Factores associados a não utilização da consulta pós-natal por crianças lactantes em Moçambique: análise do inquérito nacional de saúde de 2015 (IMASIDA)
Introdução: A saúde materno-infantil é uma das mais destacadas prioridades endossadas pelo governo Moçambicano. Várias são as acções e intervenções visando a redução da morbimortalidade materno-infantil, através da melhoria da prestação de serviços de saúde para condições específicas da mulher e da criança. Com efeito, a melhoria de prestação de cuidados de saúde para os estratos populacionais de mulheres e crianças menores de 5 anos de idade é um foco indicado no Plano Estratégico do Sector de Saúde 2014-2019 (PES 2014-2019)(1). Por outro lado, há décadas que a Organização Mundial de Saúde(OMS)(2) refere que se tem negligenciado o facto da maioria das complicações que causam grande fardo da morbimortalidade materno-infantil ocorrerem no período pós-parto; a mortalidade neonatal precoce permaneceu elevada ao longo das décadas de 1990 e 2000 especialmente em países em vias de desenvolvimento, como é o caso de Moçambique. Melhores serviços ou cuidado de saúde no período pós-natal são um dos mais importantes serviços a prestar-se para reduzir a morbimortalidade dos neonatos e suas puérperas. O presente estudo utiliza dados actuais de Moçambique no sentido de aprofundar a disponibilidade de evidências sobre os factores da não utilização de consultas pós-natais, de modo a informar intervenções e políticas que favoreçam as mesmas.
Objectivo: analisar os factores de não utilização de consultas pós-natais por lactantes nos primeiros 2 meses de idade, em Moçambique.
Metodologia: estudo observacional, com abordagem quantitativa, recorrendo-se a dados secundários do Inquérito de Saúde (IMASIDA) de 2015. O IMASIDA foi um estudo de corte transversal, a nível de agregados familiares, e utilizou questionários estruturados e validados. O foco do presente estudo foi a não utilização das consultas pós-natais até 2 meses (variável dependente) em crianças de até 2 anos de idade na altura do inquérito, e as variáveis independentes foram as socioeconômicas, demográficas e de utilização dos serviços de saúde; recorrendo-se ao modelo lógico Anderson e Newman para a definição das variáveis do estudo, realizaram-se análises univariável, bivariável e multivariável com recurso a regressão logística tendo em consideração o processo de amostragem complexo.
Resultados: cerca de um quinto dos lactantes (21%, IC95%=19,7-23,1) não foram levados a consulta pós-natal dentro de 2 meses após o nascimento. Residir na zona centro do país (aOR=1.759; 95% IC aOR=1.088-2.846), ter desejado a gravidez (aOR=0.433; 95%IC aOR=0.217-0.864), não ter feito consultas pré-natal (aOR=2.052; 95%IC aOR=1.029-4.092) e
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ter dado a luz na unidade sanitária (aOR=0.284; 95%IC aOR=0.193-0.416) são as variáveis que estão associadas com a não utilização das consultas pós-natais. No modelo ajustado, a associação com o nível de educação, e com o índice de riqueza não é significativamente diferente de zero.
Conclusões: esforços adicionais são necessários para reduzir a proporção de não utilizadores de consulta pós-natal dentro do período crítico pós parto, considerando que a almajeda redução de mortalidade infantil nos objectivos de desenvolvimento sustentável estão também dependentes da redução da mortalidade neonatal, para o qual muito contribui o pacote de serviços de qualidade oferecidos no período pós-natal. Os factores de não utilização da consulta pós-natal foram identificados e dependem de políticas ajustadas multisectoriais, não somente da política do sector de saúde, pese embora dentre os factores identificados como significativamente associados estejam destacados os indicadores de interacção materna com os serviços de maternidade.Introduction: Maternal and child health is a priority endorsed by the Mozambican government. There are a number of actions and interventions aimed at reducing maternal and child morbidity and mortality through improving the delivery of health services to specific conditions of women and children. Indeed, improved health care provision for women and children under 5 years of age is a focus indicated in the Mozambique Health Strategic Plan 2014-2019 (PES 2014-2019) (1). On the other hand, the World Health Organization (WHO) (2) has for decades noted the fact that most of the complications that cause great burden of maternal and child morbidity and mortality occur in the postpartum period; early neonatal mortality remained high throughout the 1990s and 2000s especially in developing countries, as is the case of Mozambique. Better services or health care in the postnatal period is an important intervention to provide health and reduce the morbidity and mortality of neonates and their mothers. The present study contributes uses most recent data from Mozambique in order to deepen evidence on the factors associated to use of postnatal consultations so to inform interventions and policies.
Objective: to analyze factors of non-utilization of postnatal consultations by infants during first 2 months of age in Mozambique.
Methods: observational study with a quantitative approach using secondary data from the 2015 Health Survey (IMASIDA). IMASIDA was a cross-sectional study at the household and used structured and validated questionnaires. The focus of the present study was the non-use of postnatal consultations up to 2 months (dependent variable) in children below 2 years of age, independent variables being socioeconomics, utilization of services and demographics; following Anderson and Newman logics model variables of the study were defined we employed univariate, bivariate and multivariable analysis the latter being logistic regression in the SPSS 24 complex samples module.
Results: about one-fifth of the infants (21%, 95% CI = 19.7-23.1) were not taken to the postnatal clinic within 2 months of birth. Resident in the central zone of the country (aOR = 1.759; 95% CI aOR = 1.088-2.846), desired pregnancy (aOR = 0.433; 95% CI aOR = 0.217-0.864) and have given birth in the health unit (aOR = 0.284, 95% CI aOR = 95% CI aOR = 1.088-2.846) 0.193-0.416) are the variables that are associated with non-use of postnatal consultations. In the adjusted model, the association with the index of wealth level of education is not significantly different from zero.
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Conclusions: additional efforts are needed to reduce the proportion of non-users of postnatal care since this is a critical period after childbirth. The reduction of infant mortality is one of the sustainable development goals, which depends on postnatal care also impacts reduction of neonatal mortality. The package of care has to contribute through quality services offered in the postnatal period, but factors of non-use of the postnatal consultation were identified and depended on multisectoral and better policies, not only health sector policy. Nevertheless, relevant factors identified are however significantly associated to the indicators of maternal interaction with health services