Introdução: um tema estudado pelos investigadores da
economia da saúde é a medição da qualidade de vida relacionada
com a saúde, em especial captando as preferências
dos indivíduos em relação a determinados resultados em
saúde. Este tipo de medição permite a sua incorporação em
modelos de decisão clínica, de planeamento e de políticas de
saúde. Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos instrumentos
genéricos de avaliação dos estados de saúde baseados na
teoria multi-atributo de utilidade, fáceis de aplicar e que
permitem o cálculo dos valores de utilidade que os indivíduos
atribuem aos estados de saúde, como os questionários
EuroQol (EQ-5D), Health Utilities Index (HUI) e o SF-6D.
Métodos: com base numa amostra aleatória da população
activa portuguesa residente no continente e formada por
2459 indivíduos, obteve-se a preferência dos portugueses
em relação ao seu estado de saúde e qualidade de vida e
calcularam-se os respectivos valores normais para Portugal
continental. Foi utilizada a versão portuguesa do instrumento
de medição SF-6D e o algoritmo econométrico
desenvolvido por Brazier, para a geração de valores de
utilidade, para os diversos estados de saúde.
Resultados: o valor médio da utilidade obtido pelo SF-6D
para toda a população foi 0,697, variando de 0,30 a 1,00 e
associado a um desvio padrão de 0,143. Níveis mais elevados
de défice foram encontrados nas dimensões «desempenho
», «dor», «saúde mental» e «vitalidade». Valores mais
baixos de utilidade foram apresentados pelas mulheres e
pelos idosos. Os indivíduos com níveis mais baixos de instrução,
a viver em áreas rurais, trabalhadores manuais e os
viúvos, divorciados e separados apresentaram, em geral,
também valores mais baixos de utilidade. Em relação às
doenças crónicas, a utilidade média variou de 0,56 para os
enfartes do miocárdio a 0,66 correspondente à hepatite.
Conclusão: deste estudo conclui-se que o instrumento de
medição SF-6D é útil e efectivo na medição da qualidade de
vida relacionada com a saúde na comunidade. As normas
portuguesas são úteis para contextualizar os valores obtidos
pelo SF-6D, sempre que aplicado a doentes ou mesmo
a indivíduos portugueses saudáveis