TÍTULO: Associação entre a Função Reflexiva e a Funcionalidade Global em Pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline OBJETIVO: Avaliar a associação entre a função reflexiva e a funcionalidade global em pacientes diagnosticadas com Transtorno de Personalidade Borderline no momento da admissão na Internação Psiquiátrica, bem como sua relação com sintomas e mecanismos de defesas utilizados. DELINEAMENTO: Estudo transversal. LOCAL DA PESQUISA: Enfermaria de pacientes do sexo feminino do Hospital Psiquiátrico São Pedro em Porto Alegre. PARTICIPANTES: Trinta e nove pacientes do sexo feminino que foram encaminhadas pelo Serviço de Avaliação e Triagem do Hospital Psiquiátrico São Pedro para a internação psiquiátrica que preencheram critérios positivos segundo o Structured Clinician Interview for DSM-IV Axis II Disorders (SCID-II) para o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline e que aceitaram participar da pesquisa. MÉTODOS: Aplicação, no momento da admissão hospitalar, das versões adaptadas e validadas para o Português brasileiro usando os seguintes instrumentos: escala SCID-II, para avaliação de traços e funcionamento da personalidade; Reflective Function Questionnaire (RFQ), para avaliação da função reflexiva; Escala de Avaliação Global do Funcionamento (GAF), que avalia funcionalidade; Symptoms Report Questionnaire 20 (SRQ-20), para avaliação de sintomas e Defense Style Questionnaire (DSQ40), para avaliar estilos e mecanismos de defesa. RESULTADOS: A idade da amostra variou de 19 a 57 anos (M= 30,03; DP=8,7), a média de anos de estudo foi de 8,97 anos (DP= 2,85). Na amostra pesquisada, 53,8% eram mulheres solteiras, 35,9% casadas, 7,7% divorciadas e 2,6% viúvas. Na baixa hospitalar, a GAF média foi 43,59 (DP=7) e o SRQ 7,67 (DP= 3,9). A média dos estilos defensivos foi: maduro 5,4 (DP=1,88), imaturo 5,04 (DP=1,49) e neurótico 5,13 (DP=1,52). Houve associação inversa entre a funcionalidade (GAF) e o nível de incerteza da mentalização (-0,458; p<0,01) e entre funcionalidade e uso de defesas neuróticas (-0,335; p <0,05). A gravidade dos sintomas (SRQ-20) teve associação com o uso de defesas imaturas (-0,445; p<0,01). A associação entre funcionalidade e nível de incerteza da mentalização permaneceu significativa, mesmo controlando para sintomas e estilo defensivo (p=0,002). CONCLUSÃO: Um menor nível de 9 incerteza (maior capacidade de mentalização) quanto a estados internos está associado à melhor funcionalidade nesses pacientes, mesmo quando controlando para sintomas, estilo defensivo e gravidade clínica. Sendo assim, a função reflexiva parece ter um papel central no prejuízo causado pelo transtorno de personalidade borderline. Tal achado aponta essa dimensão do funcionamento da mente como uma potencial área para a elaboração e implementação de intervenções que promovam melhor adaptação dessas pacientes em diferentes áreas de sua vida, inclusive na adesão ao tratamento.TITLE: Association between Reflective Function and Global Functionality in Patients with Borderline Personality Disorder OBJECTIVE: To evaluate the association between reflective function and global functionality in patients diagnosed with Borderline Personality Disorder at the time of admission of a Psychiatric Inpatient Unit, as well as association of these factors with symptoms and defensive style.. DESIGN: Cross-sectional study. RESEARCH LOCATION: Female Patients Unit of the São Pedro Psychiatric Hospital in Porto Alegre. PARTICIPANTS: Thirty-nine female patients who were referred by the Evaluation and Screening Service of the São Pedro Psychiatric Hospital for psychiatric hospitalization that met positive criteria according to the Structured Clinician Interview for DSM-IV Axis II Disorders (SCID-II) for the diagnosis of Borderline Personality Disorder and who agreed to participate in the research. METHODS: At the time of hospital admission, patients were evaluated by means of adapted and validated Brazilian Portuguese versions using the following instruments: SCID-II scale - to evaluate traits and personality functioning; Reflective Function Questionnaire (RFQ), for evaluation of reflective function; Global Assessment of Functioning (GAF), which evaluates functionality; Symptoms Report Questionnaire 20 (SRQ-20), for symptom assessment and Defense Style Questionnaire (DSQ40), to evaluate defensive styles and defense mechanisms. RESULTS: The age of the sample ranged from 19 to 57 years (M = 30.03; SD = 8.7), the mean number of years of study was 8.97 years (SD = 2.85). In the sample, we found 53.8% were single women, 35.9% were married, 7.7% were divorced and 2.6% were widows. At the admission, mean GAF was 43.59 (SD = 7) and SRQ 7.67 (SD = 3.9). The mean of the defensive styles were: mature 5.4 (SD = 1.88), immature 5.04 (SD = 1.49) and neurotic 5.13 (SD = 1.52). There was an inverse association between the functionality (GAF) and the level of uncertainty of mentalization (-0,458; p <0.01) and between functionality and use of neurotic defenses (-0.335; p <0.05). The severity of symptoms (SRQ-20) was associated with the use of immature defenses (-0.445; p<0,01). The association between functionality and level of uncertainty of mentalization remained significant, even controlling for symptoms and defensive style (p=0,002) 11 CONCLUSION: A lower level of uncertainty (greater ability to mentalize) as to internal and external states was associated with better functionality in these patients, even when controlling for symptoms, defensive style and clinical severity. Thus, reflexive function seems to play a central role in the prejudice caused by borderline personality disorder. This finding points to this dimension as a potential area for the elaboration and implementation of interventions, promoting a better adaptation of these patients in different areas of their lives, including adherence to treatment