Resenha de: FERNANDO, Ajith. Chamados para dor e alegria: o valor do sofrimento para a vida cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009. 221p

de Oliveira, Wanderson Fernandes Modesto

Portuguese

Escola Superior de Teologia, São Leopoldo: Periódicos da Faculdades EST

Protestantismo em Revista, São Leopoldo, RS, v. 28, maio-ago. 2012  Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo da Faculdades EST Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/nepp 135  Chamados para dor e alegria  Por Wanderson F. M. de Oliveira Mestre em Teologia Centro de Treinamento Teológico Harland Graham Seminário Teológico Evangélico de Natal) wandersonf81@gmail.com  Resenha de: FERNANDO, Ajith. Chamados para dor e alegria: o valor do sofrimento para a vida cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009. 221p.  Este livro vai de encontro com a correnteza teológica que hoje atravessam as igrejas evangélicas, pois nelas tem se tornado comum o pensamento de que é para o crente em Jesus dar ênfase em reivindicar seus direitos perante Deus, em benefício de si próprio, de modo que a dor, o sofrimento, o cansaço, o desgaste físico e as provações possam ser evitados. Pregadores bem conhecidos, cantores e grupos musicais que vendem bastante no mercado musical têm ensinado aos discípulos como conquistar vitórias, prosperidade financeira, comodidade, prestígio e sucesso, dentre outros. Os temas de suas mensagens têm girado em torno destas perspectivas. Já para Ajith Fernando, ao contrário da cosmovisão descrita acima, os discípulos necessitam se preparar sim, mas para a dor, o sofrimento, as tribulações e as provações na vida porque são chamados pelo Senhor para as mesmas. O autor é missionário no Sri Lanka, obteve o Th.M e o D.D no Seminário Teológico Asbury,  é o diretor da organização Jovens para Cristo e junto com sua esposa tem se dedicado ao ministério em regiões carentes no meio urbano. Foi um dos preletores do 3º Congresso Mundial de Evangelização de Lausanne, realizado na África do Sul em 2010. O livro é dividido em quatro partes, contendo ao todo 30 breves capítulos. Na Introdução, Fernando sintetiza magistralmente a teologia prevalecente atualmente em muitos crentes: [...] devido à riqueza e ao avanço tecnológico do século vinte e um, muita gente vê o conforto e a comodidade como direitos humanos essenciais. Assim, a mensagem bíblica sobre a essencialidade da cruz tem se transformado em algo culturalmente incompatível com o modo de pensar de muitas pessoas nos dias de hoje (p. 11). Deste modo, Fernando desenvolve o seu texto argumentando que: (1) a alegria e o sofrimento são básicos para o cristianismo (caps. 1 ao 8); (2) o sofrimento nos aproxima de Cristo (caps. 9 ao 13); (3) o nosso sofrimento atua em benefício da igreja (caps. 14 ao 21) e (4) os líderes são servos da igreja (caps. 22 ao 29).  Utilizando Colossenses 1.24-29 como passagem cardeal para a fundamentação de sua tese, Ajith Fernando discorre sobre os sofrimentos na vida do apóstolo Paulo, como exemplo para nós no que se refere à possibilidade de também sermos submetidos à dor e aos diversos tipos de sofrimentos inerentes à vida cristã e de como precisamos reagir perante eles, assim como foi com Paulo em sua época. Fernando expõe que para o NT o sofrimento é acompanhado pela alegria (p. 13), aparentando uma contradição. Ele, então, descreve o que é a verdadeira alegria (p. 24-25) e prazer (p. 31-35) produzidos pelo Senhor, segundo a perspectiva bíblica. A seguir, serão tratadas as partes principais do livro. O autor ensina sobre a importância é o proveito do lamentar-se perante o Senhor (cap. 4), a necessidade de fé e de perseverança diante do Protestantismo em Revista, São Leopoldo, RS, v. 28, maio-ago. 2012  Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo da Faculdades EST Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/nepp 136 sofrimento e os benefícios decorrentes (cap. 5), a renúncia a tudo na vida, coisa difícil para muitos, já que a pós-modernidade os tem condicionado a acreditarem que, para serem felizes, torna-se imprescindível que tenham seus direitos e expectativas satisfeitas (cap. 6). O autor defende que uma visão inadequada acerca do sofrimento é um “ponto cego” na teologia das igrejas do ocidente (cap. 7), pois: A ‘boa vida’, o conforto, a conveniência, uma vida sem sofrimento se tornaram, nas sociedades ocidentais, necessidades que as pessoas vêem como seus direitos básicos. Se elas não têm acesso a esses direitos, acham que alguma coisa está errada. Assim, quando aparece algum inconveniente, alguma dor, as pessoas fazem todo o possível para evitá-los ou aliviá-los. Um dos resultados dessa atitude é que isso impõe uma severa restrição ao crescimento espiritual, pois Deus pretende que cresçamos por meio das tribulações (p. 62). Fernando escreve que existe uma profunda comunhão com Cristo que só é possível experimentar através do sofrimento (cap. 9), que segundo Filipenses 3.10, quando sofremos com Cristo, tornamo-nos como Ele (cap. 10). Ajith Fernando chama a atenção de que, assim como Cristo sofreu a vergonha da morte na cruz para nos salvar, seus seguidores também devem esperar passar por vergonha (cap. 12). No que se refere aos benefícios do sofrimento, baseando-se em 2 Coríntios 4.8-11, Fernando mostra que a alegria e o sofrimento andam juntos na vida cristã, que a dor nos aproxima mais de Cristo e que o sofrimento produz um crescimento saudável da igreja (cap. 14). Analisando Hebreus 5.8-9 (cap. 17), Fernando entende que Jesus, mesmo sendo filho de Deus, obedeceu e sofreu por isso. Para o autor, “havia uma obediência mais profunda e um novo nível de maturidade, de aperfeiçoamento, que ele somente alcançaria por meio do sofrimento” (p. 122). Mais adiante, ele escreve que: “[...] quando nos depararmos com uma tribulação inesperada que acreditamos não merecer, afirmamos que Deus a permitiu para que possamos nos tornar pessoas mais profundas” (p. 124) Ajith Fernando analisa 2 Coríntios 6.4-10 e lista os dez fatores que faziam parte dos sofrimentos de Paulo, os nove fatores que compõem a sua santidade e as nove causas de seus sofrimentos (cap. 18). O autor trabalha sobre o significado bíblico de servir ao Senhor e a igreja e a relação com a dor e o sofrimento (cap. 22). Ele cita o testemunho de homens de Deus do passado (Lutero e João Calvino), de como passaram por muitos cansaços e lutas no exercício ministerial, quando procuravam servir ao Senhor, interagindo intensamente entre as pessoas de sua época. Fernando diz: “precisamos passar por frustrações capazes de trazer profundidade, frustrações que são decorrentes de um estilo de vida encarnacional, vivido entre as pessoas a quem servimos. A utilização de nossos dons deveria brotar desse estilo de vida de cuidado para com as pessoas” (p. 158). No último capítulo (30), Fernando faz uma espécie de síntese daquilo que escreveu nos capítulos anteriores, extrai lições sobre o sofrimento e morte de Dietrich Bonhoeffer e finaliza com o comentário: “o mais importante é sempre a nossa relação de amor com Deus, por meio de Cristo. Se o sofrimento nos ajudar a chegar mais perto de Jesus e a sermos mais eficazes no seu serviço, então vamos recebê-lo com alegria, como fez Paulo” (p. 220). O livro é escrito de modo didático, com adequada profundidade teológica e o autor cita muitos exemplos de fatos (alguns pessoais) e que tornam interessante cada capítulo. Os leitores certamente irão se identificar com os exemplos reais ali contidos. Recomendo, sem reservas, pois é uma obra imprescindível para a época atual (que passa por muitas turbulências de natureza econômica financeira, social, política e religiosa), tendo em vista a necessidade dos verdadeiros discípulos de Cristo de se prepararem para assumirem o seu chamado para a dor e a alegria, já que, como Paulo exortou a Timóteo: “sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus” (2Tm 2.3).  [Recebido em: fevereiro 2012 e aceito em: agosto 2012] 

Chamados para Dor e Alegria

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