Casais heterossexuais sorodiscordantes para o HIV-1 : estudo comportamental e de biomarcadores para avaliar práticas sexuais de risco, adesão ao tratamento antirretroviral e transmissão sexual do HIV com outras infecções sexualmente transmissíveis

Abstract

Base teórica: A epidemia da infecção pelo HIV avança devido à transmissão sexual. Reconhecendo que as estratégias de mudança comportamental não são suficientes, os pesquisadores, hoje, voltam o olhar para o uso de antirretrovirais (ARV) como prevenção da transmissão sexual do HIV em três estratégias principais: PrEP ou profilaxia pré-exposição, PEP ou profilaxia pós-exposição eTasP ou tratamento como prevenção. Nesse cenário, sabese que todas as pessoas infectadas sexualmente pelo HIV, já foram um dia um casal sorodiscordante. Pessoas nessa situação são muito importantes para estudos de avaliação dos fatores facilitadores ou protetores da transmissão sexual do HIV. Sabe-se que as outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são fatores biológicos facilitadores da transmissão sexual do HIV enquanto o uso de ARV com carga viral indetectável é o principal fator protetor desta transmissão, dando origem à disseminação da campanha U=U (Indetectável = Não transmissível). Objetivo: O principal objetivo deste estudo foi avaliar o impacto das outras ISTs e a adesão aos ARV na transmissão sexual do HIV em casais heterossexuais sorodiscordantes cujo índice estava em uso de ARV. Metodos: Estudo transversal aninhado em uma coorte retrospectiva de casais heterossexuais sorodiscordantes para o HIV com uma amostra fixa de 200 casais e 100 solteiros com HIV recebendo tratamento ARV há três meses ou mais, em acompanhamento no serviço especializado em atendimento de pessoas vivendo com HIV/AIDS (PLVHA) no sul do Brasil. Todos assinaram termo de consentimento, responderam questionário demográfico e comportamental pelo audio computer-assisted self-interviews (ACASI), coletaram amostras de sangue e de secreção genital para marcadores biológicos. Todos os parceiros HIV negativos eram aconselhados e testados para o HIV-1. Para a avaliação dos marcadores biológicos foi utilizado o método Real Time Polymerase Chain Reaction (RT-PCR) (©Abott) para a quantificação da carga viral sérica do HIV-1. A carga viral da secreção genital foi avaliada por método de RT-PCR com kit COBAS (©Roche). Swab vaginal para o teste Rapid Stain Identification of Human Semen (RSID) foi utilizado como biomarcador de sexo vaginal desprotegido. Resultados: As características demográficas, comportamentais e de marcadores biológicos foram semelhantes entre casais e solteiros. A correlação entre PCR da secreção vaginal e carga viral sérica foi significativa na presença de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) (r=0,359; P=0,017). Houve associação entre o relato de adesão pelo ACASI e a carga viral sérica indetectável (P<0,0001). A análise de regressão logística demonstrou que o regime de ARV com comprimido único (RCU) duplica a chance de adesão. A maioria dos casos índices era do sexo feminino (70%). A mediana do tempo de relacionamento dos casais foi de 72 meses. Cinco parceiros se infectaram sendo quatro homens e uma mulher com uma incidência de infecção aguda pelo HIV de 2,5% (IC95%:0,8% a 5,7%). O teste RSID avaliou sexo vaginal desprotegido com resultado positivo em 12,1% das mulheres. Os resultados das medidas de carga viral no plasma foram mais elevados nos índices dos casais que transmitiram o HIV do que nos que não transmitiram (P=0,002). A presença de IST foi significativamente maior nos casais que soroconverteram (60,0% X 13,3%;OR=9,75; IC95%:1,55 – 61,2; P=0,023). Conclusão: Investir no uso de ARV como comprimido único é a principal ferramenta para melhorar a adesão. A adesão ao uso de ARV com carga viral indetectável é o principal fator de não transmissão do HIV entre casais sorodiscordantes e neste estudo o que foi preditor de transmissão foi o tempo de carga viral indetectável e a presença de outras ISTs.Theoretic background: Sexual transmission as the major HIV epidemic driver. Knowing that behavior changing strategies are not sufficient to detain the epidemics, researchers currently are turning attention to the use of antiretrovirals (ARV) as one of three ways for curtailing HIV spread: PrEP, or pre-exposure prophylaxis; PEP, or post exposure prophylaxis; and TasP, or treatment as prevention. In this scenario, it is assumed that every single sexually infectedperson, has been part of a serodiscordant couple. Those persons are important for demographic, behavioral and biological studies which can reveal factors facilitating or deterring the HIV transmission. In this context, is known that sexual transmitted infections (STI) one cofactor for HIV transmission and undetectable viral load achieved by antiretroviral treatment makes a HIV infected person virtually incapable of transmission (undetectable = untransmissible). Objetives: Main objetives were the assessment of HIV sexual transmission among serodiscordant couples on which the índex was using ARV in the presence of other IST and also evaluate adherence to ARV. Methods: A cross sectional study nested in retrospective cohort with 200 serodiscordant couples to HIV and 100 single persons receiving ARV treatment for at least three months under follow up at a major HIV/AIDS referral Service in Southern Brazil. Informed Consent has been obtained, after which a thorough behavioral and demographic questionnaire was responded through the audio computer-assisted self-interviews (ACASI). Blood and genital secretion samples were collected for viral load testing. All HIV-negative partners were counseled after testing. HIV-1 viral load was measured by Real Time Polymerase Chain Reaction (Abbott® RT-PCR) with threshold of detection of 40 copies. Vaginal viral load was measured by RT-PCR (Roche COBAS®) which had a treshold of 17 copies. Unprotected sexual intercourse was measured by RSID (Rapid Sexual Identification of Human Semen) in self collected vaginal secretion. Results: Demographic, behavioral and biological markers were similar between couples and single participants. Women with HIV-1 serotype C had more often detectable vírus in genital secretion (P=0,006). Correlation between vaginal and serum viral load was significant in presence of STI (r=0,359; P=0.017). There was association between ACASI report of adherence and undetectable serum viral load (P<0,0001). Logistic regression analysis found single tablet ARV double the chance of adherence to treatment. Mean plasma vírus load results were higher in HIV transmitters compared to non-transmitters (p=0.02). IST were present significantly more common among seroconverting couples (60,0% X 13,3%; OR=9,75;IC95%:1,55 – 61,2; P=0,023). Conclusion: Single tablet ARV was found to be the single most efficient tool to increase adherence to antiretroviral treatment. Undetectable viral load is the main factor associated with non transmission of HIV among serodiscordant couples. HIV transmission was associated with presence of STI and a shorter time with serum undetectable viral load

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