Os verdes de cobre sintéticos em documentos gráficos dos séculos XII-XVIII: história e caracterização molecular

Abstract

Esta tese propõe-se a estudar a história e a caracterização molecular dos pigmentos verdes de cobre sintéticos a partir de reproduções (tão) historicamente rigorosas (quanto possível) das receitas encontradas em fontes contemporâneas ou anteriores aos documentos em que são encontrados. Foram mapeadas receitas em tratados antigos desde o século I até manuais técnicos franceses, espanhóis e portugueses do século XVIII, passando pelos centrais receituários medievais. Identificou-se dezenas de receitas de pigmentos relevantes, que foram transcritas, interpretadas, associadas por similaridade, “traduzidas quimicamente” e executadas tão fielmente ao processo original quanto viável (ver infográfico A3 em separado). As amostras decorrentes foram caracterizadas elementarmente por fluorescência de raios-X dispersiva em energias (μ- EDXRF) e molecularmente por microespectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (μ-FTIR), microespectroscopia Raman (μ-Raman) e difração de raios-X (DRX). A maioria dos pigmentos produzidos continha apenas acetato neutro de cobre(II) monoidratado (Cu(CH3COO)2·H2O) (grupo I). Algumas continham adicionalmente oxalato(s) (grupo II), o que demonstra que essas substâncias podem não decorrer necessariamente de processos de degradação, eventualmente pertencendo à composição original do pigmento. Um pigmento produzido a partir de latão continha acetato de zinco, provavelmente di-hidratado (Zn(CH3COO)2·2H2O) (subgrupo II-c). Outras amostras continham cloretos de cobre, especialmente nantoquita (CuCl) e atacamita (Cu2(OH)3Cl) (grupo III), chegando a ser produzida amineíta (CuCl2(NH3)2) (subgrupo III-c). Paralelamente analisou-se artefatos históricos selecionados: iluminuras românicas portuguesas (séculos XII-XIII), cartografia iluminada de Fernão Vaz Dourado (século XV), livros de horas de produção francesa (séculos XV-XVI), e iconografia e cartografia luso-brasileiras (séculos XVIXVIII), com foco em eventuais relações com os pigmentos aqui sintetizados. Especificamente quanto ao pigmento verde-garrafa, nossas amostras sugerem que a presença de zinco em amostras históricas pode influenciar quimicamente e porventura (ou portanto) também esteticamente as características dessa tinta. E as amostras do grupo II que reúnem três condições (decorrem de processos que usam contêiner de carvalho, mel e nenhum sal) exibem o mesmo alargamento e deslocamento da base das bandas de balanço (rocking) CH3 do acetato neutro de cobre (II) esperado em ~1050 e ~1030 cm-1 (aqui em ~1080 e ~1040, respectivamente) observados em todos os espectros de amostras históricas de verde-garrafa examinados. Isto permite afirmarmos que esses três elementos não são necessariamente suficientes mas são imprescindíveis em tentativas de reprodução do processo histórico de síntese do verde-garrafa

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