A formação do leitor exige processos de subjetivação. Não há possibilidade de enlaçar o sujeito à prática leitora sem que seja tocada sua memória afetiva, tramada a partir dos muitos discursos que a constituem, vários deles tensionados pela linguagem poética. Logo, compreende-se que a leitura significativa apenas se efetiva quando é permitido ao leitor atuar por meio da subjetividade, fazendo verter do texto lido o encontro de si com outras possibilidades discursivas. Nesse sentido, a presença do texto literário desde os primeiros anos do ensino fundamental torna-se fulcral, na medida em que se trata de campo privilegiado para o reposisionamento subjetivo pela apropriação dos letramentos de prestígio. Entretanto, boa parte da ação escolar que objetiva a formação de leitores parece desconsiderar a vinculação entre subjetividade e leitura e, consequentemente, a relevância da leitura literária em seu espaço. Tal concepção conduz à aplicação de atividades centradas na apropriação de operações que habilitam a criança a esquadrinhar os textos sem comprometê-la efetivamente com a leitura em seu potencial formativo. Submetem, portanto, os sujeitos à condição de leitores funcionais, imobilizando posições discursivas construídas historicamente. Essas constatações resultam de pesquisa focada nas propostas de leitura veiculadas pelos livros didáticos (LD) de língua portuguesa do ciclo 1 do Ensino Fundamental. Tendo em vista que o LD é importante objeto difusor de discursos, a pesquisa alerta para a necessidade de rever os fundamentos das abordagens concernentes à formação do leitor, sobretudo no momento inaugural de sua jornada