Conduzir a máquina, construir o trabalho sobre usos sociais da matéria

Abstract

This research takes as starting point Anthropology’s theoretical and methodological developments through which technology and work came to be looked at as social and cultural practices. It assumes that selves weave and make sense of the social world, in a dynamic and historical way, yet they also objectify it, for they must act and interact. This study also assumes that anthropological knowledge, though requiring some degree of reflexivity in order to build its own validity, rather focuses on a world perceived as external. Being subjective, such knowledge is also inter-subjective: it can be shared and partly reproduced in the scope of Anthropology’s disciplinary tradition. The relation between technology and society is the main research subject. As a case study, the social uses of technological knowledge and technological practices, in an industrial work arena, among the machine operators of the glass container industry at Marinha Grande (Portugal) are focused. Ethnographic methodologies were used, through repeated stays at the shop floor along with a worker’s team. These workers, as well as other relevant people, were also in‑depth interviewed. In order to understand the social construction of the machine operators, three additional corpora of data were built, through a wide range of oral and written sources. Those data refer to the history of the Marinha Grande’s and Portuguese glass container industry; to the whole Marinha Grande glass industry (namely its current ‘heritaging’ process); and to the current technological and organisational trends at the global glass container industry. Most of the data concerning technological practices were systematised through the ‘operational sequence’ concept, some complementary concepts having been proposed to make it fit the study of automatic production contexts. This study has observed that machine operators direct their technological practices and their relationship with the machine towards the creation of social areas of autonomy and decision‑making, through which they take possession of their work. They support these social choices with technical arguments, drawn from a representation of glass container production as a complex, unstable process, demanding their skilled, judicious intervention at all times. Because that representation is largely shared among the plant hierarchy, and also because rationalising trends (of growing importance) and ‘productivist’ ones (still dominant) compete within the organisation, there is an ambiguous organisational answer (explicit refusal yet tacit consent) to the transgression and autonomy that mark the operators’ technological practices. Hence the operator’s technological practices are deeply social, illustrating once more the social shaping of technology. Moreover, the very materiality of production provides the operators with (talked and acted) arguments to build their social place in the factory, suggesting that technology and matter, more than being socially constructed, are an object of relevant social uses. As those often imply naturalistic representations of technology, it seems indispensable to study the material features of technological phenomena in order to understand them as long as dynamics of meaning, interpretation and power.Dans cette étude, on part des acquis théoriques et méthodologiques qui permettent, en Anthropologie, penser les techniques et le travail en tant que pratiques sociales et culturelles. On présuppose que le social est construit et interprété, mais aussi objectivé pour permettre l’action et de l’interaction. On considère que, chez l’Anthropologie, la connaissance, bien que demandant le degré de réflexivité nécessaire à la construction de sa validité même, construit pourtant des objets qui questionnent un monde perçu comme extérieur. Il s’agit donc d’une connaissance, bien que subjective, aussi inter-subjective: on peut la partager et la reproduire partiellement à l’intérieur de la tradition disciplinaire. L’objet de recherche est ici la relation entre technique et société. L’étude de cas concerne les usages sociaux des connaissances et des pratiques techniques, dans un environnement social dense (l’usine, le travail), chez les conducteurs de machines de l’industrie automatisée de verre d’emballage à Marinha Grande (Portugal). On a eu recours à la méthode ethnographique, suivant en usine une équipe d’ouvriers. Des interviews approfondies, en dehors de l’usine, avec ces ouvriers et d’autres sujets concernés, ont aussi eu lieu. Moyennant des sources oralles et des sources écrites très diversifiées, on a construit des données pour comprendre le processus de construction sociale de ces ouvriers: données sur l’histoire de l’industrie de verre d’emballage à Marinha Grande et au Portugal; sur l’ensemble de l’industrie verrière à Marinha Grande (envisageant notamment son actuel processus de patrimonalisation); sur les tendances technologiques et organisationnelles les plus importantes observables chez l’industrie de verre d’emballages au niveau global. La plupart des données concernant les pratiques techniques a été systématisé moyennant le concept de chaîne opératoire, auquel on propose d’ajouter quelques concepts complémentaires pour le rendre adapté à l’étude des environements industriels automatisés. On a observé que les conducteurs directionnent ses pratiques techniques et son rapport à la machine vers la création d’espaces sociaux d’autonomie, décision et appropriation du travail. Avec ces choix sociaux ils font interagir des arguments techniques, qui s’appuient sur une représentation du processus de production en tant que complexe et instable, leur demandant de très fréquentes interventions qualifiés et judicieuses. Puisque cette représentation est largement partagée par l’hiérarchie de l’usine, les éléments de transgression et autonomie qui se trouvent dans les pratiques techniques des conducteurs suscitent une réponse ambigüe (refus explicite mais accord tacite) de part de l’organisation, chez laquelle s’entrecroisent des logiques rationalisantes (chaque jour plus importantes, d’après les tendances globales) vs. des logiques productivistes (encore dominantes). Les pratiques techniques des conducteurs se présentent, donc, vraiment sociales, ce qui rend visible, encore une fois, le caractère social de la technique. Davantage, si c’est dans la matérialité de la production que les conducteurs trouvent des arguments (discoursifs et pratiques) pour façonner son espace social dans l’usine, voilà ce qui suggère que la technique et la matière, au delà d’être socialement construites, sont aussi l’objet d’usages sociaux remarquables. Puisque ces usages impliquent souvent des représentations naturalisantes des techniques, il semble indispensable questionner celles-ci dans sa materialité pour les comprendre en tant que dynamiques de signification, interprétation et pouvoir.O presente estudo parte das aquisições teóricas e de método que, em antropologia, permitem pensar as técnicas e o trabalho enquanto práticas sociais e culturais. Pressupõe que o social é construído e interpretado, dinâmico e histórico, mas também objectivado para efeitos de acção e interacção. Considera que o conhecimento em antropologia, embora exigindo a reflexividade necessária à sua própria validação, incide todavia sobre objectos que interrogam um mundo percebido como exterior – sendo então, embora subjectivo, igualmente intersubjectivo: i.e., partilhável e parcialmente reprodutível no âmbito da tradição disciplinar. É objecto global de pesquisa a relação entre técnica e sociedade, tendo-se tomado como caso as utilizações sociais dos conhecimentos e práticas técnicos, no contexto socialmente denso da fábrica e do trabalho, entre os condutores de máquinas da indústria automatizada de vidro de embalagem na Marinha Grande (Portugal). Utilizou-se o método etnográfico, com permanências em meio fabril acompanhando uma equipa de operários e realizaram-se entrevistas aprofundadas (guião semi‑directivo), fora da fábrica, a esses e outros intervenientes. Mediante fontes orais e fontes escritas muito diversificadas e visando apreender o processo de construção social dos condutores de máquinas, foram construídos dados sobre a diacronia do sector industrial em causa, na Marinha Grande e em Portugal, sobre o conjunto do contexto vidreiro marinhense (nomeadamente os actuais processos de patrimonialização) e sobre as principais tendências técnicas e organizacionais da indústria de vidro de embalagem a nível global. Parcela importante dos dados construídos a respeito das práticas técnicas em estudo foi sistematizada mediante o conceito de cadeia operatória, para cuja aplicação a contextos industriais automatizados se propõem conceitos complementares. O estudo observou que os condutores de máquinas orientam as suas práticas técnicas e a sua relação com a máquina no sentido da criação de espaços sociais de autonomia, decisão e apropriação do trabalho. Com estas escolhas sociais fazem interagir argumentos técnicos, apoiados numa representação do processo produtivo enquanto complexo e instável, requerendo da sua parte constantes intervenções casuísticas e judiciosas. Uma vez que esta representação é, em grande medida, partilhada pela hierarquia fabril, os elementos de transgressão e autonomia presentes nas práticas técnicas dos condutores suscitam uma resposta ambígua (recusa explícita mas aceitação tácita) por parte da organização, no interior da qual se cruzam lógicas racionalizadoras (crescentemente importantes, no âmbito de tendências globais) vs. lógicas produtivistas (ainda dominantes). As práticas técnicas dos condutores apresentam-se, então, fortemente sociais, ilustrando ainda uma vez o carácter socialmente construído da técnica. Adicionalmente, o facto de ser na materialidade da produção que os condutores buscam argumentos (de discurso e de prática) para a quotidiana construção do seu lugar social na fábrica sugere que a técnica e a matéria, mais que serem socialmente construídas, são objecto de relevantes usos sociais. Passando estes, amiúde, por representações naturalizantes das técnicas, afigura-se indispensável interrogá-las na sua materialidade para as compreender enquanto dinâmicas de sentido, interpretação e poder

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