As comunidades estuarinas de bacterioplâncton desenvolvem-se sob
condições ambientais instáveis e respondem às variações espaciais e
temporais de pequena escala das características da coluna de água com
alterações dos níveis de actividade heterotrófica.
A reactividade bacteriana foi avaliada no campo, em diferentes interfaces
estuarinas e foi também testada em laboratório. A degradação ectoenzimática
de péptidos (actividade da leucina-aminopeptidase E.C. 3.4.11) e hidratos de
carbono (actividade da ?-glucosidase E.C. 3.2.21), bem como parâmetros de
caracterização da absorção de glucose (Vm e Tr), foram usados como
descritores das respostas metabólicas das bactérias do plâncton.
Os perfis estuarinos de abundância bacteriana, absorção e incorporação de
glucose e actividade ectoenzimática corresponderam globalmente a um padrão
curvilíneo com máximos na gama de 20-30 UPS. Associada à transição entre
os ambientes dulciaquícola e estuarino, registou-se uma alteração no padrão
de utilização de substratos orgânicos traduzida pelo aumento da
preponderância de proteína sobre hidratos de carbono, como substratos para o
crescimento bacteriano, em relação directa com a proximidade do mar.
Os decréscimos de actividade do bacterioplâncton nas fronteiras com o rio e
com o oceano foram mais pronunciados do que o esperado por diluição
conservativa, confirmando assim a natureza reactiva do metabolismo
bacteriano sujeito às condições naturais de instabilidade associadas a estas
interfaces estuarinas.
As respostas de comunidades bacterianas naturais, obtidas em secções
contrastantes do sistema estuarino, a variações de curto prazo das
características da água foram testadas em laboratório com recurso a câmaras
de difusão. O elevado grau de susceptibilidade das taxas de actividade
bacteriana à modulação ambiental traduziu-se em variações rápidas e intensas
dos níveis de actividade. Os resultados laboratoriais sugerem que o controle
ambiental é exercido fundamentalmente através dos compostos dissolvidos.
Não ficou claramente demonstrada a contribuição de partículas ressuspensas
dos fundos sedimentares ou transportadas de zonas intertidais para a
actividade heterotrófica das bactérias da coluna de água.
Embora os biótopos pouco profundos predominem no sistema estuarino da Ria
de Aveiro, a maior parte da mineralização aeróbia da matéria orgânica ocorre
na coluna de água. A troca de água entre o estuário e o oceano durante o ciclo
de maré resulta num fluxo líquido de comunidades bacterianas e actividades
associadas da Ria para o mar, com formação de uma pluma costeira de
elevada biomassa bacteriana e potencial heterotrófico.Estuarine bacterioplankton communities develop under unstable environmental
conditions and respond to short -term or short -distance variations of water
properties with changes in activity rates. Bacterial reactivity was evaluated in
the field, at distinct estuarine boundaries, and further tested in the laboratory.
The ectoenzymatic degradation of peptides (activity of the leucineaminopeptidase
E.C. 3.4.11) and carbohydrates (activity of the ? -glucosidase
E.C. 3.2.21) and the parameters describing the uptake of glucose (Vm and Tr),
were used as proxies for the assessment of bacterial metabolic responses.
Within the estuarine gradient, the profiles of bacterial abundance, glucose
uptake and ectoenzymatic activity generally agreed with a curvilinear pattern
with maxima within the 20-30 PSU range. At the transition from the limnetic
environment to the main body of the estuary, a shift in the utilization of organic
substrates occurred with an increasing importance of proteins over
carbohydrates with decreasing distance to the sea.
Bacterioplankton activity decreased at both riverine and oceanic boundaries
more than expected from conservative dilution, therefore confirming the
reactive nature of bacterial metabolism at these highly unstable estuarine
interfaces.
Diffusion chambers were used to test in the laboratory the responses of natural
bacterial assemblages from distinct estuarine sections to short-term variations
in water properties. Rapid and intense shifts between levels of activity
confirmed the high degree of susceptibility of bacterial activity rates to
environmental modulation and suggest that the control is mostly exerted
through the dissolved pool of substrates.
The influence of sediment resuspension and of the input of particles from the
intertidal zones on the rates of bacterioplankton activity in the water column
could not be clearly demonstrated.
Although shallow biotopes account for the majority of the area corresponding to
the complex estuarine system of Ria de Aveiro, most of the aerobic
mineralization of organic matter occurs in the planktonic compartment. The tidal
exchange of water between the estuary and sea results in a net seaward flux of
bacterial communities and associated activities expressed by a coastal plume
of enhanced bacterioplankton standing stocks and heterotrophic potential