Tomando como tema de estudo a resistência política ligada ao contexto prisional no
Campo de Concentração do Tarrafal, pretendeu-se revisitar o período que vai da
inauguração desta unidade prisional, em outubro de 1936, até ao seu encerramento, em
janeiro de 1954; e, para esse fim, usaram-se os testemunhos de alguns prisioneiros, que
escreveram as suas memórias.
O objetivo principal desta investigação foi contribuir para a reflexão em torno de dois
aspetos fundamentais da problemática prisional, que não podem ser dissociados dos
métodos de afirmação do Estado Novo em Portugal. Por um lado, o facto de o lugar,
enquanto espaço, ter sido sentido e representado pelos encarcerados como um campo de
concentração, com características específicas de segurança que lhes asseguraram um
terrível e lento padecer; e, em segundo lugar, porque a compreensão das dinâmicas
prisionais orientadas para a prática da resistência política, segundo as narrativas
consultadas, permitiram aos presos transformar a sua história de repressão numa história de
grandeza. Foram estas as observações que nos levaram a equacionar a existência de uma
grandeza prisioneira, valorizadora das militâncias antifascistas, durante os dezoito anos em
que o Campo funcionou.
Tratando-se de uma pesquisa qualitativa, o exame dos objetivos foi orientado na perspetiva
da sociologia compreensiva, privilegiando-se a análise a um nível microssociológico,
construtivista e pragmático. A técnica seguida para a recolha de dados consistiu numa
extensa pesquisa documental e bibliográfica, sujeitando-se a informação recolhida a uma
análise de conteúdo, de modo a averiguar o sentido dado pelas próprias vítimas à sua
experiência no Campo do Tarrafal.
Apesar de dois constrangimentos óbvios - o tempo passado sobre os acontecimentos e o
facto de narrativas dominantes terem fabricado a versão «oficial» da história do Campo de
Concentração do Tarrafal -, tentou-se contribuir para a preservação da memória, resgatada
ao silêncio e ao esquecimento a que as vítimas do regime de Salazar foram remetidas.In order to achieve our goal of investigating political resistance within a prison context we
have set out to revisit the Prison Camp of Tarrafal, in the Cape Verde Islands, from its
inauguration in October 1936 to its closure in January 1954, as depicted in the written
testimonials left to us by some of the key players at the Camp.
The main purpose of this research is to contribute to the reflection on two prison-related
issues, which bear a close and intimate connection to the foundation and sustenance of the
dictatorial regime in Portugal, known as The New State. The first refers to the site and
layout of the camp itself which the prisoners felt resembled a concentration camp because
of specific safety features which were devised for their taxing and lengthy internment. The
second allowed us to inquire into the prison dynamics targeted at political resistance,
which according to several testimonials allowed the prisoners to transform their narrative
of enduring repression into an exercise of achieving greatness by means of active
resistance. These observations led us to expound on the significance of the anti-fascist
militancy over the camp’s eighteen-year life span.
Since this has been a qualitative research, our goals and methods were subject to scrutiny
in accordance with a comprehensive sociology perspective and a micro-sociological,
constructivist and pragmatic approach. Our data collection techniques were based on
documentation and bibliography research although each item was carefully appraised in
order to clarify our understanding of the actual events and of each individual’s insights, as
reported by the victims themselves.
In spite of the constraints we faced owing to the shear elapsed time over the events as well
as to the dominancy of a more or less official narrative, fabricated to account for the
history of the Tarrafal Concentration Camp, we have attempted to rescue from silence and
oblivion the memory of some of the victims who suffered exceedingly/
prominently/inordinately/ under the Salazar regime