Desigualdades socioeconómicas e geográficas na doença crónica e multimorbilidade em Portugal

Abstract

Trabalho Final do Curso de Especialização em Administração HospitalarRESUMO - Enquadramento: A saúde, para além de uma questão de justiça social, é um direito humano e um bem fundamental reconhecido na Constituição da República Portuguesa, devendo o Estado assegurar a equidade no acesso aos cuidados de saúde. A Lei de Bases da Saúde defende que a condição económica e a localização não devem ser discriminadoras no acesso aos cuidados de saúde. O objetivo do presente estudo consistiu em determinar se existem desigualdades socioeconómicas e geográficas na doença crónica e na multimorbilidade em Portugal. Metodologia: Foi realizado um estudo quantitativo, transversal e retrospetivo, com base no Inquérito Nacional de Saúde de 2014, representativo da população residente em Portugal. Os determinantes de saúde selecionados foram a educação, situação profissional, nível de rendimento, região de residência e densidade populacional, sendo estudado o seu impacto na doença crónica, multimorbilidade, multimorbilidade complexa e número de doenças crónicas. Foi efetuada uma análise univariada de forma a conhecer as respetivas prevalências. Posteriormente, foi realizada uma análise multivariada em que o impacto no número de doenças crónicas foi analisado segundo a regressão de Poisson e nos restantes resultados de saúde recorrendo à regressão logística. Foram ainda calculadas curvas de concentração e índices de concentração para quantificar o grau de desigualdade das variáveis de saúde relacionadas com o rendimento. Resultados: O maior nível socioeconómico, as regiões do Algarve e os arquipélagos da Madeira e Açores, bem como as áreas mediamente povoadas revelaram-se protetoras para o desenvolvimento de doença crónica e multimorbilidade. Existe uma relação inversa do rendimento com o número de doenças crónicas, tendo o maior nível de rendimento oferecido proteção. As situações profissionais de incapacidade laboral permanente, reformados e indivíduos que se ocupam de tarefas domésticas apresentaram risco para o desenvolvimento de doença crónica e multimorbilidade. Conclusão: Os resultados encontrados demonstram que o nível educacional, a situação laboral, o rendimento, a região geográfica e a densidade populacional estão associados à desigualdade na doença crónica e/ou multimorbilidade. Assim, fundamentam e justificam a necessidade de adequar as políticas públicas, sociais e macroeconómicas aos níveis nacional, regional e local, colocando o doente no centro do sistema. Permitem concluir que uma maior atenção deve ser dada aos grupos socioeconómicos mais desfavorecidos e à região de residência, no sentido de diminuir as desigualdades e, potencialmente, aumentar os ganhos em saúde.ABSTRACT - Background: Health, far more than a matter of social justice, is a human right and a fundamental privilege acknowledged by the Portuguese Republic Constitution, being a state matter to ensure equality in healthcare access. It is defined by the Health Law that economic condition and geography should not be discriminator factors in the healthcare access. This study objective was to determine if socioeconomics and geography had some influence in chronic diseases inequalities and multimorbidity in Portugal. Methodology: Using the National Inquiry of 2014, was done a quantitative, transversal and retrospective study, representative of Portugal resident population. The determinants selected were education, professional status, level of income, residence region and population density. The impact of these determinants were studied in chronic diseases such as: multimorbidity, complex multimorbidity and number of chronic diseases per patient. Was done an univariate analysis to know the prevalence of each one. Afterwards was done a multivariate analysis to understand the impact of these determinants in the number of chronic diseases per patient, using Poisson regression. For the other health results was used the logistic regression analysis. Lastly, we calculated the concentration curves and concentration indexes in order to quantify the inequality level of the health determinants associated with income. Results: Regions with better socioeconomic level, such as Algarve, Madeira and Açores, and regions densely populated were revealed as less likely to the development of chronic diseases and multimorbidity. There is an inverse relation between income and number of chronic diseases, better income is a protection factor. People permanently disabled for work, retired and domestic workers have increased risk for chronic diseases development and multimorbidity. Conclusion: Our results show that educational level, employment status, income, geographic region and population density are associated with inequalities chronic diseases and/or multimorbidity. Therefore, is necessary to adjust public health, social and macroeconomic policies to the national, regional and local level, placing the patient in the center of the system. These results allow us to conclude that there should be given more attention to socioeconomic disfavored groups and residence location, in order to diminish inequalities and potentially increase health gains.info:eu-repo/semantics/draf

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