A monografia publicada corresponde integralmente à dissertação de mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra orientada pelo Doutor José d' EncarnaçãoEstuda-se integralmente o material epigráfico romano da região de Bragança, a qual,
em termos administrativos hodiernos, se cinge aos concelhos de Bragança, Macedo de
Cavaleiros e Vinhais.
Reportam-se ao século XVII as primeiras referências epigráficas relativas ao território
bragançano, mas só a partir do final de Oitocentos é que se concentram esforços para estudar
e valorizar científica e patrimonialmente as inscrições regionais. Em catálogo actualizado
e rigoroso englobam-se todos os documentos epigráficos referentes à região, incluindo
alguns inéditos, bem como leituras corrigidas. Constam aí 138 epígrafes (incluídos fragmentos),
além de uma falsificação, que são estudadas segundo critérios multifacetados,
desde a sua materialidade e execução até aos conteúdos escritos e iconográficos. São as inscrições
funerárias que predominam, sobretudo as associadas a estelas, mas também se documentam
textos votivos, em altares consagrados a divindades indígenas ou clássicas, honoríficos,
registados em pedestais para louvor de imperadores, e viários, presentes nos marcos
da via XVII do Itinerário de Antonino que corria por este território estabelecendo a ligação
entre Bracara Augusta e Asturica Augusta, duas das três capitais conventuais do Noroeste
peninsular, tendo sido sob a alçada desta última urbe que no contexto do quadro administrativo
romano ficou o território visado neste estudo.
Caracterizam-se isoladamente as diferentes categorias de monumentos e no caso das
estelas chega a ensaiar-se uma tipologia baseada na estrutura da sua ornamentação e, acessoriamente,
em critérios epigráficos, defendendo-se a existência na depressão de Bragança
de uma officina epigráfica directamente relacionada com um dos grupos tipológicos estabelecidos.
Os textos epigrafados são também objecto de análise, sendo a simplicidade da sua
estrutura o traço mais marcante: os votivos, endereçados a Aernus, Bandua, Laesus ou a Júpiter,
completam-se com a menção do dedicante e uma fórmula final, por vezes pouco corrente;
os funerários raramente vão além da identificação do defunto, da indicação da sua
idade, não sendo usados com regularidade os habituais formulários. Aspectos técnicos da
produção epigráfica, como a paginação ou os tipos de letra, são também abordados.
Pesem embora as dificuldades experienciadas relativamente à datação das inscrições,
admite-se que a produção epigráfica local se desenvolve a partir de meados do século I d.C.,
continuando até ao século IV, ainda que o documento epigráfico mais antigo, que reveste
carácter oficial, date de 2 a.C.
A análise da antroponímia e das fórmulas onomásticas mostra um claro predomínio
de população livre, autóctone, que juridicamente considerámos em larga maioria peregrina.
O carácter rural e periférico da região de Bragança na época romana, ainda que propício
a permanências, não inviabilizou a chegada de influências externas. Do ponto de
vista artístico, as estelas funerárias assumem-se como o tipo de monumento mais exuberante
e nelas se imiscuem influências iconográficas indígenas com outras de sabor alóctone,
introduzidas pela via da presença romana; se na esfera simbólica parecem veicular uma concepção
escatológica baseada na imortalidade da alma e num destino astral dos mortos, são
iconograficamente o espelho privilegiado de uma aculturação que está também patente noutros
aspectos que igualmente se desprendem da análise epigráfica na sua globalidade,
como, por exemplo, o onomástico.
O objectivo básico do trabalho passa pelo conhecimento tão rigoroso quanto possível
das fontes epigráficas regionais, mas de forma alguma se esgotam as possibilidades de análise
deste manancial.This monograph is a comprehensive study of Roman epigraphic material found in the
region of Bragança, which, in present administrative terms, encompasses the municipalities
of Bragança, Macedo de Cavaleiros and Vinhais.
The first epigraphic references to the territory of Bragança date to the 17th century.
However, it is only toward the end of the 1800’s that concentrated efforts were made to study
the regional inscriptions and to accord them scientific and patrimonial value. All the epigraphic
documents referring to the region, including some which are unpublished, as well
as corrected readings are presented here in an accurate and updated catalogue. The catalogue
contains 138 inscriptions (including fragments) and one forgery, which are treated
according to different criteria – from the material and methods used in their execution to
the iconographic and written contents. Funerary inscriptions predominate, especially those
associated with the stelae. Also documented are votive texts on altars consecrated to indigenous
or classical divinities, honorific texts registered on pedestals in praise of the emperors,
and milestone-inscriptions on the route XVII of the Antonine Itinerary which ran
through this territory linking Bracara Augusta and Asturica Augusta – two of the three conventual
capitals of the Northwest of the Peninsula. Within the context of the Roman administrative
plan, the territory considered in this study came under the jurisdiction of Asturica
Augusta.
The different categories of monuments are characterized independently and, in the
case of the stelae, a typology based on the structure of their ornamentation is attempted.
Based on epigraphic criteria, one can defend the existence in the basin of the Bragança area
of an epigraphic officina directly related to one of the established typological groups. The
epigraphic texts are also subject to analysis, the most striking feature of which is the simplicity
of their structure: the votives, addressed to Aernus, Bandua, Laesus or Jupiter are
completed with a reference to the offerer and a final formula, at times very unusual. The
funerary inscriptions rarely go beyond the identification of the deceased and his age in
which the habitual formulae are not regularly used. Technical aspects of epigraphic production,
such as pagination or letter types, are also considered.
Although difficulties were encountered with respect to the dating of the inscriptions,
one can say with some certainty that local epigraphic production developed from the middle
of the 1st century AD to the 4th century, even though the oldest epigraphic document
endowed with an official character is dated to year 2 BC.
The analysis of personal names and of onomastic formulae show a clear predominance
of a free, indigenous population, which, juridically speaking, we consider largely peregrine.
The rural and peripheral character of the region of Bragança in Roman times, although
favourable to permanency, did not render the arrival of external influences impossible. From
an artistic point of view the funerary stelae are considered to be the most exuberant type of
monument in which indigenous iconographic influences are mixed with others of a foreign
flavour introduced through the Roman presence. If in the sphere of symbolism they appear
to transmit an eschatology based on the immortality of the soul and on the astral destiny of
the dead, they are iconographically the reflection of an acculturation that is also disengaged
from epigraphic analysis in its globality as, for example, the onomastic.
The basic objective of this work is to present the regional epigraphic sources as accurately
as possible, but in no respect does it exhaust the possibilities for future analysis of this
abundant source