SÃO GERALDO E O CULTO DOS SANTOS GUERREIROS NA FRANÇA MERIDIONAL (SÉCULOS X-XII)

Abstract

Se a Vita Geraldi se inscreve nas novas concepções do gênero hagiográfico inauguradas pelo século X, logo, ela se constituiria em uma virada na espiritualização da cavalaria? Algumas considerações, limitadas aqui ao Midi francês, sobre a devoção aos santos guerreiros na era senhorial ajudarão a colocar em perspectiva o alcance da obra de Odon de Cluny. É necessário, para isso, distinguir os santos legionários do Baixo-Império e os guerreiros pós-carolíngios cujo culto foi desenvolvido pelas igrejas locais. O artigo mostra como apareceu progressivamente, entre os séculos X e o final do século XI, uma verdadeira valorização do uso das armas, sendo necessário recolocá-la em um contexto mais global de sacralização da guerra. Se a ética pacifista de Geraldo se adéqua mal a este quadro, isso não impede que sua Vita fosse interpretada, um século e meio após sua redação, em um sentido mais marcial. Os santos promovidos pelos meios reformadores do século XII puderam, em compensação, receber uma educação militar e fazer uso de suas armas, mas este aspecto de suas vidas serve mais para ilustrar as imperfeições dos cavaleiros do século, aos quais somente a penitência e a conversão completa poderiam oferecer a salvação. Na idade da reforma gregoriana e do novo monaquismo, a Igreja admite com mais dificuldade que os guerreiros seculares possam verdadeiramente ascender à santidade. Qual foi o alcance da devoção aos santos guerreiros? Se eles ofereceram modelos e temas de devoção às aristocracias locais, os santos legionários, como os bellatores carismáticos dos séculos IX-XI, igualmente suscitaram cultos populares. O conteúdo das devoções foi, então, polissêmico e a ética marcial jamais foi exclusivamente favorecida, tanto que, ao contrario, santos originalmente pacíficos foram chamados a proteger as ações belicosas dos milites. Muitas vitae, escritas nos séculos XI e XII imergem em uma atmosfera épica que permite se interrogar, enfim, sobre a recepção e sobre a perenidade do modelo do miles cristão proposto pela Igreja. O final do século XII já promovera outros tipos de santidade laica e, com exceção de alguns santos legionários, particularmente populares ou de raros bellatores erigidos em heróis épicos, os santos guerreiros conheceram finalmente um sucesso relativamente limitado no tempo

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