thesis

Birds in cork oak woodlands : improving management for biodiversity

Abstract

Tese de doutoramento, Biologia (Ecologia), Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2012Cork oak woodlands (montados) are agro-forestry-pastoral systems that, in general, conciliate social and economical value with a rich biodiversity, representing remarkable components of Mediterranean landscapes. The overall goal of this thesis was to investigate the effects on biodiversity of management practices widely used in montados. Passerine birds were used as models, since they are a prominent group in montados, occupy a broad diversity of ecological niches, and are strongly responsive to changes in the environment. Starting with management practices applied to trees, we investigated (1) the impact of cork extraction, and found that only birds that forage directly on cork are affected by this activity. Consequently, cork extraction is compatible with maintaining a rich bird community. We also analysed (2) the consequences of tree pruning and concluded that it does not have an effect on overall species diversity, although foliage-gleaning species tend to be considerably less abundant in recently-pruned areas. On a landscape scale, we assessed (3) the effect of the presence of fragments of olive groves and riparian vegetation in montados dominated landscapes, and found that it would be desirable to reverse the decline of such habitats. Finally (4) we manipulated the extension of riparian vegetation and olive groves using spatially-explicit modelling to generate future scenarios, and concluded that simple measures like protecting riparian habitats and traditional olive groves could have positive effects on birds of montados landscapes. Montados are threatened by an increasing number of factors that extend from the lack of natural regeneration, to pressure from the decreasing market share of cork bottle stoppers, which can lead to changes in their structure and thus threaten biodiversity. The results of this study are a contribution for a science based improvement of management practices of montados, aiming to preserve this system by facilitating the conciliation between economic exploitation and wildlife conservation.Os montados de sobro (Quercus suber) são sistemas de uso múltiplo agro-silvo-pastoril, que resultam da intervenção humana continuada sobre as florestas de carvalhos originais, sendo uma paisagem comum no Mediterrâneo. São assim sistemas geridos pelo Homem nos quais, dependendo da componente que se quer valorizar (agricultura, pastorícia ou floresta), podem ser aplicadas várias práticas de gestão, tanto à escala da árvore como à da paisagem. Os montados de sobro têm ainda a particularidade de muito do seu rendimento económico ser obtido através de uma prática sustentável que é aplicada directamente à árvore: a extracção da cortiça. Apesar do seu elevado valor económico, os montados são tradicionalmente sistemas de uso extensivo que conciliam desenvolvimento económico e social com conservação da natureza. Os montados de sobro são reconhecidos pelos elevados níveis de biodiversidade que suportam, sendo um habitat importante para inúmeras espécies de plantas, insectos, mamíferos e aves. Na verdade, são um dos mais ricos habitats para as aves na Península Ibérica, suportando uma grande variedade de espécies (onde se inclui um grande número de Passeriformes) durante a reprodução e também no Inverno. Apesar do seu enorme valor, não só económico mas também natural, os montados estão hoje em dia ameaçados por um crescente e variado número de factores que vão desde uma reduzida regeneração natural, até à diminuição do valor da cortiça devido à competição com materiais sintéticos para vedantes de garrafas. Estas ameaças podem levar a alterações a nível da estrutura deste sistema, que por sua vez podem afectar a elevada biodiversidade que dele depende. Esta tese tem como principal objectivo o estudo das consequências sobre as aves de práticas de gestão comuns em montados. Esta questão foi abordada partindo de práticas que são dirigidas à árvore, como a extracção da cortiça e a poda, indo até práticas que têm consequências a nível da paisagem, como a gestão dos diferentes habitats que existem nos montados. Os Passeriformes foram usados como modelo porque, além de serem um grupo muito abundante nos montados, são largamente reconhecidas como bons indicadores ecológicos. Capítulo 2. Impacto da extracção da cortiça nas Aves: relevância para a conservação da biodiversidade no Mediterrâneo Em grande parte da vasta região em que o sobreiro ocorre, esta árvore é uma parte essencial da economia. Apesar do sistema montado incluir múltiplas actividades económicas, que vão desde a pastorícia, à agricultura e caça, a maior parte do seu valor económico advém da extracção da cortiça. Sem o rendimento que deriva desta actividade, muitas explorações dominadas por sobreiro tornar-se-iam economicamente inviáveis o que teria graves consequências sociais. Estima-se que em todo o Mediterrâneo milhares de pessoas dependam de actividades relacionadas com a cortiça. Portugal é o maior produtor mundial de cortiça, correspondendo este material a cerca de 2,3% do total das exportações Portuguesas. A cortiça é periodicamente extraída da árvore, em intervalos mínimos de 9 anos, entre Maio e Agosto. Após ser retirada esta camada da casca, a árvore tem a capacidade de regenerar uma nova sem prejuízo para a sua vitalidade. Apesar de ser uma prática corrente, a extracção implica potenciais alterações a nível do sistema que não foram até agora estudadas. O objectivo principal deste capítulo foi avaliar qual o impacto da extracção da cortiça para a biodiversidade dos montados, usando as aves como modelo. Se esta prática afectar as aves, é esperada uma redução da sua densidade e riqueza em áreas onde as árvores foram recentemente descortiçadas. A comparação de comunidades de aves entre zonas com árvores recentemente descortiçadas (cortiça com 0 anos) e zonas com árvores com cortiça desenvolvida (cortiça com 7 anos), revelou uma menor densidade das espéci das árvores em zonas com cortiça nova (ex. trepadeira-comum (Certhia brachydactyla) e trepadeira-azul (Sitta europaea)). A avaliação da comunidade de artrópodes (que constituem as principais presas destas aves) existentes em cortiça de diferentes idades permitiu concluir que existe uma menor disponibilidade de presas potenciais em cortiça mais nova, o que deve justificar a diminuição da densidade daquelas espécies. No entanto, os resultados revelam que a riqueza específica e a densidade da grande maioria das espécies de aves não são afectadas por esta prática. Para além disso, a extrapolação destes resultados para toda a área de estudo revelou que, mesmo as espécies localmente afectadas, mantêm populações potencialmente estáveis a nível da paisagem e ao longo dos anos. Actualmente, os montados correm o risco de se tornar economicamente inviáveis devido à enorme pressão de mercado imposta pelos produtores de vedantes sintéticos. Ao demonstrar que a extracção da cortiça é compatível com a manutenção do elevado valor ornitológico do montado, estes resultados confirmam que é uma actividade que deve ser mantida em benefício da biodiversidade. Capítulo 3. Qual a influência da poda dos sobreiros para as aves que se alimentam na copa das árvores? A poda das árvores, que corresponde ao corte de ramos, é uma prática silvícola comum em montados de sobro e apresenta objectivos múltiplos. Em sobreiros jovens, a poda pretende geralmente maximizar a altura de descortiçamento; em árvores adultas, pretende sobretudo melhorar o estado fitossanitário da árvore livrando-a de ramos secos ou doentes. As podas podem também ter o efeito de aumentar a produção regular de fruto e ainda permitir a obtenção de lenha. Todas estas intervenções na árvore têm como consequência uma simplificação da sua estrutura, nomeadamente por redução da área de copa e folhagem. No entanto, o impacto desta intervenção nas comunidades animais foi ainda pouco estudado, sabendo-se contudo que pode afectar algumas espécies de aves florestais. Neste capítulo es que se alimentam directamente na casca pretendeu-se avaliar se a poda afecta as comunidade de aves do montado de sobro, particularmente as espécies que utilizam as copas das árvores, como os chapins (Parus sp.) ou as felosinhas (Phylloscopus collybita), tendo-se para tal comparado a comunidade de aves em zonas não podadas e em zonas recentemente podadas. No geral, a poda não parece ter um efeito significativo nos padrões gerais de densidade e riqueza da comunidade de aves do montado de sobro. No entanto, tal como previsto, as espécies de aves que se alimentam sobretudo na copa tendem a ser menos abundantes naquelas zonas, especialmente no Inverno. Os resultados indicam assim que a poda é compatível com a manutenção da rica comunidade de aves nos montados. No entanto, dado o seu impacto em algumas espécies, deverão ser evitadas podas de grande intensidade que causem uma redução forte da densidade da copa. Outra medida importante será a alteração do limite do período autorizado de poda de Março para Fevereiro, uma vez que em Março o corte dos ramos pode levar à destruição de ninhos de algumas espécies de aves residentes que tendem a nidificar mais cedo, sobretudo no sul da Península Ibérica. Capítulo 4. Influência de fragmentos de habitat não-matriz para a comunidade de aves do montado de sobro. As paisagens extensivas de montados de sobro no sul da Península Ibérica são frequentemente interrompidas por fragmentos de outros habitats, que podem ter origem antropogénica ou natural. Entre estes habitats incluem-se frequentemente fragmentos de olivais tradicionais e galerias de vegetação ripícola associadas a linhas de água. Muitos destes olivais estão presentemente a degradar-se devido ao seu abandono e a vegetação ripícola é frequentemente afectada por medidas de gestão agressivas. No entanto, na matriz de montados de sobro estes fragmentos contribuem para gerar interrupções na continuidade do habitat que podem originar interacções ecológicas importantes. Neste trabalho analisou-se a influência da presença de fragmentos de olivais tradicionais e galerias ripícolas na estrutura da comunidade de aves da matriz de montado de sobro. Os resultados da análise das contagens de aves realizadas em áreas de montado a distâncias crescentes dos fragmentos sugerem que a diversidade de aves da matriz é maior perto destes. De facto, cinco das dezassete espécies estudadas reagiram positivamente à presença de olivais ou galerias (ex. tentilhão Fringilla coelebs e chapim-azul Parus caeruleus). Este efeito é mais notório no Inverno possivelmente porque os fragmentos funcionam como habitats complementares de alimentação, compensando a baixa disponibilidade de frutos com polpa que existe na matriz de montado. Será assim importante incluir na gestão dos montados de sobro medidas que resultem na preservação destes fragmentos, os quais parecem assumir um papel ecológico importante para a comunidade de aves deste sistema. Neste sentido será desejável limitar as práticas de destruição da vegetação associada às linhas de água e evitar o abandono dos olivais tradicionais. Capítulo 5. Heterogeneidade espacial na gestão de florestas mediterrânicas: o uso de cenários de futuro espacialmente explícitos para a conservação das aves. A gestão dos montados de sobro tem sofrido diversas alterações ao longo do tempo, havendo um claro investimento nas práticas com maior rendimento económico (como a extracção da cortiça) e o abandono de algumas práticas de agricultura tradicional. Estas alterações no sistema levam a mudanças na estrutura da paisagem que podem ter consequências para a biodiversidade. A aplicação de cenários de futuro tem sido indicada como uma ferramenta importante para avaliar as implicações de diferentes opções de gestão dos habitats. Esta técnica permitiu a construção de cenários simulados para a Serra de Grândola, em que a extensão da área de fragmentos de vegetação ripícola e olivais tradicionais foi manipulada para avaliar quais as suas potenciais consequências para a comunidade de aves do montado de sobro. Foram simulados cenários em que as áreas destes dois biótopos foram aumentadas, e outros em que foram reduzidas. Para a construção das diferentes simulações de extensão dos fragmentos e suas consequências potenciais sobre cada espécie, foram utilizados modelos espacialmente explícitos. Os resultados sugerem que um aumento de galeria ripícola teria um efeito muito positivo na densidade de várias espécies de aves (ex. rouxinol (Luscinia megarhynchos) e felosa-poliglota (Hippolais pollyglota)). Por outro lado as manipulações das áreas de olival não parecem ter um efeito tão marcado e o seu aumento parece até poder ser prejudicial, pelo menos para quatro espécies que são comuns na matriz de sobro. Com base nos resultados obtidos são feitas recomendações de gestão que, sendo compatíveis com a manutenção do valor económico dos montados, poderão ter efeitos positivos para a comunidade de aves da paisagem de sobro. É o caso, por exemplo, do restabelecimento da vegetação ripícola ao longo das linhas de água que, envolvendo apenas uma reduzida área de montado, deverá ter consequências positivas para várias espécies de aves, incluindo algumas que são actualmente das menos abundantes nesta paisagem. Esta tese permitiu investigar e quantificar os impactos de algumas das mais importantes práticas de gestão do montado de sobro nas populações de diversos Passeriformes. Apesar de se ter utilizado as aves como modelo, muitos dos resultados e conclusões aqui obtidos poderão ser extrapolados para outros grupos animais. Espera-se assim ter contribuído para a produção de bases científicas que permitam elaborar regras para o melhoramento das práticas de gestão, contribuindo para a sua melhor conciliação com a conservação da biodiversidade dos montados.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, SFRH/BD/22719/2005 e projeto POCTI/BIA-BDE/61122/2004

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