MHSU constitui método eficaz para determinar a origem glomerular da hematúria, sendo superior à ver i fi cação da proteinúria e obtendose melhor correlação com o emprego de percentagens iguais ou superiores a 65% de hemácias dismórficas. Por isso, revela-se como valioso recurso auxiliar para o diagnóstico diferencial da hematúria.The identification of morphology changes in urinary erythrocytes has been reported as an effective method for the detection of the glomerular origin of these cell. Thiswork consists of a study of the urinary sediment of 93 patients who presented hematuria (46 of glomerular etiology and 47 of non glomerular etiology) , through phase-contrast microscopy. Erythrocytes were counted and classified in dysmorphic or isomorphic according to their morphology, and their percentages calculated in each exam. The presence of red cell casts, of protein, and the urinary density and pH were also assessed. The main objectives of this work were testing the efficacy of the urinary erythrocyte morphology technique (UEMT) as a method for detecting glomerular hematuria and compare it with other signs of glomerular disease, as red cell casts and proteinuria. The author tried to establish the percentual values of dysmorphic erythrocytes which correlate most adequately with thc diagnosis of glomerular hematuria. Transmission electron microscopy was used for the study of the urinary sediment of 4 patients presenting glomerular hematuria, aiming a better observation and understanding of morphologic changes of dysmorphic erythrocytes. There was a significant difference (p<0,05) between the percentages of dysmorphic erythrocytes found in the urine of patientes suffering from glomerular and non-glomerular hematuria. A significant association (p<0,05) between the presence of dysmorphism, defincd in terms of different percentages of dysmorphic erythrocytes, and clinicallaboratory diagnosis of glomerular hematuria was found. The highest specificity and the higher positive predictive value (100%), maintained sensitivity (86,9%) were found when percentages equal or superior to 65% of dismorphic erythrocytes were adopted as criteria for dysmorphism. There was a significant difference (p<0,05) between UEMT and the presence of pathologic proteinuria, as methods for the detection of glomerular hematuria. The morphologic changes most frequenthy observed in dysmorphic erythrocytes were broad variations in size and shape, with an irregular internal distribution of hemoglobin and loss of the usual smooth surface due to cytoplasmic extrusíons (spicules). This work demonstrates the efficacy of UEMT as a method of determining the glomerular origin of hematuria, being superior to determination of proteinuria. The best correlation was obtained with the use of percentages equal or superior to 65% of dysmorphic erythrocytes. There fore, it is a valuable auxiliary resource for the differential diagnosis of hematuria

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