MÚSICA EM RODA: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CAPS AD NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE (PB)

Abstract

A Reforma Psiquiátrica no contexto brasileiro trouxe algumas mudanças na prática da saúde mental, tendo sua primazia pela gradativa desinstitucionalização e implantação dos serviços substitutivos. Esse novo modelo foi pensado como uma forma de modificar os cuidados e assistências dados às pessoas em sofrimento psíquico, buscando melhor qualidade de vida destes na medida em que os retira do ambiente manicomial e resgata a formação de vínculos sociais. Com esse propósito, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dividindo-se conforme sua demanda em: CAPS I, II e III, CAPS i e CAPS AD, sendo este último um serviço específico para o cuidado e atenção integrada e continuada às pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas (BRASIL, 2013). O CAPS AD da cidade de Campina Grande (PB) utiliza da metodologia de oficinas, bem como de outras atividades, visando intervenções terapêuticas aos usuários do serviço, de acordo com cada projeto terapêutico singular. A vivência de estágio neste serviço oferecida pela disciplina de Estágio Básico I do curso de Psicologia da Universidade Federal de Campina Grande suscitou algumas questões frente ao espaço da Oficina de Música realizada na instituição. Esta oficina acontece todas as segundas-feiras no período da manhã como uma forma de proporcionar um momento de lazer e se procede da seguinte forma: os usuários sentam-se em círculo e pedem uma canção respeitando a sequência da roda. Essa música é tocada, e todos que se sentirem a vontade cantam e/ou dançam. As atividades desta oficina foram acompanhadas durante três semanas de estágio e, diante delas, foi possível levantar questões quanto a possibilidade da realização de também intervenções terapêuticas a partir deste lazer oferecido por esta oficina. No último encontro foi proposto por parte dos estagiários um momento de falas a partir do pedido da música de cada usuário, no intuito de proporcionar um espaço para que eles se colocassem enquanto sujeitos diante da representatividade ou rememoração que a música pedida lhes provocasse. Luiz Gonzaga foi pedido para sentir a família mais perto. Músicas gospel para sentir a sensação de paz. Milton Nascimento para relembrar momentos anteriores à entrada na adicção. Geraldo Vandré para tempos difíceis. Lulu Santos para relembrar primeiros encontros. Raul Seixas para momentos de maluquices. Segundo Coqueiro, Vieira e Freitas (2010), a arte é percebida como um dispositivo de enriquecimento dos sujeitos, valorização das diversas e livres expressões e descoberta de potencialidades singulares, bem como proporciona aos usuários vivenciar suas dificuldades, conflitos, medos e angústias de maneira menos sofrida. A música possui fatores culturais que são capazes de servir de amarras ao indivíduo a seus valores culturais e, portanto, a si mesmo, reconstruindo a sua história (ANDRADE; PEDRÃO, 2005). Assim, esta arte se mostrou como um artifício para o impulso da fala e do compartilhamento de vivências com o grupo, visto que, a partir de uma pequena mudança no objetivo da oficina, pôde-se trazer para a roda de canções a música que trazia significações experiências singulares

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