Lauda, Biana Vasconcellos

Silveira, Elaine Rosner

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Grupo para elaboração de luto em serviço de saúde mental da rede de atenção psicossocial

Lume 5.8

Evento Salão UFRGS 2014: X SALÃO DE ENSINO DA UFRGSAno 2014Local Porto Alegre - RSTítulo Grupo para elaboração de luto em serviço de saúde mental da rede de atenção psicossocialAutores BIANA VASCONCELLOS LAUDAELAINE ROSNER SILVEIRADentro da Equipe de Saúde Mental e Matriciamento Glória Cruzeiro Cristal, em um ambulatório de saúde mental da Rede de Atenção Psicossocial da região Glória Cruzeiro Cristal, observou-se que muitos dos usuários que chegavam para atendimento estavam em sofrimento devido a perdas por morte de parentes, dentre estas, alguns casos de morte violenta (assassinato). Além da dificuldade inerente à perda de uma pessoa próxima, há diversos fatores que atrapalham ou impedem o processo de luto, tendo em vista a dificuldade que há em nossa sociedade de falar sobre a questão da morte. Para Kovács (2008), alguns destes fatores são a negação e repressão culturais acerca da perda e da dor, além da desvalorização dos ritos funerários. Os usuários do serviço relatam a pressão social e familiar para que fiquem bem logo e não sofram, o que dificulta o trabalho de elaboração do luto.  Apesar de no processo de luto serem esperadas modificações a nível de sentimentos, sensações físicas, cognição e comportamentos (Rando, 1993 apud Casellato, 2005), este não é considerado, por si só, como um estado patológico (Freud, 1917). Para Freud (1917) estão fazem parte do luto um “estado de ânimo profundamente doloroso, suspensão do interesse pelo mundo externo, inibição da capacidade de realizar tarefas e perda da capacidade de amar” (p.103). Este estado faz parte de um processo natural e, para que seja elaborado, deve ser verbalizado, pois, a cada lembrança e expectativa trazida, vai se processando uma dissolução dos laços da libido vinculados à pessoa falecida (Freud, 1917). Tendo em vista a grande quantidade de pessoas em sofrimento devido a mortes no território e a demanda de um espaço para elaboração do luto, a psicóloga do serviço anteriormente mencionado (preceptora do PET) e a monitora do PET decidiram criar um grupo com o objetivo de propiciar este espaço de simbolização e elaboração desses processos de luto, chamado inicialmente de Grupo de Luto. Os usuários vieram encaminhados dos postos de saúde ou de outros profissionais do próprio serviço que estavam realizando atendimento individual e que avaliaram ser indicado que estes passassem a frequentar o grupo.  Quanto à metodologia, os usuários primeiro foram entrevistados individualmente pela psicóloga e pela monitora, com o objetivo de avaliar a possibilidade do usuário participar do grupo e verificar seu interesse, iniciar o vínculo transferencial e esclarecer o objetivo do grupo. A metodologia do grupo se inspira nas formulações de Yalom & Leszez (2006) que indicam alguns elementos fundamentais de todo grupo terapêutico, entre eles propiciar uma continência para a fala, buscando os elementos comuns nas vivências subjetivas compartilhadas, propiciar identificações fomentando o altruísmo e o apoio mútuo, acreditando que a troca de experiência entre os participantes traz em si um potencial que auxilia a lidar com as dificuldades. Dessa forma, este grupo é um espaço para realizar o trabalho de luto ao possibilitar a expressão do sofrimento e incentivar o enfrentamento dos mais variados afetos e pensamentos relacionados a morte do ente querido (raiva, culpa, tristeza, desamparo, etc). Tal como Casellato (2005), acredita-se que o processo de elaboração do luto passa pela necessidade de dar sentido ao que aconteceu. Ao poder falar sobre a relação e o vínculo anteriormente estabelecidos com a pessoa falecida, sobre o processo de morte e/ou a cena de morte, sobre os rituais ligados à morte, etc, tem-se a possiblidade de simbolizar estes momentos, o que contribui para a elaboração do luto.  Diversos autores, como Bowlby e Rando (Casellato, 2005; Kovacs, 2008) falam de diferentes fases do processo de luto, que não são lineares e podem avançar e retroceder. Independente de cada fase, o nome que tem e o tempo que leva, é importante entender o luto como um processo singular, que difere em tempo e modo para cada um, dependendo de vários fatores, como os recursos pessoais, o vínculo com a pessoa falecida, a rede de apoio social e familiar, ao tipo de morte, etc. Assim, no grupo busca-se tanto a potência das situações de identificação entre os participantes, dissolvendo o peso do isolamento e da dor, quanto a escuta das particularidades de cada sujeito no seu processo de luto.  O Grupo de Luto iniciou em abril com frequência quinzenal e em final de junho começou a ter frequência semanal, e ainda está em fase de constituição. Tendo em vista que o luto não elaborado e/ou não reconhecido pode tornar-se patológico, pois experiências dolorosas quando caladas ou ignoradas podem ser fatores de risco para o adoecimento físico, psíquico e social (Casellato, 2005), acredita-se na importância da continuidade deste trabalho. Referências  Casellato, G. (Org.). (2005). Dor silenciosa ou dor silenciada? Perdas e lutos não reconhecidos por enlutados e sociedade. Campinas, SP: Livro Pleno. Freud, S. (1917-1974). Luto e Melancolia. Em: Obras Completas, vol. XIV. (pp.271-291) Rio de Janeiro: Imago. Kovács, M. J. (2008). Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer. Rev. Paidéia 18(41), 457-468. Universidade de São Paulo, São Paulo-SP. Disponível em: www.scielo.br/paideia Yalom, I. e Leszcz, M (2008). Psicoterapia de grupo. Teoria e prática. 5ª edição. São Paulo: Artmed.  

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