Memórias de devoção e saberes ancestrais afrodiaspóricos: A Irmandade de São Benedito da Casa Verde, São Paulo (SP)

Abstract

Mesmo diante do violento processo de desterritorialização vivido pelas inúmeras comunidades africanas no contexto da dominação colonial europeia, práticas e saberes ancestrais foram ressignificados e reelaborados de forma a impregnar o tecido social das culturas negras das Américas. Nesta perspectiva, este artigo insere-se em um conjunto de reflexões que visam exaltar a importância da preservação de memórias afrodiaspóricas no Brasil. Para tanto, particulariza-se um território negro no município de São Paulo, o bairro da Casa Verde na zona norte da cidade. Com base na História oral e na pesquisa de campo, o objetivo central da presente pesquisa é sugerir possíveis traduções acerca da presença e permanência de ancestralidades negro-africanas na urbe paulistana a partir das narrativas compartilhadas e dos trabalhos de memória de Lucinda de Oliveira Marcelino. A colaboradora/narradora é filha de uma das fundadoras da Irmandade de São Benedito da Casa Verde, inaugurada em 1941. O acesso às memórias reconstruídas de Dona Lucinda permitem sinalizar a presença de práticas ancestrais marcadas por cosmovisões herdadas e protagonizadas por mulheres. Tais concepções constroem identidades afirmadas que singularizam as experiências negras na metrópole, expressando valores civilizacionais e extraocidentais comunitários fundamentais à humanidade. Palavras-chave: Casa Verde; Protagonismos femininos; Irmandades negras; Práticas ancestrais; Territórios afrodiaspóricos.Even in the face of the violent deterritorialization process experienced by numerous African communities within the context of the European colonial domination, ancestral practices and knowledge have been resignified and reformulated to pervade the fabric of society of Black cultures in the Americas. Hence, this article is part of a set of reflections aimed at praising the importance of preserving Afro-diasporic memories in Brazil. To do so, we focus on a black territory in the city of São Paulo, the Casa Verde neighborhood, located in the Northern Zone. Based on oral history and on fieldwork, our main objective is to suggest possible interpretations on the presence and permanence of Black-African ancestry in the São Paulo territory, considering the narratives and studies on memory shared by Lucinda de Oliveira Marcelino. The collaborator/narrator is the daughter of one of the founders of the São Benedito da Casa Verde Fraternity, which was founded in 1941. Evoking the reconstructed memories of Mrs. Lucinda allows indicating the presence of ancestral practices marked by women’s protagonisms and inherited cosmovisions. Such conceptions create stated identities that particularize black experiences in the metropolis and express values of civilization, both community-related and in addition to those of the Western culture, which are paramount to humanity. Keywords: Casa Verde neighborhood; Women’s protagonisms; Black fraternities; Ancestral practices; Afro-diasporic territories.  Incluso ante el violento proceso de desterritorialización experimentado por las innumerables comunidades africanas en el contexto de la dominación colonial europea, las prácticas ancestrales y el conocimiento fueron resignificados y reelaborados para impregnar el tejido social de las culturas negras de las Américas. En esta perspectiva, este artículo es parte de un conjunto de reflexiones que apuntan a resaltar la importancia de preservar los recuerdos afrodisporicos en Brasil. Para este fin, es un territorio negro en la ciudad de São Paulo, el barrio de Casa Verde en el norte de la ciudad. Basado en la historia oral y la investigación de campo, el objetivo principal de esta investigación es sugerir posibles traducciones sobre la presencia y permanencia de la ascendencia africana negra en la ciudad de São Paulo basadas en narrativas compartidas y trabajos de memoria de Lucinda de Oliveira Marcelino. La colaboradora / narradora es hija de uno de los fundadores de la Hermandad de San Benito de Casa Verde, inaugurada en 1941. El acceso a los recuerdos reconstruidos de doña Lucinda nos permite señalar la presencia de prácticas ancestrales marcadas por cosmovisiones heredadas y dirigidas por mujeres. Tales concepciones construyen identidades afirmadas que singularizan las experiencias negras en la metrópoli, expresando valores comunitarios civilizacionales y extra occidentales fundamentales para la humanidad. Palabras clave: Green House; Protagonismos femeninos; Hermandades negras; Prácticas ancestrales; Territorios Afrodiaspóricos

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