Terme, Carolina Michelon

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Lume 5.8

EXPERIÊNCIAS COM O ARTESANATO NO CONTEXTO DAAGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DAMATA ATLÂNTICACoordenador: RUMI REGINA KUBOAutor: CAROLINA MICHELON TERMENo município de Maquiné, situado no litoral norte do RS e região de MataAtlântica, encontra-se uma grande diversidade ambiental e um complexoarranjo de sistemas produtivos, com predomínio da agricultura familiar.Esta, centrada na unidade doméstica, aponta para uma diversidade derecursos vegetais extraídos, tanto para uso doméstico, agrícola ou detransporte, quanto para complementação da renda. Destaca-se oextrativismo de samambaia-preta, planta usada em arranjos florais emcentros urbanos. As comunidades locais são detentoras também deconhecimentos acerca do artesanato de fibras vegetais. Entre as fibrasempregadas na confecção artesanal tem-se a palha de bananeira, cipós,taquara e plantas aquáticas. A cada uma destas atividades correspondeum conjunto de relações sócio-culturais associado a determinadosf r a g m e n t o s  d e  p a i s a g e n s .  E m  u m  c o n t e x t o  m a r c a d o  p e l oempobrecimento dos sistemas produtivos locais, resultante de fatoresmúltiplos, coloca-se um dilema para a ação extensionista: por um lado, anecessidade de reconhecer a alteridade destes grupos apoiando seussistemas produtivos, sobretudo porque apresentam uma tradição culturalligada à própria dinâmica histórica e ambiental local; por outro, anecessidade de adaptação às novas imposições sociais e ambientaisimpostas pela conjuntura atual. O Projeto Agroculturas tem como objetivocentral fomentar a diversificação dos sistemas de manejo e usos dabiodiversidade na Mata Atlântica, de forma a contribuir para a melhoriados processos de geração de renda e, no que tange à preservaçãoambiental, a promoção da visibilidade e do protagonismo dos agricultoresenvolvidos. Uma das abordagens a que se propõe refere-se à atividadeartesanal, na proposta central de fortalecê-la como alternativa de rendaeficaz para as famílias de agricultores locais. Atendo-se aos processos deprodução artesanal que utilizam recursos vegetais e valorizando oconhecimento acerca de técnicas de coleta e beneficiamento de fibrasvegetais e de manejo do ambiente, o projeto busca contribuir noaprimoramento da atividade artesanal, estimulando e dando visibilidadeàs potencialidades no uso de recursos naturais na diversificação deatividades agrícolas. Propõe-se gerar subsídios que enriqueçam o uso defibras vegetais na confecção artesanal, provendo troca de experiências eproposição de alternativas para a qualificação do processo produtivo ecomercial e instrumentalizar artesãos com informações técnicas acercado Bioma Mata Atlântica e correlatas políticas e legislação. As atividadesdo projeto Agroculturas junto aos agricultores/artesãos estão emandamento e compreendem oficinas, visitas técnicas, reuniões por grupode interesse, visitas de intercâmbio e participação em eventos e feirasque mesclam as atividades de capacitação em um processo transversalde pesquisa participativa. Nas oficinas, trabalhou-se com a tecelagemcom a construção de um tear artesanal, contemplando todas as etapasenvolvidas neste processo, desde o seu desenho/molde até a lógica deurdir. Também, o beneficiamento e uso da fibra de bananeira naconfecção de papel, atividade conduzida pela Ong Papeloteca OtávioRoth que vem desenvolvendo a pesquisa, reunião de acervo e difusão dopapel artesanal. Nestas situações de grupo, cada artesão/ agricultorexpôs opiniões sobre técnicas de corte, qualidades das fibras, influênciasambientais e propostas para melhorar ou estimular a atividade. Porvezes, artesãos locais eram os próprios ministrantes, exibindo suastécnicas e ferramentas, como foi o caso da demonstração de um rústicotear para confecção de esteiras de junco. Os facilitadores da atividade,vinculados ao Projeto, procuraram introduzir questões referentes aoextrativismo de espécies nativas, colocando as restrições e limitações dalegislação quanto ao manejo do ambiente e à finalidade comercial.Apresentaram estudos que vêm sendo desenvolvidos pelo NúcleoDESMA (parceira do projeto) e a lógica de desenvolvimento sustentávelque os permeia, sendo complementado pela entrega de cartilhaselaborada pelo grupo. Ao longo das atividades propostas levantaram-sequestões quanto à diversificação das peças artesanais produzidas,valoração da qualidade artística, os significados do talento e dacriatividade do artesão e a beleza de um bem natural transumano, alémde apresentação de oportunidades de participação em intercâmbios ecomercialização em nível regional, como a Festa da Banana em SantoAntônio da Patrulha. Quanto ao destino dos papéis e teares produzidosnas oficinas, propôs-se uma discussão sobre o valor do processo coletivode criação, com materiais compartilhados por todos. Assim, procurou-seestimular uma apropriação coletiva, destacando a importância dobeneficiamento em grupos e fazendo-se um paralelo com o recursotambém público destinado ao projeto Agroculturas. Situação queoportunizou a discussão sobre economia solidária e organização de umgrupo de interesse centrado na atividade artesanal, prevendo acontinuidade destas atividades e articulando-as com outras iniciativas einstituições locais, como a Emater (responsável por outras ações deextensão em execução na região). Nas avaliações dos participantes,realizadas ao final das atividades, a partir de uma conversa facilitadapelos organizadores, buscou-se as motivações e idéias engendradas notrabalho. Isto possibilitou lançar alguns encaminhamentos a partir dasintenções de cada participante: geração de renda, pesquisa ou motivaçãoestética. A oficina revelou-se um momento importante para a articulaçãolocal (com sugestão de vendas em uma loja em Porto Alegre), naprodução de rótulos e etiquetas para produtos locais e na apropriação deespaços locais. Em geral, demonstrou-se interesse na continuidade dasnovas técnicas apresentadas, e diferentes níveis de percepção sobre arelação das atividades com o discurso conservacionista veiculado.Entretanto, entraves também estiveram presentes, como a baixafreqüência em relação às expectativas iniciais de público participante.Esta situação permitiu-nos uma aproximação e compreensão dasdinâmicas cotidianas locais, permeada pela dificuldade de ausentarem-sede seu trabalho diário, a suceptibilidade a intempéries do tempo e atensões relacionadas a gênero, uma vez que se tratava de um públicomajoritariamente feminino. Estas dificuldades levam-nos a concluir que arecept iv idade e permeabi l idade as novas técnicas propostasrelacionam-se a um processo de inserção à rotina diária das agricultorase às especificidades sócio-ecológicas locais. As visitas técnicas têmpermit ido observar que dentro do município há característ icasdiferenciadas das comunidades locais, ligadas à conformação ecológica esócio-cultural, nas quais as inovações inserem-se sob diferentes ópticas.Portanto, o artesanato configura importantes noções acerca de umsaber-fazer, de tradicionalidade e manejo ambiental, expondo categoriaslocais, variedade de anseios e forçando-nos a reconstruir propostas, umavez que discutir a proposição de manejos adequados leva-nos a atentarpara uma esfera ampla e à dinâmica que a tece. Fomos provocadas aaprender sobre os significados e representações construídas doartesanato enquanto arte, ferramenta de comunicação e cifra da históriade um grupo e, por este olhar, considerar as distintas perspectivas quantoao aproveitamento de recursos naturais, onde populações re-orientamsua forma de ver e se ver na relação com o outro e com seu meio.

EXPERIÊNCIAS COM O ARTESANATO NO CONTEXTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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