Segurança da terapia antirretroviral para a infecção pelo vírus HIV-1 em ensaios clínicos randomizados envolvendo pacientes multiexperimentados utilizando terapia otimizada de base : uma revisão sistemática

Abstract

Introdução: O desenvolvimento de antirretrovirais (AVRs) para o vírus HIV em pacientes multiexperimentados é prioridade em saúde pública e, além de supressão virológica máxima, recuperação e estabilização imunológica, os ensaios clínicos randomizados (ECRs) que envolvem esquemas de antirretrovirais utilizados em terapias de resgate devem ser capazes de demonstrar segurança na sua utilização, a curto e longo prazos. Objetivo: Realizar revisão sistemática e caracterizar os achados de segurança da terapia antirretroviral (TARV) para a infecção pelo vírus HIV-1 nos ECRs que utilizaram esquemas otimizados de base (EOB) em pacientes multiexperimentados através, principalmente, da avaliação da qualidade da informação sobre riscos baseada na extensão do CONSORT sobre riscos e da avaliação da apresentação de achados laboratoriais que são proxy de desfechos conhecidamente relevantes. Metodologia: Foram revisadas as bases de dados MEDLINE, EMBASE, LILACS, Colaboração Cochrane, SCOPUS e ISI Web of Science visando identificar publicações entre janeiro/2003 e agosto/2014. Também foram revisadas as bases de dados dos seguintes congressos científicos internacionais: International AIDS Conference; Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI); Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy (ICAAC); e International Congress on Drug Therapy in HIV Infection. Não foram feitas restrições em relação à língua da publicação dos estudos. Os critérios para inclusão dos estudos foram: ECRs com pelo menos 16 semanas de duração e com pelo menos 100 indivíduos que avaliaram segurança da terapia antirretroviral (TARV) em pacientes com infecção pelo HIV- 1 caracterizados como multiexperimentados. Resultados: Vinte e quatro ECRs foram incluídos, sendo 16 estudos originais e 8 extensões. Vinte e três (95,8%) estudos foram exclusivamente financiados pela indústria farmacêutica. Apenas 15 (62,5%) estudos apresentaram eventos adversos (EAs) clínicos graves. Ocorrência de limiar para a apresentação de resultados foi observada em 13 (86,7%) estudos que apresentaram EAs graves, 22 (95,6 %) estudos que apresentaram EAs considerados comuns e em 8 (42,1%) estudos que apresentaram informações sobre desfechos laboratoriais. Seis (25%) ECRs não apresentaram informações sobre os desfechos laboratoriais investigados. Oito (33,3%) estudos não apresentaram informações sobre triglicerídeos, colesterol total, LDL (low density lipoprotein) e hiperglicemia, resultando em ausência de informação sobre os referidos desfechos para os medicamentos maraviroque (MVC) e vincriviroc (VIC). Nove estudos não apresentaram informações sobre marcadores hepáticos, resultando em ausência de informação destes desfechos para o medicamento enfuvirtida (ENF). Dezoito (75%) estudos não apresentaram informações sobre creatinina, resultando em ausência de informação sobre este desfecho para os medicamentos ENF, tipranavir (TPV) e darunavir (DRV). Conclusões: A informação sobre riscos em ECRs envolvendo TARV para pacientes multiexperimentados é altamente seletiva e insuficiente. Além disso, desfechos conhecidamente relevantes não tem sido incluídos a priori nestes estudos. Os ECRs que avaliam novos ARVs ainda apresentam as características dos estudos do início da era TARV, quando, diante de um cenário com grande mortalidade associada ao HIV, o principal objetivo era preservar a vida dos pacientes, em detrimento das questões de segurança da terapia.Introduction: The development of antiretroviral drugs (ARVs) for treating the HIV virus in treatment-experienced patients is a priority in public health. In addition to virological suppression, recovery and stabilization of the immune system, randomized clinical trials (RCTs) involving antiretroviral regimens used in recovery therapies must be able to demonstrate short and long term safety in their use. Objective: To perform a systematic review and to characterize the findings regarding the safety of cART for HIV-1 virus infections in RCTs that used optimized background regimen in treatmentexperienced patients primarily through assessing the quality of information based on the extent of the CONSORT on risks and evaluating the overall presentation of laboratory findings that are known to proxy relevant outcomes. Methodology: The following databases were researched: MEDLINE, EMBASE, LILACS, The Cochrane Collaboration, SCOPUS and ISI Web of Science. We searched for works published between January/2003 and August/2014. The databases of the following international scientific conferences were also researched: International AIDS Conference; Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI); Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy (ICAAC); and International Congress on Drug Therapy in HIV Infection. There were no restrictions regarding the language of the studies. The criteria for inclusion were the following: RCTs that lasted at least 16 weeks and with at least 100 participants who evaluated the safety of antiretroviral therapies (cART) in treatment-experienced patients with HIV-1. Results: Twenty-four RCTs were included, sixteen original studies and eight extensions. Twenty-three (95.8%) of the studies were funded exclusively by the pharmaceutical industry. Only fifteen (62.5%) of the studies showed serious clinical adverse events (AEs). The occurrence threshold for the presentation of results was observed in thirteen (86.7%) of the studies that showed serious AEs, twenty-two (95.6%) of the studies that showed AEs considered to be common, and eight (42.1%) of the studies which presented information on laboratory outcomes. Six (25%) RCTs have not provided information on laboratory outcomes investigated. Eight (33.3%) studies did not provide information on triglycerides, total cholesterol, LDL (low density lipoprotein) and hyperglycemia, resulting in lack of information on these outcomes for the drugs maraviroc (MVC) and vicriviroc (VIC). Nine studies did not provide information on hepatic markers, resulting in lack of information on these outcomes for the drug enfuvirtide (ENF). Eighteen (75%) studies did not provide information on creatinine, resulting in lack of information on this outcome for the drugs ENF, tipranavir (TPV) and darunavir (DRV). Conclusions: Information on the risks of RCTs involving cART for treatment-experienced patients is highly selective and insufficient. Moreover, known relevant outcomes have not been included a priori in these studies. RCTs evaluating new ARVs have the same characteristics of studies of early ARVs, when, faced with a scenario of high mortality associated with HIV, the main goal was to preserve the lives of patients, at the expense of the safety in therapy

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