Relação mãe-bebê : comportamento, cognição e inflamação

Abstract

A relação mãe-bebê é um complexa interação entre dois indivíduos que pode trazer consequências no desenvolvimento infantil a longo prazo e aumentar o risco de psicopatologias. Alguns comportamentos maternos parecem ser mais benéficos para o desenvolvimento infantil, como a habilidade materna de perceber e se adequar às demandas de seu bebê, ter afeto positivo em relação a ele e a forma como a mãe o olha, toca e fala com ele. A presente tese buscou analisar fatores que possivelmente influenciam a habilidade materna de se tornar sensível às necessidades de seu bebê, tendo como principais focos o processamento cognitivo e fatores inflamatórios maternos. Oitenta e duas mães foram visitadas em suas casas um mês após o parto a fim de analisarmos o comportamento materno através do manual Coding Interactive Behavior (CIB), verificarmos o processamento cognitivo materno através de uma tarefa go/no-go com faces de adultos e bebês expressando diferentes emoções como estímulo e realizarmos uma coleta de sangue para análise de interleucinas inflamatórias. Os três artigos produzidos para esta tese reforçam a importância do processamento cognitivo materno na interação mãe-bebê. O primeiro deles é um artigo de revisão sobre viés atencional para faces infantis, sugerindo que este viés atencional é influenciado por diversos fatores, incluindo a parentalidade. O segundo e terceiro artigos foram elaborados utilizando a pesquisa original realizada para a presente tese. No segundo artigo, é demonstrada uma correlação positiva entre maior engajamento do sistema atencional para faces de bebês em sofrimento e a habilidade materna de perceber, interpretar e responder adequadamente aos sinais emitidos pelo bebê. O terceiro artigo integra três diferentes aspectos maternos que parecem se relacionar com a sensibilidade materna: o tempo de reação materna na tarefa de processamento cognitivo, o nível sérico de interleucina 6 (Il-6) e o nível socioeconômico materno. A forma com que a mãe olha, toca, fala com seu bebê e seu afeto durante a interação se correlacionou com o maior engajamento para faces independentemente da emoção expressa. A Il- 6 esteve correlacionada negativamente com o comportamento materno sensível e positivamente com o tempo de reação na tarefa de processamento cognitivo. Os níveis periféricos de Il-6 e o comportamento materno diferiram conforme o nível socioeconômico materno, sendo que um nível socioeconômico mais baixo apresentou níveis mais elevados de Il-6 e menos comportamento materno sensível. 6 Esta tese reforça a ideia de que múltiplos fatores, como o processamento cognitivo, inflamação e nível socioeconômico influenciam a delicada relação mãe-bebê desde o pós-parto, e podem ser marcadores da vulnerabilidade dessa relação, ou de um comportamento materno menos sensível.The mother-infant relationship is a complex interaction that might have long-term impact on child development and risk for psychopathology. Some maternal behaviors seem to be essential to optimize infant development, such as the maternal ability to perceive and adjust to the demands of the newborn, a positive affect towards the child, and the way she looks, touches, and talks to her infant. The present thesis sought to analyze factors that influence the maternal ability to become sensitive to her child’s needs, having as main focuses the maternal cognitive processing and maternal inflammatory factors. Eighty-two mother and infant dyads were visited at home one month after delivery. In this encounter, mother-infant interaction was recorded for posterior analyses using the Coding Interactive Behavior (CIB) manual. Mothers also performed a go/no-go task with adult and infant faces expressing different emotions as stimulus as a measure of cognitive processing, and maternal blood was collected to analyze interleukins. The three articles produced for this thesis reinforce the importance of maternal cognitive processing for mother-infant interaction. The first article is a systematic review on attention bias towards infant faces, suggesting that this behavior is influenced by many factors including the parental status. The second and third articles used data of the original research carried out for the present thesis. In the second article we demonstrate a positive correlation between attentional engagement for infant faces of distress and the maternal ability to perceive, interpret and respond adequately to the signals emitted by the baby. The third article integrates three different aspects related to maternal sensitivity: maternal reaction time in cognitive processing task, serum levels of interleukin 6 (Il-6) and maternal income. The way the mother looks, touches and talks to her child, as well as her affect during the interaction correlates with greater engagement to infant and adults faces, independently of the expressed emotion. Il-6 was negatively correlated with sensitive maternal behavior and positively correlated with the reaction time in the cognitive processing task. Il-6 and maternal behavior differed according to maternal income, with lower income mothers having higher Il-6 levels and decreased scores of maternal behavior. This thesis reinforces the idea that multiple factors, such as cognitive processing, inflammation, and socioeconomic 8 status, influence the delicate mother-infant relationship since the early postpartum period, highlighting markers of vulnerability to altered maternal sensitivity

    Similar works