Testosterona, desejo sexual e conflito de interesse: periódicos biomédicos como espaços privilegiados de expansão do mercado de medicamentos

Abstract

Este artigo focaliza a articulação entre pesquisa biomédica e indústria farmacêutica com base nos estudos da tecnociência. Abordamos o caso do medicamento Intrinsa – adesivo de testosterona, cujo propósito é o aumento do desejo sexual em mulheres – examinando artigos que relatam resultados de ensaios clínicos, publicados em periódicos científicos. Buscamos demonstrar como a população visada pelos ensaios clínicos foi paulatinamente expandida de modo a englobar um número cada vez maior de mulheres, o que pressupôs rearranjos na maneira de definir as disfunções para as quais o medicamento seria indicado e as possíveis causas subjacentes. Foi possível identificar três caminhos de ampliação do mercado para o Intrinsa: o primeiro baseou-se na alteração do status de menopausa. A terapia com testosterona passou a ser vinculada também ao envelhecimento (incluindo, portanto, a pré-menopausa e a menopausa “natural”) e não mais exclusivamente à menopausa cirúrgica; o segundo focalizou a dissociação entre o uso do Intrinsa e a terapia com estrógenos; o terceiro buscou vincular o medicamento ao aumento de “bem-estar”.This article focuses on the close relationship between biomedical research and the pharmaceutical industry based on technoscience studies. We discuss the case of Intrinsa – a testosterone patch designed to increase the sexual desire of women – through the analysis of articles reporting clinical trial outcomes published in scientific journals. We intend to demonstrate how the target population of the clinical trials was gradually expanded so as to include a growing number of women, and how this expansion led to alterations in the definition of the disorder the drug was supposed to treat and its possible underlying causes. We were able to identify three paths that aimed at extending the indication of Intrinsa: the first was based on the change in the menopausal status of women, since testosterone therapy began to be linked to aging (including, therefore, perimenopause and ‘natural’ menopause) and no longer exclusively to surgical menopause; the second focused on the dissociation between the use of Intrinsa and therapy with estrogens; the third sought to relate the drug to an increased sense of ‘well-being’

    Similar works