Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.Concluímos que o ensino da arquitectura é, no período em questão,
instável, sobrecarregado e desadequado. Procurava formar um “arquitecto
investigador”, com isso havia uma certa sobrecarga disciplinar, nomeadamente de
cadeiras das áreas das ciências socais e exactas, para além de que estas não
tinham uma interligação adequada com as disciplinas essenciais do curso e que
desconsideravam o lado artístico do curso. Questiona-se o ensino moderno
implementado pela reforma de 57 que chega sete anos depois de ser proposto e
que vem desactualizado pois no panorama do debate arquitectónico os ditames
modernos são questionados, provocando debates e contestações sobre a
formação do arquitecto e a sua função na sociedade. A Reforma de 57, acaba por
não ser bem aceite nem os alunos nem a nova geração de professores,
provocando divergências entre “duas gerações” de professores, estes e os
mestres residentes.
Manuel Graça Dias entra na ESBAL em 1970, neste período de
instabilidade da escola em que se verifica, paralelamente uma crise instaurada na
universidade. Apesar se terem sido tomadas algumas medidas que tentaram
reformular os cursos de arquitectura, o regime ditatorial não permitiu que essas
medidas fossem sucedidas. O país encontra-se socialmente instável e a
instabilidade reflecte-se também no ensino. As manifestações dentro e fora da
escola culminam com a Revolução de Abril de 74, e o curso de arquitectura é
encerrado nesse ano. Os alunos são “abandonado” à sorte, até que a escola volte
a abrir no novo ambiente democrático, o que acontece em 1976. Neste ambiente,
que se reflecte no ensino, surgiu a possibilidade de um encontro entre a escola e
a nova cultura emergente. Manuel Vicente abriu novos horizontes a Manuel Graça
Dias quando, através das suas aulas, levou a cultura pós-moderna para a ESBAL.
Os ideais do pós-modernismo, em que o técnico e o simbólico se encontram num
misto de arte e ciência, reconciliaram Manuel Graça Dias com o curso e com a
Arquitectura.
De facto, pudemos constatar com a realização da presente dissertação
que que a influência do professor na escola será, de todas elas, a mais importante. Apesar da situação de instabilidade da escola enquanto Manuel
Graça Dias a frequenta, a reflexão sobre a sua obra confirma que as influencias
que assimilou do seu tempo de estudante terão sido de professores, mais do que
o ensino que se queria protagonizado na escola. Tendo em conta que cada ano é
constituído por um corpo de docentes variados e que, normalmente, muda de ano
para ano, o estudante de arquitectura tem várias hipóteses de se identificar
melhor com um deles. O que aconteceu com MGD, no primeiro e último ano do
curso, com professores que não estavam presos ao comodismo e burocracia da
escola, e que foram introduzindo algum dinamismo nas suas aulas: Lagoa
Henriques através do seu total despreconceito de desenho, em que tudo é
desenhável, “mandado” os alunos desenhar para a rua, introduzindo a novidade
do Diário Gráfico; e Manuel Vicente, com as suas aulas faladas e histórias
contadas com os alunos à volta da mesa, introduziu o pós-modernismo e a cultura
americana na ESBAL.
Desde que se formou que contribui para a crítica e divulgação da
Arquitectura Portuguesa, tendo publicado em várias revistas e jornais, produzindo
vários livros, e participando também em programas radiofónicos e televisivos de
divulgação de arquitectura. A sua crítica terá evoluído em três fases, começando
num registo agitador, depois mais romântico e finalmente mais factual. Este início
agitador pode ter ocorrido pela abertura excepcional que a recém democracia
proporcionava, pelo enorme fascínio que Graça Dias tem pela arquitectura e pela
vida, um legado introduzido por Manuel Vicente. Da mesma maneira que o
“boom” da democracia atenuou, Manuel Graça Dias atenua a sua agitação,
focando-se agora na sua paixão pela profissão. A maturação da profissão, da
crítica e do próprio pós-modernismo revela-se numa escrita mais factual. Em
todas elas a reflexão é sobre uma condição pós-moderna.
Ao nível da obra arquitectónica MGD começa cedo e em força, sendo que
esta é vasta em quantidade e tipos de projecto: entre recuperações, arquitectura
de interiores, programas privados e públicos de vários tipos. Destas obras,
fizemos um estudo sobre as de cariz escolar, das quais concluímos que há um
experimentalismo constante (experimenta o claustro, o pátio, a mega estrutura, a
transparência, os pilotis, o desconstrutivismo), que ligamos a derrapagem
construtiva; uma arquitectura saturada e inclusiva (influências moçambicanas, macaenses, americanas, brasileiras) que ligamos a surto ecléctico; e um
acompanhamento constante do projecto pelo desenho (as formas ambíguas, as
formas dinâmicas, o surrealismo e o expressionismo, relação interior/exterior) que
ligamos a epidemia da forma.
Em reflexão final podemos concluir que o ambiente de crítica à reforma na
ESBAL poderá ter fomentado o espírito crítico de Manuel Graça Dias. A sua
paixão pelo desenho é revigorada pelas aulas de Lagoa Henriques. As
experiências extra curriculares deram-lhe uma abertura para o mundo das artes,
teatro, cinema, música, pintura e desenho que, à excepção da última, não
estiveram patentes no seu curso, e que reforçam o pluralismo da sua arquitectura.
O pensamento pós-modernista chega-lhe através de Manuel Vicente que o vem
reconciliar com a arquitectura, através dele conhece uma série de arquitectos
ligados este pensamento. O seu eclectismo deriva de todas estas experiências e
ainda das influências moçambicanas, da sua infância; pelas experiências
americanas, através de Manuel Vicente e pelas experiências macaense, através
do seu estágio com Manuel Vicente. Nos seus projectos também se denotam
influências da arquitectura brasileira, de características mais plásticas que
permitem dramatizar os espaços. O seu experimentalismo constante, que em
certa medida confere singularidade aos projectos de Manuel Graça Dias, poderá
ser também um reflexo do seu tempo de escola, visto que «a formação
arquitectónica, escolar, de MGD foi maioritariamente autodidacta, anárquica e
ecléctica»201.
«Escrevendo regularmente na imprensa e tendo também actividade
intensa como arquitecto, Graça Dias estabelece uma relação vital entre a teoria e
a prática que lhe vai permitindo configurar um pós-modernismo com raízes na
cultura portuguesa