Doutoramento em DesignCom o objectivo de cumprir com as normas legais em vigor na
Universidade de Aveiro conducentes ao reconhecimento do grau
de Doutor em Design por avaliação da obra realizada, o presente
relatório descreve os objectivos e procedimentos metodológicos,
demonstrando o argumento da inovação no conjunto compilado
das 100 obras seleccionadas entre os projectos de design
realizados no período dos últimos dez anos de actividade
profissional do candidato.
Para além do enunciado em conformidade com os pressupostos
legais, e porque a obra desenvolvida decorre de um contínuo
processo de reflexão sobre a própria prática, entende o candidato
oportuna a apresentação de um conjunto de textos realizados
no mesmo período e que conformarão assim, uma cosmologia
teórica própria, sobre a história e teoria do design que contribuirá
para o melhor esclarecimento em contexto, das intenções éticas e
estéticas dessa obra.
O conjunto de contributos de reflexão teórica, que aqui se
encontram revelam uma continuidade (maculada pela experiência
existencial), que atribui à prática um desempenho quase sempre
contaminado pelo corpo de afectos do seu agente, que assim dá origem ao género criativo (poietico) autobiográfico, fundado na
metodologia fenomenológica (revelando a ciência do design nos
seus próprios procedimentos, “voltando às próprias coisas”).
Ao reflectir sobre a prática de projecto enquanto definição
disciplinar de Design, verificou-se urgente o esclarecimento
ontológico da disciplina, assim procurando perscrutar a definição
do que seja, para compreender melhor de que forma lhe pudesse
servir os seus interesses bioculturais, numa perspectiva
metaprojectual, social, política e estética.
O Design, enquanto disciplina da con-formação (da atribuição de
forma às coisas), é também o lugar da atribuição de sentido,
elevando-as à condição de seres idealizados _ formas são ideias,
ainda que imperfeitamente desenhadas (Platão).
Neste pressuposto parece inevitável a aproximação da prática
projectual do design ao exercício da filosofia, já que a filosofia
serve, sobretudo, para inventar conceitos operativos,
funcionalizando a mudança (Deleuze).
No entanto, o que se encontra neste registo não é uma produção
prática que ilustra a jusante uma intencionalidade teórica
motivadora mas, bem pelo contrário, uma teorização que anda
a zorro da prática da vida, procurando perceber o que parecia
inconscientemente suspeitar, confirmando-o.
O conjunto de temas teoricamente tratados, constituem
aproximações naturalistas por tentativa e erro, que se repetem
no tempo em torno de palavras chave como poética, criação,
criatividade, tecnologia, artesanato, ontologia, disciplina,
desenho, desejo-desenho-desígnio, engenharia-arte-gestão,
design, projecto, humano, humanização, diferença, dispositivo,
ética, estética, domínio, submissão, zen. Muitos destes temas
foram apropriados recorrendo a um conjunto muito diverso
e heterogéneo de autores. Aqui misturam-se os filósofos
universalmente consagrados, com outros pensadores do Design
(Adorno, Aristóteles, Badiou, Di Bártolo, Branco, Brusatin, Calvera,
Deleuze, Descartes, Doberti, Espinosa, Flusser, Heidegger, Leiro,
Maldonado, Munari, Platão, Pombo, Séneca, Simon, Zizek, e
Zumthor), aos quais se associa uma terceira vaga de colegas
menos conhecidos, estudantes e investigadores, respigados no
grande acaso da web.
Na sua assistemática forma de abordagem teórica (Flusser), a
teoria não é aqui convocada como janela modernista, abrindo-se sem limites sobre a paisagem organizada, mas como
múltiplas aberturas determinadas pela urgência da necessidade,
conformando uma arquitectura orgânica e espontânea, do
vernacular dirigido por pontos de vista pertinentes e dispersos,
produzindo uma visão caleidoscópica, múltipla, cubista, mas
sincronicamente orientada sobre o objecto que, tendo vida
própria, não pára para posar