Impacto na saúde pública da terapêutica com Iodo-131 nas doenças da tiroide: avaliação dosimétrica da exposição a Iodo-131, nos familiares e cuidadores dos doentes submetidos a terapêutica da tiroide

Abstract

RESUMO - Os familiares/cuidadores dos doentes que realizaram terapêutica da tiroide com 131I estão sujeitos a três potenciais tipos de exposição a radiações ionizantes: exposição externa, contaminação interna pela ingestão ou absorção do 131I e contaminação interna por inalação de 131I volatilizado no ar. O objetivo deste estudo é avaliar a exposição interna e externa a 131I dos familiares/cuidadores, que coabitam com doentes submetidos a terapêutica com 131I, para hipertiroidismo (Hiper) ou Carcinoma Diferenciado da Tiroide (CDT). O contributo inovador deste estudo assenta na avaliação da dose de exposição e da contaminação internas dos familiares/cuidadores a 131I, paralelamente à dose de exposição externa. Metodologia: Estudo analítico transversal em duas instituições de saúde, cuja amostra por conveniência incluiu 68 doentes submetidos a terapêutica para Hiper ou CDT e 113 indivíduos seus familiares/cuidadores. Mediram-se as grandezas dosimétricas Hp(10) e Hp(0,07) em 83 familiares/cuidadores, com dosímetros TLD durante 21 dias. Mediu-se por espectrometria gama a concentração de atividade de 131I na urina de 34 familiares/cuidadores, após 72 horas de contacto com o doente. Resultados: A atividade média administrada de 131I foi de 2730,8 ± 1603,2 MBq e o débito de dose efetiva (DDE) médio medido a 1 metro foi 12,8 ± 7,6 μSv.h-1. O valor de Hp(10)efetivo médio nos familiares/cuidadores foi de 0,19 ± 0,46 mSv e o valor de Hp(0,07)efetivo foi de 0,18 ± 0,45 mSv. Existe evidência de que a distribuição do Hp(10) não é a mesma entre as categorias da atividade de 131I (2(4) = 296,86; p <0,01) nem do DDE (2(4) = 14,90; p <0,01). Dos 34 familiares/cuidadores apenas em 3 não se detetou 131I na urina. A concentração de atividade média de 131I na urina foi de 97,43 ± 261,24 Bq.L-1. Existe uma forte correlação entre o DDE e o 131I na urina (ρsp = 0,730; p <0,01). Discussão/Conclusões: Existe exposição interna e externa a 131I dos familiares/cuidadores dos doentes envolvidos no estudo. Os valores medidos da dose de exposição externa são inferiores aos limites propostos pela ICRP 97 (1998), ICRP 94 (2004) e os regulamentados em Portugal. Os valores medidos da concentração de atividade na urina devido a contaminação interna não representam perigosidade radiológica para os indivíduos expostos.ABSTRACT - Family members (FMs) /caregivers of the patients who experience 131I thyroid therapy are potentially exposed to three types of radiation exposures: external exposure, internal contamination from ingestion or absorption of 131I, and internal contamination by 131I inhalation. This study aimed at evaluating the internal and external exposure to 131I of FMs/caregivers who live with patients undergoing 131I therapy for hyperthyroidism (Hyper) and differentiated thyroid carcinoma (DTC). The innovative contribution of this work stems from the assessment of the internal exposure dose and contamination of the FMs/caregivers to 131I, in parallel to the external exposure dose. Methodology: A cross-sectional analytical study was performed in two health institutions, with a convenience sample comprising 68 patients undergoing therapy for Hyper or DTC and 113 FMs/caregivers. For 21 days, the dosimetric quantities Hp(10) and Hp(0.07) were measured in 83 FMs/caregivers using TLD dosimeters. Post 72 hours of patient-contact, the activity concentration of 131I in the urine of the 34 FMs/caregivers was measured using gamma spectrometry. Results: The mean activity of 131I administered was 2730.8 ± 1603.2 MBq and the average value of the measured effective dose rate (EDR) measure at 1 meter was 12.8 ± 7.6 μSv.h-1. The average value of Hp(10)effective measured among the FMs/caregivers was 0.19 ± 0.46 mSv and the average value of Hp(0.07)effective was 0.18 ± 0.45 mSv. There is evidence that the distribution of Hp(10) is not the same among the categories of 131I activity (2(4) = 296,86; p <0.01), neither the EDR one (2(4) = 14,90; p <0.01). Of the 34 FMs/caregivers, for only 3 131I was not detected in the urine. The mean activity concentration of 131I in the urine was 97.43 ± 261.24 Bq.L-1. A strong correlation between the EDR and the 131I in the urine (ρsp = 0.730; p <0.01) was observed. Discussion/Conclusions: FMs/caregivers undergo both internal and external exposure to 131I. The measured external exposure dose values are below the limits proposed by ICRP 97 (1998), ICRP 94 (2004) and those available in the Portuguese regulations. The measured values of activity concentration in the urine due to internal contamination do not represent a radiological hazard for the exposed individuals

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