thesis

Hide and seek:normality issues and global discourses on blind school modern projects (late 18th-19th centuries)

Abstract

Tese de doutoramento, Educação (História da Educação), Universidade de Lisboa, Instituto de Educação, 2013The present work intends to redirect and reposition several questions related to the birth of schools conceived for the blind, which happened simultaneously in several locations of the modern western world. This very same event may also by related with the global tendency for the school to become an institutional process of taxonomical classification and establishment of a self-control economy over the citizens being taught and socially captured, as well as with the discourses of desire of those same citizens, concerning their own integration in a space of individual power determination and development. By working with documents from three different case studies, coming from diverse political, geographical and social situations (the Institut National des Jeunes Aveugles in Paris, the Royal National Institute for the Blind in the United Kingdom and the Istituto per I Poveri Ciechi in Milan, I was able to find patterns in diversity. This empiric enrichment led me, on the footsteps of Deleuze, Derrida and Foucault, to rethink the attainability of body normalization through the normation of pedagogic and social discourses. Likewise, my question ponders the identification of common possibilities between different movements of institutional teaching, oriented for bodies with diversified sensorial input perception, paving parallel paths towards a same citizenship model. At the same time, it also awakes me to the leading of those bodies onto a provocative desire to be equal, turning each person into a participant of both a personal disciplinary web and also a labyrinth of indetermination, as powerful as self-knowledge exclusion itself.O presente trabalho tem como objetivo redirecionar e recolocar questões associadas ao nascimento das escolas para cegos, movimento que emergiu em diversos pontos do ocidente moderno, em associação com o movimento mais global da escola enquanto processo institucional de taxonomia e economia de controlo dos cidadãos em formação e discurso de desejo dos mesmos quanto a uma integração num espaço de determinação de poderes individuais pela ação própria e desenvolvimento de mecanismos de regulação social interna. Ao trabalhar documentação de três casos de estudo em situações políticas, geográficas e sociais bastante diversas: Institut National des Jeunes Aveugles (Paris), Royal National Institute for the Blind (Reino Unido) e Istituto per i Ciechi (Milão) foi-me dado compreender que na diversidade se desenham padrões, e em que medida pode esta teoria ser aplicada à área de estudo da normalização do corpo pela normação de discursos sociais e pedagógicos. Deste modo, a minha questão situa-se no campo da identificação de possibilidades de associação entre os movimentos de ensino institucional para corpos com receções sensoriais diversas, ou seja, numa arquitetura paralela de um mesmo modelo de cidadãos, e ainda, principalmente, na possibilidade de consciência da sua participação nessa ânsia de igualdade provocatória, implicadora de cada um num modelo disciplinar pessoal e num labirinto de indeterminação, tão poderoso como o de uma exclusão por desconhecimento. Para desenvolvimento deste enredo iniciei a minha escrita pela exploração de uma nova área de investigação que consiste em estudos da deficiência, em particular o estudo de uma diversidade de aptidão sensorial específica como a cegueira. A aproximação a grupos de trabalho internacionais foi fundamental, dado o relativo apagamento da deficiência no discurso histórico, como se pudesse ser desenvolvida uma hermenêutica selectiva e apagada parte da empiria disponível, silenciados os discursos de diversidade. Como se o homem fosse passível de ser observado e arquivado de acordo com a mesma taxonomia herdeira da modernidade que lançou socialmente as raízes de uma profunda discussão entre diferença e semelhança, originária dessa transparência transversal à maior parte da escrita histórica. Consciente desta dificuldade, assumi o trabalho específico dentro do tema como especialidade, invertendo a questão, ou seja, parti de um estudo específico sobre fontes de arquivos de escolas-projecto destinadas à instrução e moldagem social de alunos cegos para questionar a partir delas a interação inevitável com o movimento escolar da modernidade, heranças discursivas e materiais, partilhas de tecnologias discursivas e disciplinares, pontos de fusão de identidades iguais e diversas, de onde nasce a minha questão do desejo de pertença a uma grelha conhecida e produtiva, fundadora dos estados modernos em que ainda hoje nos situamos institucional e socialmente. As vozes teóricas que me suportaram estes desafios surgem da escola pós estruturalista. Michel Foucault pela análise disciplinar, pela visão particular da gestão do corpo em sociedades organizadas e pelo desejo como móbil de deslocação individual. Jacques Derrida pela perspetiva deslumbrantemente criativa da potência discursiva do homem e pela dissecação dos motivos e possibilidades das estruturas arquivísticas, que tanto me auxiliaram a ler o corpus documental que recolhi, compreendendo o nascimento e desaparecimento das personagens e dados, os gritos e os silêncios, a perigosa beleza da escrita quando esta mesma era um factor de exclusão ou salvação dos alunos cegos que eu estudava, do final do século XVIII ao final do século XIX. Os conceitos chave que utilizei foram organizados em binómios: os pares estigma/governo de si, normalidade/anormalidade, modernidade/escola, visão/cegueira (conceitos intercruzados com o conceito de sensorialismo) e finalmente visão/modernidade são janelas duplas de interpretação, jogos de possibilidades para a leitura de novas questões dentro da questão principal que me coloco, orientando-me, não numa cruzada por direitos humanos no tempo, nem na procura de um discurso de verdade de vertente sociológica: apenas o desdobrar de um campo de possibilidade para o surgir de um conceito de diferença física e sensorial inexistente de per si e que a modernidade adaptou aos novos modelos universais de educação. Para tal vou utilizar bastante a vantagem das cambiantes regionais dos casos de estudo escolhidos, que apelam a regionalismos, forçando uma postura além da tradicional história comparada, consoante as teorias de Jürgen Schriewer. A organização do corpo central da tese tem como base outras tantas questões diversas em que tento equilibrar os binómios conceptuais e as palavras-chave propostas com a empiria recolhida: • Podem as escolas projectadas ou adaptadas para alunos cegos ser consideradas provas de conceito de discursos de auto governo para as sociedades modernas em que se integravam? • O imenso investimento realizado pelas instituições, para desenho de edifícios-teste, de novos materiais tridimensionais, para desenvolvimento e coordenação de possibilidades de leitura e escrita autónoma por parte de alunos cegos terá tido finalidades de gestão política, filosófica ou ambas? • As técnicas de governo dos corpos numa urbanidade em desenvolvimento e num meio escolar nascente terão sido alargadas no sentido de integrar experiências vindas de campos de estudo paralelos como a observação médica que convertia estigmas em potências e pela acção pedagógica através da captura e conversão da mobilidade e agilidade do desejo mediante regras institucionalmente prescritas? O desenvolvimento desta procura em realidades geográficas e políticas diversas ajudou-me a ter presente a mutabilidade permanente dos estados modernos e as especificidades regionais, de origem política, económica e cultural dos três casos de estudo. Em França, encontrei discursos pedagógicos inspirados nos escritos metafóricos de Diderot sobre a cegueira, assim como motivações políticas e filosóficas para integração de uma humanidade cidadã por direito, beneficiando os cegos da aura do sensorialismo como privilégio no sentido da memória e das qualidades intelectuais, numa ancestral tradição de visão mítica, elevada pelos resultados dos primeiros alunos. No Reino Unido, a realidade dispersa só foi unificada depois de muito rentabilizados os recursos regionais asilares existentes no sentido de promoção da autonomia social, financeira e religiosa das pessoas cegas, adultos e crianças. A prioridade dada à leitura justificou o imenso investimento em sistemas de impressão por traços, bem como de diversas outras materialidades que passaram a ser a fachada de uma nação industrial, ela mesma construída na sua academia por cegos, como o matemático Saunderson, professor em Cambridge e institucionalmente por Thomas Armitage, fundador da primeira Associação Nacional. Milão, a cidade pertencente a várias nações durante o tempo de estudo, é o caso mais rico em termos de controlo arquivístico e disciplinar dos alunos no seu instituto, além de assumir a música como destino e apresentação social dos seus alunos, não pelas características de plasticidade neurológicas das crianças cegas, mas pelo envolvimento de desejo que a comunidade cultivava e a que se associaram os naturais beneficiados. Nas duas últimas secções deste trabalho detenho-me sobre as questões de identidade e de visão, conduzindo o leitor para uma finalização em desdobramentos possíveis de novas questões nesta área tão inovadora e tão difícil de identificar na sua transparência histórica. Na verdade, após o presente estudo apenas me posso permitir concluir que as grelhas de análise e de classificação dos homens são coerentemente móveis e imprevisíveis, sendo tão passíveis de abordagens diversas como quaisquer outras que se definam na nossa consciência histórica, aquela que nos leva a aproximar de todos os lugares e espelhos que somos atraídos voluntariamente a desejar, na semelhança ou na diversidade, para em espaço aberto nos definirmos, estigmatizados ou dissimulados na multidão, herança pesada da escolaridade moderna, preço do poder que transportamos, inevitavelmente, por sermos nósLe présent travail se propose de réorienter et repositionner plusieurs questions liées à la naissance d'écoles conçues pour les aveugles, qui s'est déroulé simultanément dans plusieurs endroits du monde occidental moderne. Ce même événement peut également, par rapport à la tendance universelle au système écolier, constituer un autre processus institutionnel de classification taxonomique et d'établissement d'une économie d'autocontrôle sur les citoyens en formation et socialement capturés, ainsi que ses discours de la volonté, concernant leur intégration dans un espace de détermination de sa puissance. En travaillant avec des documents issues de trois études de cas différents, provenant de diverses situations politiques, géographiques et sociales (l'Institut National des Aveugles Jeunes à Paris, le Royal National Institute for the Blind au Royaume-Uni et de l'Istituto dei Ciechi à Milan), j'ai pu identifier des modèles dans la diversité. Cet enrichissement empirique m'a conduit, sur les traces de Deleuze, Derrida et Foucault, à repenser la possibilité d'atteindre la normalisation du corps à travers les discours de normation d’origine pédagogique et sociale. De même, ma question se penche sur l'identification des possibilités communes entre les différents mouvements de l'enseignement institutionnel, orientées vers des corps de perception sensorielle d’entrées diversifiées, ce qui ouvre des voies parallèles vers un modèle de même citoyenneté. En outre ces corps sont guidés sur une volonté provocatrice d'être égaux, transformant chaque personne dans un participant d’un éventail disciplinaire personnel et aussi d’un labyrinthe d'indétermination, si puissante que l’exclusion même de la connaissance de soi.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, SFRH/BD/43552/2008

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