Fatores de riscos para internação por doença respiratória aguda em crianças até um ano de idade

Abstract

As doenças respiratórias agudas (DRAs) são uma das causas principais de morbidade e mortalidade infantil no mundo, especialmente no primeiro ano de vida. Com o objetivo de avaliar fatores de risco para hospitalização por DRAs, de crianças até um ano de idade, sua associação com o VRS e o índice de concordância diagnóstica entre o prontuário médico e um árbitro previamente designado, conduziu-se um estudo de casos e controles na cidade de Pelotas, RS. Os casos foram constituídos por crianças de até um ano de idade que se hospitalizaram por DRAs nos quatro hospitais da cidade, no período de julho de 1997 a agosto de 1998. Os controles foram representados por crianças da comunidade, sorteadas aleatoriamente, com até um ano de idade, sem hospitalização prévia por DRAs. Foi aplicado às mães cujos filhos estavam entre os casos e os controles, um questionário estruturado, contendo questões referentes ao nível socioeconômico, condições de nascimento da criança, amamentação, situação da moradia, antecedentes mórbidos (respiratórios ou não), entre outras. As mães das crianças com DRA responderam a um segundo questionário, o qual continha questões específicas alusivas à sintomatologia do quadro respiratório atual. O prontuário médico das crianças com DRA era, após a alta hospitalar, integralmente copiado e anexado ao questionário. Para a pesquisa do VRS na secreção respiratória, um profissional da área da saúde procedeu a coleta da secreção através de aspirado nasofaríngeo, realizando-se imunofluorescência direta para a pesquisa do vírus. Foram analisadas 810 crianças, sendo 650 casos e 160 controles. A incidência anual de internações por DRA, em menores de um ano de idade, na cidade de Pelotas, foi de 13,9%. Cerca de 60% do total da amostra apresentava menos de 6 meses de idade e houve um ligeiro predomínio do sexo masculino (55,2%). Mais da metade das internações (63%) ocorreram no período de junho a outubro, atingindo o pico no mês de setembro (16,6%). Em ordem decrescente, as causas maiS freqüentes de internação foram: pneumonia (44,8%), bronquiolite (30,4%), asma (19,5%), gripe (3,9%), otite média aguda (0,8%) e laringite (0,6%). A prevalência global de positividade ao VRS na secreção respiratória foi de 30,8%, encontrando-se 39,9% em bronquiolites, 27,4% em asma , 27,1% em pneumonia, 25% em gripe e 25% em otite média aguda. A concordância de diagnósticos entre os diferentes grupos de DRA, no estudo realizado e no prontuário médico, por ocasião da alta hospitalar, foi em ordem decrescente: pneumonia 0,7; otite média 0,6; asma 0,6; bronquiolite 0,5; laringite 0,3 e gripe 0,3. Na análise bruta, os fatores de risco associados ao desfecho foram: sexo masculino, faixa etária de ° a 6 meses, aglomeração familiar, escolaridade materna, renda familiar, condições habitacionais inadequadas, desmame precoce, tabagismo matemo, história de hospitalização e antecedentes de sintomas respiratórios. Concluiuse ter sido o trabalho matemo um fator de proteção contra internação por DRA. Na análise multivariada, construiu-se um modelo teórico- hierarquizado em que as variáveis de um determinado nível foram controladas pelas variáveis de níveis precedentes e do mesmo nível. Permaneceram associadas à hospitalização por DRA, em ordem decrescente de odds, as seguintes variáveis: ausência de ou baixa escolaridade materna (OR=13,O), história de sibilância anterior (OR=7,4) , mãe fumante (OR= 2,7), desmame precoce (OR=2,4), uso de bico (OR=1,9), idade abaixo de 6 meses (OR=1,7), aglomeração (OR=1,7) e sexo masculino (OR=l,5). Os resultados do presente estudo confirmam a sazonalidade das internações por DRA e salientam a importância dos aspectos sociais e comportamentais da família, assim como a morbidade respiratória anterior da criança, como fatores de risco para hospitalização por DRA.The acute respiratory diseases (ARDs) are a major cause ofinfant morbidity and mortality wordlwide, particularly in children under one year age. The present casecontrol study investigated the risk factors associated with hospitalization by ARDs in children under one year age, the association with Respiratory Syncytial Virus (RSV) and the rate of. agreement between medicai diagnosis and an arbitrator previously designed, in Pelotas, RS. The cases were children under one year age who were hospitalized in one of the four hospitais in the city by ARDs during a one year period (July 1997 to August 1998). The controls were represented by community children randomly selected, under one year age, without previous ARDs hospitalization. A standardized questionnaire including . . SOClOeconomlC, demographic, environmental, nutritional, conditions ofthe child's birth and morbidity information was applied to the mothers of patients and control subjects. The mothers of patients answered a second questionnaire about symptoms of the actual illness. After hospital discharging the child medicai recording was integrally copied and joinned to the questionnaire. The nasopharyngeal secretions were collected for a health professional by suction and sent immediately to the laboratory for rapid RSV detection by direct immunofluorescence. The study included 810 children, being 650 cases and 160 controls. The anual incidence rate of ARDs hospitalizations in children under one year age, in Pelotas, was 13,9%. Most ofthe children were under 6 months of age (60%) and there was a discrete predominance ofmale sex (55,2%). The hospital admission showed a seasonal pattern with the majority of hospitalizations (63%) occurring from June to October, reaching the peak in September (16,6%). The main causes of hospital admission were: pneumonia (44,8%), bronchiolitis (30,4%), asthma (19,5%), influenza (3,9%), acute otitis media (0,8%) and laryngitis (0,6%). The RSV in respiratory secretions was detected in 30,8% of all cases, being 39,9% in bronchiolitis, 27,4% in asthma, 27,1 % in pneumonia, 25% in influenza and 25% in acute otitis media. The rate of agreement between the study and the medicaI diagnosis of the hospital discharge among different ARDs groups was: pneumonia 0,7; acute otitis media 0,6; asthma 0,6; bronchiolitis 0,5; laryngitis 0,3 and influenza 0,3. The risk factors associated with the outcome were: mal e sex, children under 6 months age, household crowding, maternal education, family income, quality of house, lack of breast-feeding, maternal smoking and a previous history of hospitalization and respiratory symptons. Maternal working was a protection factor associated with the ARDs admissions. The multivariate analyses took into account theoretical hierarquical relationships between the proposed risk factors and the outcome; the variables of a determinate level were controlled by the variables of the precedent and the same leveIs. The following risk factors remained associated with the ARDs hospitalization, in decreasing order of odds ratio: maternal education (OR=13,0), previous history of wheezing ( OR=7,4), maternal smoking (OR=2,7), lack of breast-feeding (OR=2,4), user ofpacifiers (OR=1,9), children under 6 months age (OR=1,7), household crowding (OR=1,7) and male children (OR=1,5). The results of the present study confirm the seasonal pattem of ARDs hospitalizations and enhance the importance of the family social and behaviour aspects, as well as the child previous respiratory morbidity as risk factors for ARDs hospitalizations in children under one year age

    Similar works