Introdução: A idade é um importante factor
prognóstico em contexto de síndromes
coronárias agudas (SCA). A estratégia
invasiva tem demonstrado benefício em
muitas populações com SCA sem
supradesnivelamento de ST; contudo,
continua a ser um tema controverso em
doentes mais susceptíveis a complicações
relacionadas com o procedimento, como os
idosos, uma população sub-representada nos
estudos sobre a matéria.
Objectivo: Comparar o prognóstico intra-
-hospitalar e a longo prazo de doentes idosos
com SCA sem supradesnivelamento do
segmento ST submetidos a estratégia invasiva
versus estratégia conservadora. Pretendemos
ainda caracterizar os doentes seleccionados
para uma abordagem inicialmente invasiva.
Métodos: Estudo observacional, longitudinal,
prospectivo e contínuo, incluindo 307
doentes com idade superior a 75 anos
consecutivamente hospitalizados por SCA
sem supradesnivelamento de ST. Foram
formados dois grupos de acordo com a
abordagem adoptada: Grupo A (n=91) –
doentes submetidos a uma estratégia invasiva
precoce; Grupo B (n=216) – doentes
submetidos a uma estratégia conservadora.
Procedeu-se a um seguimento clínico mediano de 18 meses.
Resultados: Os doentes abordados de forma
invasiva eram mais novos (79,8 ± 3,2 versus
81,4 ± 3,9 anos, p<0,001), mais
frequentemente do sexo masculino (63,7
versus 50,9%, p=0,04), tinham maior
incidência de doença coronária prévia,
receberam clopidogrel mais frequentemente e
tiveram um internamento mais longo (5,8 ±
3,1 versus 4,9 ± 2,6 dias, p=0,01). Os doentes
submetidos a estratégia conservadora
apresentaram classes de Killip superiores e
foram tratados mais frequentemente com
diuréticos durante a hospitalização. O grupo
submetido a estratégia invasiva apresentou
uma maior incidência de complicações intra-
-hospitalares (13,6 versus 4,9%, p=0,009),
não tendo havido diferenças significativas
nas taxas de mortalidade. A análise
multivariada mostrou que a estratégia
invasiva foi preditora independente de
morbilidade intra-hospitalar (OR=3,55). No
seguimento clínico verificou-se que as taxas
de MACE (56,3 versus 33,3%, p=0,002) e
morte (32,5 versus 13,8%, p=0,007) foram
superiores no grupo que foi submetido a
estratégia conservadora e a estratégia
invasiva foi um dos factores protectores
relativamente a incidência de eventos
cardíacos adversos major (MACE); o mais
potente preditor de mortalidade foi a fracção
de ejecção do ventrículo esquerdo <50%.
Conclusões: Apesar da estratégia invasiva ter
estado associada a um aumento de
complicações intra-hospitalares, condicionou
um melhor prognóstico a longo prazo. Estes
dados mostram que a idade não deve ser um
critério isolado na selecção de doentes para o
uso de estratégia invasiva e são a favor da
sua realização precoce na população idosa.Introduction: Age is an important prognostic
factor in acute coronary syndromes (ACS).
An invasive strategy has been shown to benefit
many non-ST elevation ACS populations;
however, there is some controversy
regarding patients who are more susceptible
to procedure-related complications, such as
the elderly, an under-represented population
in the studies on this subject.
Objective: We aimed to compare the in-hospital
and long-term prognosis of elderly
patients with non-ST elevation ACS treated
with either invasive procedures or a conservative
strategy, and to characterize the
patients selected for an early invasive
approach.
Methods: This observational, longitudinal,
prospective and continuous study included
307 patients aged over 75 years consecutively
admitted for non-ST elevation ACS.
They were divided into two groups, according
to the approach adopted: Group A
(n=91) – patients treated with an early invasive
strategy; and Group B (n=216) – patients treated conservatively. The median
clinical follow-up was 18 months.
Results: The subjects who were treated invasively
were younger (79.8±3.2 vs. 81.4±3.9
years, p<0.001) and more often male (63.7
vs. 50.9%, p=0.04), had a higher incidence
of previous coronary artery disease, were
more often treated with clopidogrel, and had
a longer hospital stay (5.8±3.1 vs. 4.9±2.6
days, p=0.01). Patients managed conservatively
presented higher Killip class, and
were more often treated with diuretics during
hospitalization. The group treated by an
invasive approach presented a higher incidence
of in-hospital complications (13.6 vs.
4.9%, p=0.009), but there were no significant
differences in mortality rates.
Multivariate analysis showed that an invasive
strategy was an independent predictor
of in-hospital morbidity (OR=3.55).
In follow-up, rates of MACE (56.3 vs.
33.3%, p=0.002) and death (32.5 vs.
13.8%, p=0.007) were higher in the group
that received conservative treatment, and an
invasive strategy was a protective factor
against MACE; the strongest predictor of
mortality was left ventricular ejection fraction
<50%.
Conclusions: Although an invasive strategy
was associated with increased in-hospital
complications, it was shown to confer a better
long-term prognosis. These data show
that age should not be the only criterion in
selecting patients for an invasive strategy
and favor early adoption of this approach in
the elderly