Dissertação de mestrado em Medicina, apresentado à Faculdade de Medicina (Cardiologia) da Universidade de CoimbraIntrodução
As síndromes coronárias agudas constituem uma das principais causas de morbilidade e
mortalidade nos idosos. Estudos sugerem que cerca de 80% das mortes atribuídas à doença
coronária ocorrem em indivíduos com mais de 65 anos.
O atraso na procura médica, a apresentação clínica atípica, as comorbilidades associadas, a
menor tolerância à isquémia e o maior compromisso da função cardíaca são causas apontadas
para o pior prognóstico destas síndromes nos idosos.
Melhorar a sobrevida deste grupo de risco exige o conhecimento da fisiopatologia do idoso e
o diagnóstico mais atempado na tentativa de adoptar a estratégia terapêutica mais efectiva.
Objectivos
Comparar a taxa de mortalidade e a ocorrência de eventos cardíacos major adversos aos 1, 6 e
12 meses em doentes com mais de 80 anos, internados por Síndrome Coronária Aguda, com a
de doentes de idade compreendida entre os 70 e 80 anos.
Metodologia
Os 597 doentes consecutivos foram divididos em 2 grupos em função da idade (]70;80],
n=423; >80anos, n=174) e caracterizados relativamente a parâmetros demográficos,
antecedentes patológicos, hábitos medicamentosos, resultados analíticos, classe de Killip e
abordagem terapêutica. Utilizaram-se as curvas de Kaplan-Meyer para descrever a sobrevida
e eventos cardíacos major adversos.
Resultados
A análise estatística demonstrou não haver diferença significativa relativamente à prevalência
de importantes preditores de mortalidade nas síndromes coronárias agudas, nomeadamente,
fracção de ejecção, classe Killip, glicémia e valor máximos de troponina na admissão.
Constatou-se a ausência de aumento significativo da taxa de mortalidade (1, 6 e 12 meses) e
da ocorrência de eventos cardíacos major adversos (1, 6 e 12 meses) nos dois grupos.
Apesar disso, o grupo com idade superior a 80 anos foi submetido a uma estratégia invasiva
com menor frequência (30,5 vs. 49,9%; p<0,001).
Conclusões
Efectivamente vários estudos consubstanciam a realidade demonstrada nesta investigação,
isto é, que a opção por uma estratégia invasiva precoce (realização de angiografia e eventual
revascularização) declina com a idade. Por outro lado, o maior benefício dessa estratégia,
traduzido na redução efectiva da taxa de mortalidade e re-enfarte a longo prazo, é obtido pelos
indivíduos de maior risco, onde se incluem os idosos. Portanto, não fosse o receio de
complicações, faria todo o sentido tratar as síndromes coronárias agudas nos idosos com uma
abordagem agressiva.Introduction
The acute coronary syndromes are the major cause of morbidity and mortality in the older
population. Studies suggest 80% of deaths from coronary artery disease occur in patients over
the age of 65.
The delay in seeking medical help, atypical clinical presentation, co-morbidities conditions,
inferior tolerance to ischemia and impaired cardiac function are causes of the poor prognosis
of these syndromes in elderly.
Improving the survival of this high risk group demands the knowledge of the physiopathology
of elderly and more promptly diagnosis in order to choose the more effective therapeutic
strategy.
Objective
Compare the mortality rate and major adverse cardiac events at 1, 6 and 12 months in patients
over 80 years, hospitalized for Acute Coronary Syndrome, with patients aged between 70 and
80 years.
Methods
The 597 consecutive patients were divided into 2 groups according to age (] 70, 80], n = 423;
> 80 years, n = 174) and characterized with regard to demographics, previous diseases, drug
habits, analytical results, Killip class and therapeutic approach. We used the Kaplan-Meyer to
describe the survival and major adverse cardiac events.
Results
Statistical analysis showed no significant difference regarding the prevalence of important
risk factors for mortality in acute coronary syndromes, including ejection fraction, Killip
class, blood glucose and the maximum troponin levels on admission. It was not found a
significant increase in mortality rate (1, 6 and 12 months) and major adverse cardiac events
(1, 6 and 12 months) in both groups.
Nevertheless, the group older than 80 years underwent an invasive strategy less frequently
(30.5 vs. 49.9%, p <0.001).
Conclusion
Indeed several studies substantiate the reality demonstrated in this research, namely that the
choice of an early invasive strategy (angiography and possible revascularization) declines
with age. On the other hand, the greatest benefit of this strategy, translated into the effective
reduction of mortality and re-infarction in the long term, is obtained by individuals at greatest
risk, which includes the elderly. Therefore, was not the fear of complications, it would make
sense to treat acute coronary syndromes in the elderly with an aggressive approach