A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia

Abstract

This paper lays the grounds for an Amazonian haematology aiming to unlock the significance of blood with relation to gender, knowledge, and cosmology. Drawing guidance from Overing's critique of patriarchy theory and her examination of Piaroa understandings of menstruation, it explores cross-cultural ideas about the embodiment and gendering of spirits, thought and strength in the blood, arguing that blood is conceived as a relationship for it transports knowledge to all body parts, both uniting and differentiating men and women, and constituting the pivot of a person's existence along his or her lifecycle. Through an examination of indigenous practices of diet and seclusion, it shows that blood management stands at the core of Amazonian health. Bleeding is a female prerogative and an embodied remembrance of the primordial incest between Moon and his sister, which founds human memory and kinship. Nevertheless, men may be "like women" when they find themselves under the revenge of their enemy's blood, similar to women under the revenge of Moon. Bleeding sets fertility in motion, opening the communication between daily and other cosmological time-spaces, and exposing both genders to the threat of transformational multiplicity, alienation and death. Its interlacing with shamanism is therefore fundamental.Este artigo estabelece as bases para uma hematologia amazônica com a finalidade de compreender o significado do sangue com respeito a gênero, conhecimento e cosmologia. Baseando-se na crítica da teoria do patriarcado elaborada por Overing e em seu estudo das concepções piaroa sobre a menstruação, este artigo explora comparativamente as idéias de vários povos amazônicos sobre como os espíritos, os pensamentos e a força se transformam em corpos diferenciados por gênero. Defende que o fluxo do sangue é concebido como uma relação, já que transporta conhecimentos a todas as partes do corpo, unindo, e ao mesmo tempo diferenciando, homens e mulheres, e constituindo o eixo central da existência de uma pessoa ao longo de seu ciclo de vida. Por meio do estudo das práticas de resguardo, dieta e reclusão, mostra que a manipulação do sangue ocupa um lugar central na saúde amazônica. Sangrar é uma prerrogativa feminina e a lembrança incorporada nas mulheres sobre o incesto primordial entre Lua e sua irmã, que fundamenta a memória e o parentesco humanos. No entanto, os homens também "parecem mulheres" quando ficam sob a vingança do sangue de seus inimigos, assim como as mulheres sob a vingança de Lua. O sangrar põe a fertilidade em movimento, abrindo a comunicação entre o tempo cotidiano e outros espaços-tempos cosmológicos, expondo ambos os gêneros ao perigo da multiplicidade transformacional, à alienação e à morte. Sua relação com o xamanismo é, portanto, fundamental

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