Adoção de inovações didáticas no ensino universitário de física na perspectiva de transposições praxeológicas

Abstract

Diminuir a distância entre pesquisa e prática em Educação em Ciências é um objetivo a ser perseguido. Em particular, algumas inovações didáticas, como métodos ativos de ensino, que apresentam bons resultados em pesquisas empíricas, enfrentam dificuldades ao serem inseridas na prática docente em outros contextos. A disseminação de inovações didáticas se constitui em um problema em aberto. A leitura canônica de métodos de ensino como meras técnicas dificulta o entendimento de suas especificidades e, consequentemente, das transformações necessárias para adequá-los a uma realidade particular. Esses e outros problemas atrelados à disseminação e adoção de inovações didáticas necessitam de uma ferramenta analítica capaz de orientar as pesquisas da área e a prática de professores e instituições que desejem romper com status quo educacional. O objetivo principal desta tese é propor, a partir da literatura e da Teoria Antropológica do Didático (TAD), uma ressignificação ontológica, epistemológica e metodológica das inovações didáticas, destacando a noção de Organização Praxeológica (OP) como ferramenta analítica útil para a análise de métodos de ensino. Para isso, buscamos responder duas questões de pesquisa: (i) Como as inovações didáticas e sua adoção podem ser situados no âmbito da antropologia didática de Yves Chevallard? (ii) Como se deram a gênese, o planejamento, a implementação e a avaliação de uma inovação didática na Universidade de Harvard? Com o intuito de responder à primeira questão, realizamos um estudo teórico, situando a TAD como referencial útil para o estudo de inovações didáticas. Nessa perspectiva, os métodos são vistos como conhecimentos institucionalizados - social e historicamente legitimados - que podem ser estudados em termos da práxis (tipos de tarefa e técnicas) e do logos (discursos tecnológicos e teóricos). Ilustramos essas ideias com a construção de uma OP de referência para o método Team-Based Learning e da OP planejada para uma aplicação desse método em uma universidade pública brasileira. A partir dessa construção teórica, conduzimos um estudo de caso exploratório para compreender a gênese, o planejamento, a implementação e a avaliação de uma inovação didática em desenvolvimento na Universidade de Harvard, a Applied Physics 50 (AP50). Verificamos que o processo de criação da AP50 envolveu três etapas principais: o reconhecimento de um problema oriundo da forma como os alunos de engenharia estavam tendo aulas de Física, a pesquisa, que envolveu a leitura de artigos e visitas a universidades, e o desenvolvimento que foi (e ainda é) influenciado pela instituição (construção social) e por intercâmbio de informações com outros métodos de ensino, tanto na construção do logos quanto da práxis da AP50. A AP50, segundo nossa análise, utiliza elementos de aprendizagem por equipes e desenvolvimento de projetos, e é caracterizada, principalmente, por uma abordagem do tipo scaffolding e avaliação diversificada. Ao ser implementada, mesmo no local de origem, algumas modificações ocorreram, em função, principalmente, dos constantes conflitos entre as instituições (e seus sujeitos) e a inovação. A principal alteração foi a inserção de provas orais aos alunos, remetendo a uma pedagogia tradicional. Por fim, a avaliação por meio de pesquisa é, para a AP50, determinante para o seu desenvolvimento e evolução. Nos semestres de 2016/2 e 2017/2 foram realizadas medidas de autoeficácia discente em ações específicas da AP50, cujos resultados legitimaram a práxis desenvolvida na disciplina. A análise da estrutura da AP50 auxiliou na criação do instrumento para a medida do construto mencionado. A perspectiva trazida pela TAD para os métodos de ensino auxilia no entendimento de suas especificidades, transformações, articulações com outros métodos e referenciais teóricos e avaliações – contribuindo para a diminuição da lacuna entre pesquisa e prática.Bridging the gap between research and practice in Science Education is a goal to be pursued. In particular, some pedagogical innovations, such as active teaching strategies, present good empirical results, but face difficulties when inserted into other contexts. The dissemination of pedagogical innovations is an unsolved issue. The canonical view of teaching strategies as simple techniques makes it difficult to understand their specificities and, consequently, the necessary transformations to adapt them to a particular reality. These and other issues related to the dissemination and adoption of pedagogical innovations need an analytical tool able to guide the research field and the practice of teachers and institutions wishing to change the current pedagogy. The main objective of this thesis is to propose, based on the Anthropological Theory of Didactics (ATD), an ontological, epistemological and methodological resignification of the pedagogical innovations, highlighting the notion of Praxeological Organization (PO) as an useful analytical tool for the analysis of teaching strategies. To this end, we investigated two research questions: (i) How can pedagogical innovations and their adoption be situated into the Chevallard’s didactic anthropology? (ii) How did the genesis, planning, implementation, and evaluation of a pedagogical innovation at Harvard University occur? In order to answer the first question, we carried out, from a theoretical study, a rereading of teaching methods, placing ATD as a theoretical framework for the study of pedagogical innovations. In this perspective, methods are seen as institutionalized knowledge - socially and historically legitimized - that can be studied in terms of praxis (types of task and techniques) and logos (technological and theoretical discourses). We illustrate these ideas with the construction of a reference PO for the Team-Based Learning method and the planned PO for an application of the method in a Brazilian public university. From this theoretical construct, we conducted an exploratory case study to understand the genesis, planning, implementation, and evaluation of a pedagogical innovation under development at Harvard University, the Applied Physics 50 (AP50). We found the process of creating the AP50 involved three main steps: the recognition of a problem arising from the way engineering students were taking physics classes, the research, which involved reading papers and visits to universities, and the development that was (and still is) influenced by the institution (social construction) and exchange of information with other teaching strategies, both in the construction of logos and in the praxis of the AP50. The AP50, according to our analysis, uses elements of team learning and project development, and is characterized, mainly, by a scaffolding approach and diversified evaluation. When implemented, even at the origin place, some modifications occurred, mainly due to the constant conflicts between institutions (and their subjects) and innovation. The main change was the insertion of oral tests to the students, referring to a traditional pedagogy. Finally, the evaluation through research is, for the AP50, determinant for its development and evolution. In the semesters of 2016/2 and 2017/2 student self-efficacy measures were performed in specific actions of the AP50, whose results legitimized the praxis developed in the course. Analysis of the structure of the AP50 aided the creation of the survey for the measurement of the mentioned construct. ATD's approach to teaching strategies assists in understanding its specificities, transformations, articulations with other strategies and theoretical frameworks and evaluations - contributing to the reduction of the gap between research and practice

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