Edson Nery da Fonseca

Ciência da Informação

da Fonseca, Edson Nery

RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal

Maturidade precoce da ciência da informação

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RECENSÕESMaturidadeprecoce da ciênciada informaçãoLE COADIC, Yves-François. La science deI'nformation. Paris: Presses Universitairesde France, 1994. 127 p. (Que sais-je? n°2873)Instituída em 1968, com a transformaçãodo American Documentation Institute emAmerican Society for Information Sciencee o início da publicação da grandeEncyclopedia of library and informationscience, a ciência da informação alcançouum desenvolvimento surpreendente nes-ses quase 30 anos de experiência. Parecenão ser mais possível contestá-la, como setentou desmoralizar a documentação coma falácia - muito corrente nos anos 40 e 50- de que seria um novo nome de tarefastradicionalmente executadas pelabiblioteconomia e pela bibliografia.Sem pretender substituir a biblioteconomiaou a documentologia, a ciência da infor-mação consolidou-se como a fonte da in-dústria, do mercado e do comércio de umproduto vital: a informação. Suas implica-ções cientificas, econômicas e estratégi-cas são evidentes. Tanto a formação deespecialistas em ciência da informação, oscongressos a ela dedicados, quanto as pu-blicações primárias, secundárias eterciárias de que dispõe dão-lhe um statusde ciência precocemente adulta.O autor da obra acima referenciada é oprofessor do Conservatório Nacional deArtes e Ofícios da França. Sua abordagemda matéria ê, ao mesmo tempo, técnica ehumanística, informativa e crítica, o quetorna a leitura da obra aliciante, suponho,até para os não-especialistas. Este é,aliás, o objetivo da tradicional coleção Quesais-je?, na qual já foram publicadasoutras obras de interesse para o cien-tista da informação, como, por exem-plo, L'information (n° 1 000), Les banquesde données (n° 1 629), La science de /acomunication (n° 2 634) e La protection deslogiciels (n° 2 853).Em sete capítulos, o professor Le Coadicanalisa o conceito de informação, indica asdisciplinas precursoras, distingue ciênciada indústria da informação, trata da cons-trução, comunicação e utilização da infor-mação, desenvolve uma epistemologia euma história da ciência da informação, co-menta as técnicas tradicionais e eletrôni-cas e conclui, com uma exposição sobreas atividades informacionais e os profissi-onais da informação.Em dois anexos, são relacionadas as prin-cipais revistas especializadas e os maisimportantes bancos de dados em ciênciada informação.Erudito e didático, o autor é tambéminstigante em relação a certas confusõesconceituais, como analogia da teoria ma-temática da transmissão de sinais elétricoscom o processo da comunicação humana;ou da aplicação ao mesmo processo doconceito físico de entropia: analogia e apli-cação que chama de "impostura" (p.14/15).Por causa de imposturas essas é que JesseH. Shera acabou abjurando a ciência dainformação: na verdade, um exagero dovelho Shera.O crescimento da informação é analisadotanto sob o aspecto quantitativo, como emsuas características qualitativas (interdis-ciplinaridade, multimídia etc.) e com refe-rência à comunidade científica (pesquisa-dores e instituições), aos colégios invisí-veis, gate-keepers e usuários em geral,sendo o texto didaticamente completadopor gráficos esclarecedores.Entendendo a ciência da informação como"estudo das propriedades gerais da infor-mação (sua natureza, gênese e efeitos),tanto quanto dos processos e dos sistemasde construção, comunicação e uso da in-formação, o autor comenta suas principaisleis (Bradford, Lotka e Zipf), os modelos(estruturais, gráficos, funcionais e mate-máticos) e teorias (matemática, massmedia, comunicação interativa): leis, mo-delos e teorias que fizeram a ciência dainformação tornar-se, em quase 30 anos,Ci. Inf., Brasília, v. 23, n. 3, p. 377-382, set./dez. 1994 377RECENSÕESuma ciência tão adulta quanto as antiqüís-simas física e química.Considero oportuníssima a publicação deuma obra como a aqui apreciada. Ela dá àciência da informação uma amplitudeconceituai insuspeitada pelos que são ape-nas técnicos: os que têm "técnica só den-tro da técnica", como diria Fernando Pessoa.O professor Le Coadic é capaz de associ-ar a exposição de leis, modelos, teorias einstrumentos às implicações filosóficas,sociológicas e históricas que as condi-cionam ou delas resultam. Ele cita, ao ladode especialistas como Bradford, Lotka, Zipf,Goffman, Brookes e Kent, humanistascomo Jorge Luis Borges, Umberto Eco,Castoriadis, De Sola Price, Taton, Michelde Certeau, Bernal, Ivan lllich e Morin.É livro para ser lido e meditado tanto pelosprofissionais da ciência da informação,como por quem deseja iniciar-se neste novoe fascinante campo do saber científico ehumanístico, pois se trata, como salienta oautor, de uma interdisciplina. Completamabordagens anteriores de Escarpit(Théorie générale da I'information et de Iacommunication), Machlup (The study ofinformation: interdisciplinary messages) eSaracevic (Introduction to informationscience).Edson Nery da FonsecaBiblioteca da Câmara dos Deputados/Uni-versidade de Brasília (aposentado) Ci. Inf., Brasília, v. 23, n. 3, p. 377-382, set./dez. 1994                                                                                 378

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