Infância e figuras de autoridade

Abstract

Esta dissertação tem como tema central as figuras de autoridade segundo o olhar infantil. O objeto de pesquisa constitui-se a partir da pergunta “Quais as figuras de autoridade para as crianças nas relações de poder que permeiam o ambiente escolar e familiar?”. O referencial teórico principal abarca os conceitos de autoridade, de Hannah Arendt, e de relações de poder, de Michel Foucault, estabelecendo um diálogo com os campos da filosofia, história e da psicanálise. Como metodologia de pesquisa foram realizadas entrevistas abertas com crianças de seis a onze anos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp/UFRGS). Para suscitar o diálogo, foram utilizados três filmes de animação e tiras de histórias em quadrinhos. No total, foram realizadas vinte intervenções, das quais participaram setenta e seis crianças, divididas em cinco grupos. Levou-se em consideração os discursos acerca da crise na educação e de autoridade que se multiplicam em diferentes meios e se fazem presentes em nossa sociedade. O trabalho abrange ainda uma breve definição dos conceitos de infância, imagem e representação; e a ligação do conceito de autoridade com a tradição e a transmissão. Podemos concluir, a partir do referencial teórico utilizado e das análises das falas dos entrevistados, que as crianças percebem e distinguem figuras de autoridade em sua vida cotidiana; observamos, porém, que tais figuras têm se construído discursivamente de modos mais sutis em relação às formas de autoridade experimentadas pelas gerações anteriores às de nosso tempo. Observamos também o quanto as crianças assumem estratégias de resistência nas relações entre pais e filhos, o que faz supor que também o poder dos pais e conseqüentemente dos professores se mantém, mas de formas menos visíveis e num campo de disputa e negociações muito intenso com os filhos e alunos. Supomos que entre os fatores que têm participado de tais modificações, nos âmbitos familiar e escolar, estejam as variadas formas de socialização a que as crianças estão sujeitas atualmente, bem como a fragilidade dos modos de transmissão entre as gerações, que tem reforçado para as crianças a autoridade parental como algo negativo e complexo. Ainda assim, a distinção entre as idades infantil e adulta aparece de forma bem delimitada para as crianças entrevistadas. Salientamos a forte ligação das figuras de autoridade com as funções de cuidado, proteção e sustento (no caso da mãe, do pai e das avós) e de cuidado, organização e disciplinamento (no caso das professoras e do diretor); não havendo ligações explícitas formuladas em torno do saber que estas figuras poderiam deter e da relação deste com a autoridade por eles exercida. Concluímos que as figuras de autoridade fixas e estavelmente legitimadas de outras décadas apresentam-se sob novas configurações e estabelecem-se por movimentos transitórios, passíveis de mudanças.This dissertation is focused on authority figures on the vision for children. The object of research is from the question "What are the authority figures for children in the power relations that permeate the school environment and family?". The theoretical framework encompasses the main concepts of authority, Hannah Arendt and power relations, Michel Foucault, establishing a dialogue with the fields of philosophy, history and psychoanalysis. As research methodology were conducted open interviews with children aged six to eleven years of the Colégio de Aplicação from Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp/UFRGS). To stimulate the dialogue, we used three animated films and strips of comics. In total, we do twenty interventions, attended Seventy-six children were divided into five groups. We took into account discourses about the crisis in education and authority that are multiply in different ways and are present in our society. The work also covers a brief definition of the concepts of childhood, image and representation, and the connection of the concept of authority with tradition and transmission. We can conclude from the theoretical reference and analysis of the interviews, that children perceive and distinguish authority figures in their daily lives; noted, however, that such figures have been discursively constructed in ways more subtle about the ways authority experienced by previous generations to our time. We also observed how the children take strategies of resistance in the relationship between parents and children, which would mean that also the power of parents and consequently of teachers therefore remains, but in ways less visible and a playing field and very intense negotiations with children and students. We suppose that among the factors that have been involved in such changes, in family and school scope, are the varied forms of socialization that children are currently subject, as well as the fragility of transmission between generations, which has reinforce to children the parental authority as something negative and complex. Nevertheless, the distinction between child and adult ages, it is clearly defined for the children interviewed. We emphasize the strong connection of authority figures with the duties of care, protection and support (for the mother, father and grandparents) and care, organization and discipline (in the case of the teachers and director), there is no explicit link made in around to know that these figures could hold and its relationship with the authority they exercised. We conclude that the fixed authority figures and legitimated stably of other decades have occurred in new settings and settle down by transitional movements, subject to change

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