Este artigo é produto parcial da pesquisa intitulada Mulher difamada e mulher defendida no pensamento medieval: textos fundadores, que integra a Rede Goiana de Pesquisa sobre a Mulher na Cultura e na Literatura Ocidental da Fapeg (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás). A pesquisa, sob minha coordenação, recebeu apoio financeiro dessa instituição de fomento para o período de 2013-2014. É também produto de plano de trabalho de projeto de pesquisa relacionado ao tema e intitulado A mulher na visão dos Padres da Igreja e do seu legado medieval: estudo e leitura de textos fundamentais, desenvolvido em estágio de pósdoutorado em 2013, com bolsa da Fapeg, junto ao Programa de Pós-Doutorado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sob a supervisão da Profa. Dra. Maria do Amparo Tavares Maleval.A preocupação dos primeiros séculos do cristianismo com a aparência das mulheres constitui um tema recorrente na chamada literatura patrística, cuja doutrina se fundamentava numa visão de jurisdição teológica e patriarcalista, comprometida com certas posturas e atitudes tendenciosamente misóginas que viam a mulher como propensa ab origine ao disfarce e à adulteração da sua imagem criada por Deus. Nessa primeva percepção cristã do feminino, destaca-se Tertuliano (c. 160-c. 225) como um autor de um discurso moralista fortemente religioso que submete o vestuário e o ornamento femininos a preceitos e prescrições teologicamente constituídos. Este artigo propõe discutir os principais aspectos retóricos dessa cosmetologia teológica que se caracteriza como asceticamente misógina em Tertuliano.The concern of the early centuries of Christianity about the appearance of women is a recurring theme in the so-called patristic literature, whose doctrine was based on a vision of theological and patriarchal jurisdiction committed to certain postures and attitudes tendentiously misogynistic that had seen the woman as prone ab origine to disguise and adulteration of her image created by God. In this primeval Christian perception of the female, Tertullian (c. 160-c. 225) stands out as an author of a moralist discourse strongly religious which submits female clothing and ornaments to precepts and prescriptions theologically constituted. This article proposes to discuss the main aspects of the rhetoric of this theological cosmetology which characterizes itself as ascetically misogynist in Tertullian