RESUMO: Introdução: O dramático aumento da esperança de vida é uma das maiores conquistas das sociedades
modernas. No entanto, muitos desses últimos anos podem ser passados com incapacidade física e má
qualidade de vida. A reduzida ingestão proteica associa-se à perda de massa muscular e de força nos idosos.
Contudo, a evidência científica sobre a associação entre a ingestão proteica e limitação funcional em idosos
é limitada. Assim, os objetivos deste estudo são: 1) determinar a prevalência de limitações funcionais na
população idosa a viver na comunidade em Portugal; 2) estabelecer a associação entre a ingestão de
alimentos com alto teor proteico e as limitações funcionais nesta população.
Métodos: Para responder aos objetivos foi utilizado um estudo transversal em 2393 indivíduos ( 65 anos)
da segunda onda de avaliação da coorte EpiDoC, um estudo de base populacional representativo da
população portuguesa. Os participantes responderam a um questionário estruturado durante uma entrevista
por telefone. Foram recolhidos dados sociodemográficos, de saúde, de estilos de vida, de ingestão alimentar,
dados antropométricos e função física. A limitação funcional foi definida como uma pontuação superior a 0
no Health Assessment Questionnaire (HAQ). Utilizou-se regressão logística binária e regressão linear para
avaliar a associação entre os alimentos com alto teor proteico e a prevalência de limitações funcionais.
Resultados: A prevalência de limitação funcional entre os idosos portugueses foi de 81,0% (n = 2236). A
prevalência aumentou com o grupo etário (76,9% para os indivíduos entre os 65 e os 75 anos vs. 93,1% nos
indivíduos com mais de 85 anos) e foi mais elevada em indivíduos do sexo feminino (87,1%) e na região dos
Açores (85,3%). Não houve associação entre o consumo de alimentos com alto teor proteico (carne, peixe e
produtos lácteos) e as limitações funcionais [por exemplo, comer carne todos os dias vs. comer carne
raramente ou nunca, em relação à presença de limitações funcionais (OR 0,75; IC a 95%: 0,32-1,78)]. Apesar
deste resultado, verificou-se que a idade, o sexo, o índice de massa corporal, a multimorbilidade, a toma de
medicação e o estado de saúde percebido estavam significativamente associados (p < 0,05) à existência de
limitação funcional [por exemplo, índice de massa corporal (OR 1,08; IC a 95%: 1,03-1,12)], conforme já
reportado na literatura científica.
Conclusão: Existe uma elevada prevalência de limitações funcionais nos idosos portugueses e as intervenções
nutricionais que previnam o seu desenvolvimento são de extrema importância. Não foi identificada
associação entre o consumo de alimentos com alto teor proteico e a prevalência de limitações funcionais em
idosos portugueses. Estes resultados carecem de replicação noutros estudos em diferentes contextos.ABSTRACT: Introduction: The dramatic increase in life expectancy ranks one of the greatest achievements of the modern
societies. However, many of these later years may be spent with increasing disability and compromised
quality. Reduced protein intake has been associated with loss of muscle mass and strength in older adults.
However, evidence on the association between protein intake and functional limitations among older adults
is limited. We aimed to: 1) determine the prevalence of functional limitations among community-dwelling
Portuguese older adults and 2) establish the association between the consumption of high-protein foods and
functional limitations among Portuguese older adults in these population.
Methods: A cross-sectional analysis of 2393 adults( 65 years), of the second wave of follow-up of the EpiDoC
cohort - a population-based study representative of the Portuguese population, was performed. Subjects
completed a structured questionnaire during a telephone interview. Sociodemographic, health data, lifestyle
behaviours, dietary intake, anthropometric data and physical function were collected. Functional limitation
was defined as a score > 0 in the Health Assessment Questionnaire. Binary logistic regression and linear
regression were used to assess the effect of high-protein foods on functional limitations.
Results: Functional limitation prevalence among older adults was 81.0% (n = 2236), increased with age strata
(76.9% for 65 – 75 years to 93.1% for > 85 years), and was highest in female individuals (87.1%) and in the
Azores (85.3%). There was no association between the consumption of high-protein foods (meat, fish and
dairy products) and functional limitation outcomes [e.g. the odds of having functional limitations (HAQ > 0)
was similar for eating meat every day vs. eating meat rarely or never (OR 0.75; 95% CI: 0.32-1.78)]. Despite
this result, we found that age, sex, body mass index, multimorbidity, medication use and perceived health
status were significantly associated (p < 0.05) with functional limitation prevalence [e.g. body mass index (OR
1.08; 95% CI: 1.03-1.12)], as previously reported in scientific literature.
Conclusion: Community-dwelling Portuguese older adults have a high prevalence of functional limitations,
suggesting the urge to address this situation with nutritional interventions that prevent the development of
functional limitations. There was no association between the consumption of high-protein foods and the
prevalence of functional limitations in Portuguese older adults. These findings need to be replicated in other
studies in different settings