O presente texto constitui a memória do projecto prático desenvolvido ao longo do
Mestrado em Ciências da Comunicação – especialização em Cinema e Televisão.
Procurei aliar a concepção de uma curta-metragem com cerca de dezasseis minutos,
escrita, realizada e montada por mim, com a formulação de um problema de relevância
teórica no âmbito da prática cinematográfica e das Ciências da Comunicação.
Em concreto, e tendo como ponto de partida o filme realizado, procuro abordar e
desenvolver o complexo tópico do tempo e da temporalidade no cinema, identificando
as suas múltiplas dimensões, intuitivamente distinguíveis. Desta forma, procurarei
acima de tudo, constatar como é que esta questão é tratada na teoria do cinema, com
foco na contemporaneidade. A ideia de “construção de uma temporalidade” remete para
a vertente mais prática do projecto e sugere a criação de uma dimensão do tempo,
específica do cinema e através do dispositivo cinematográfico.
O conceito de tempo é intrincado e problemático. A dificuldade em trabalhá-lo
surge da multiplicidade de abordagens existentes, principalmente da física e da filosofia,
que se estendem por centenas de anos. De modo a cingir o texto aos seus propósitos
fundamentais, reduzindo o risco de dispersão, escolhi destacar as ideias de Henri
Bergson, cujo conceito de duração tem sido empregue repetidamente na teoria do
cinema, directamente ou por via da filosofia do cinema de Gilles Deleuze. Assim, é
possível simplificar duas concepções de “tempo”, uma relativa à utilização prática e
quotidiana da palavra, um tempo cronológico, mensurável, representado numericamente
e numa lógica de sucessão permanente, e outra, próxima da “temporalidade” que o
cinema tem a capacidade de transmitir. Esta última está ligada à ideia da percepção, da
subjectividade e da sobreposição e interpenetração de instantes, noções bergsonianas,
uma ideia frequentemente validada e veiculada pelo cinema, e argumentada ao nível das
teorias