Soares, Júlia Fialho

Portuguese

Lume 5.8

Evento Salão UFRGS 2018: XIV SALÃO DE ENSINO DA UFRGSAno 2018Local Campus do Vale - UFRGSTítulo A educação ambiental do Jardim Botânico de Porto Alegre emum contexto de incertezasAutor JÚLIA FIALHO SOARESOrientador RUSSEL TERESINHA DUTRA DA ROSARESUMO: Os seres humanos têm enfrentado uma profunda dificuldade de perceberem-se como pertencentes à natureza. Julgam que são simplesmente observadores ou exploradores de um mundo à parte, de um mundo que não integra a sua essência, mas apenas a dos demais seres vivos. Quanto mais acentuado é este modo de viver, mais os seres humanos tornam-se protagonistas nos processos de degradação ambiental. As crises ética, cultural, social, política e econômica vividas na atualidade são consequências desse distanciamento em relação à natureza. Os jardins botânicos contribuem para romper este ciclo, pois possibilitam, através do contato com as plantas, o resgate do vínculo entre o público que o visita e a natureza, promovendo a concepção de que é plenamente possível haver um equilíbrio entre bem-estar social e integridade ambiental. O Jardim Botânico de Porto Alegre (doravante JBPA), pertencente à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (doravante FZB/RS), pode ser considerado exemplo de atuação nesse sentido. A pesquisa a que se refere este resumo teve como objetivo mapear algumas das contribuições do JBPA como espaço de educação ambiental, relacionando isso ao enfrentamento do processo de extinção da FZB/RS, em vigência desde 2015. O trabalho constituiu-se como um estudo de caso qualitativo, construído com base em análise documental, registro de observações do Curso de Formação de Educadores proporcionado pelo Núcleo de Educação Ambiental do JBPA, análise de questionário respondido pelos participantes desse Curso no segundo semestre de 2017 e de entrevista semi-estruturada gravada com um servidor de seu quadro. Todos os procedimentos metodológicos respeitaram os preceitos éticos vigentes. Ficou evidente que o JBPA contribui para a compreensão do valor da diversidade vegetal, especialmente nativa do Rio Grande do Sul, bem como das ameaças que enfrenta, e que o Curso de Formação de Educadores, além de cumprir seu objetivo de ensinar aos educadores que dele participam a como guiar com qualidade visitas pelas coleções botânicas, é um instrumento concreto de resistência do Núcleo de Educação Ambiental frente ao desmantelamento da FZB/RS. Ao longo dos 60 anos de existência do JBPA com abertura ao público, milhares de pessoas tiveram e têm acesso aos seus serviços. O trabalho de manutenção, ampliação e identificação de plantas e coleções botânicas, as visitas guiadas, a venda de mudas, os cursos de botânica aplicada e de educação, os livros publicados, as pesquisas que realiza em diversas áreas da botânica, a manutenção dos espaços e das ocasiões de convivência cativaram e cativam crianças, jovens, adultos e idosos. De 2013 a 2016, aproximadamente 70.000 pessoas vinculadas a alguma instituição de ensino visitaram o JBPA, especialmente da educação pública. O corte de guias para as visitas ao JBPA a partir de 2015, ainda que tenha prejudicado muito o trabalho desenvolvido por seu Núcleo de Educação Ambiental, não impediu que as escolas continuassem considerando-o como um dos melhores lugares para a realização de saídas de estudo e de lazer com seus estudantes. O Curso de Formação de Educadores, criado com o intuito de minimizar o impacto negativo da falta de guias para as visitas ao JBPA, conta com uma parte teórica, que ocorre nas dependências da Escolinha do JBPA, e uma parte prática, que corresponde à trilha orientada por suas coleções botânicas. Os participantes das edições analisadas nesta pesquisa relataram que aprenderam sobre a estrutura, a história e os objetivos do JBPA; a importância do JBPA para a sociedade; a diversidade de plantas, especialmente nativas do estado, e sua importância para as pessoas; relações ecológicas e conceito de espécie. Além do mais, sete dos nove participantes indicaram que acreditam que todos os aprendizados adquiridos no Curso poderiam ser aproveitados caso fossem guiar estudantes da Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio) durante uma visita pelo JBPA. Apenas duas pessoas indicaram que aproveitariam menos, sendo que uma delas ressaltou a insuficiência do Curso para conduzir visitas de forma satisfatória e que seria importante haver guias específicos para isso. Quatro pessoas ficaram sabendo a respeito do Curso através do site do JBPA, duas através de funcionários do mesmo, duas através dos dois modos citados anteriormente e uma através de colegas de trabalho ou de aula. Todos os participantes alegaram que o JBPA, em suas mais variadas formas de atuação, contribui positivamente para a Educação Básica. Segundo eles, isso ocorre porque a instituição possibilita a aproximação das pessoas com o meio natural e a botânica, auxiliando na percepção, na compreensão e na manutenção de suas relações com a natureza; porque promove o conhecimento e a valorização da biodiversidade, especialmente do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil; porque é um grande centro que reúne exemplares de interesse científico que atribuem valor às práticas de educação ambiental nas quais são inseridos; e porque auxilia a desenvolver áreas necessárias e indispensáveis para o conhecimento básico prático e científico no processo de ensino. A presença de docentes da Educação Básica foi baixa. Dos nove participantes, apenas um respondeu que não havia visitado o JBPA antes de realizar o Curso. Nenhuma crítica ou sugestão diminuiu a qualidade do Curso, mas, antes, apresentou problemas que ocorrem em função da falta de investimento na instituição e das tentativas de precarização de seus serviços por parte do governo. Se a extinção da FZB/RS concretizar-se, a educação ambiental promovida pelo JBPA será um dos primeiros campos lesados e, consequentemente, os estudantes, os professores e as escolas – como em todo movimento que tem como base dilapidar os processos de ensino e aprendizagem contextualizados, significativos e críticos. Por isso, é extremamente urgente e relevante que mais pessoas participem de todas as atividades, especialmente de educação ambiental, promovidas pelo JPBA, e isso será facilitado a partir da ampliação do espectro de divulgação das mesmas, tanto por parte da instituição quanto dos próprios participantes. Palavras-chave: Jardim Botânico de Porto Alegre; Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul; Curso de Formação de Educadores. 

A educação ambiental do Jardim Botânico de Porto Alegre em um contexto de incertezas

https://lume.ufrgs.br/bitstream/10183/192577/1/Ensino2018_Resumo_60450.pdf

A educação ambiental do Jardim Botânico de Porto Alegre em um contexto de incertezas

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