Relacionamento entre filhos adolescentes e seus pais e mães em um contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher

Abstract

Este trabalho buscou investigar, com base na perspectiva dos filhos, como se estabelece o relacionamento entre filhos adolescentes e seus pais e mães em famílias que vivenciam/vivenciaram a situação de violência doméstica e familiar contra a mulher. Para tanto, procedeu-se à entrevistas com 11 adolescentes de 12 a 16 anos, de ambos os sexos, membros de famílias em que tenha ocorrido a identificação de violência doméstica e familiar contra a mulher, perpetrada pelo pai contra a mãe do adolescente. Houve a mediação institucional da Coordenação de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica e Discriminação (CAVVID), localizada em Vitória-ES, e da Secretaria de Políticas Públicas para a Mulher (SEPPOM), localizada na Serra-ES para identificação dos participantes. As entrevistas ocorreram com base em um roteiro semiestruturado que teve por inspiração a Escala de Qualidade da Interação Familiar (EQIF). As questões abordaram a avaliação dos filhos acerca do ambiente familiar, especificamente do relacionamento do adolescente com a mãe e com o pai, sobre o modo como os adolescentes avaliavam a relação entre a mãe e o pai e como essa relação afetava a parentalidade. Recorreu-se à gravação e transcrição integral das entrevistas e depois à categorização e análise dos dados com base no método de análise de conteúdo. A discussão dos resultados ocorreu à luz da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano e da literatura sobre o tema. Os dados indicaram que os adolescentes percebiam as situações de conflito entre o pai e a mãe dentro do microssistema familiar, as quais os afetavam. Especificamente sobre o relacionamento com o pai, os adolescentes ressaltaram sentimentos negativos, queixaram-se da falta de disponibilidade do pai para estar com os filhos, dos seus comportamentos agressivos, não só com relação à mãe, mas com relação aos outros membros da família e do consumo de bebidas alcoólicas feito por ele. No que se refere aos aspectos positivos, os adolescentes relataram o suporte material, momentos de cuidado e de expressão de afeto. Por outro lado, quase todos os adolescentes descreveram a relação com a mãe como positiva. Ocorreu menção dos momentos de cuidado, monitoramento, expressão de afeto, realização de atividades conjuntas e sentimento de apoio na relação. Os aspectos negativos descritos referiram-se à ocorrência de desentendimentos por motivos relacionados a limites impostos pela mãe, opiniões divergentes, além de situações que envolviam a relação com o pai. Considerando que, em sua maioria, os adolescentes avaliaram o relacionamento com a mãe positivamente, a análise realizada apontou que os processos proximais com a mãe podem contribuir para atenuar os efeitos dos aspectos negativos da convivência na família, descritos pelos adolescentes. Os dados obtidos reforçam a importância da ampliação de estudos sobre o impacto da violência conjugal na parentalidade do ponto de vista de todos os membros da família, bem como a ampliação da rede de apoio também aos filhos que vivenciam os conflitos envolvendo as figuras parentais, auxiliando as famílias na interrupção do ciclo da violência

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