Avaliação espacial da influência dos factores socioeconómicos na mortalidade por acidente vascular cerebral na população de Portugal continental

Abstract

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) constitui um problema de Saúde Pública de grande magnitude, tanto em mortalidade como morbilidade. Em 2010, representava, globalmente, a segunda maior causa de morte e a terceira causa de anos de vida perdidos ajustados pela incapacidade. A sua evolução temporal também traz preocupações, pelo aumento estatisticamente significativo, entre 1990 e 2010, verificado em indicadores como os anos de vida potencialmente perdidos e total de sobreviventes a um episódio. Embora ocorra mais frequentemente em adultos de meia-idade ou em idosos, entre 1990 e 2010 foi registado um aumento global e significativo na incidência em pessoas com idades compreendidas entre 20 e 64 anos de idade, para o qual contribuíram substancialmente países de baixo e médio rendimento. Esta situação, aliada ao facto, apontado por alguns autores, do risco de AVC apresentar padrões diversos de distribuição geográfica entre países mas também entre regiões do mesmo país, levanta interrogações acerca da importância dos determinantes socioeconómicos para a mortalidade e morbilidade por esta doença, bem como acerca da variação espacial da associação entre estes determinantes e o risco de AVC. Assim, foram aqui operacionalizados dois estudos com o objectivo de avaliar a variação espacial da associação entre mortalidade por AVC e determinantes socioeconómicos, tendo como área de estudo o território de Portugal Continental. Um dos estudos investigou a variação geográfica e temporal da associação entre determinantes pertencentes a várias categorias representativas do estatuto socioeconómico (por exemplo o nível de escolaridade) e mortalidade por AVC em pessoas abaixo dos 65 anos de idade, tendo como unidade estatística o município. Este coorte populacional suscitou interesse pela presente situação de crise económica e seus potenciais impactos na população em idade laboral. No segundo estudo abordou-se essencialmente o coorte populacional inverso, a população com mais de 64 anos de idade, tendo como unidade estatística a freguesia. Investigou-se a variação espacial da associação entre condições adversas de habitabilidade (por exemplo a incapacidade de aquecer a habitação no Inverno) e a mortalidade por AVC, pois a evidência existente sugere que este coorte populacional possa ser mais afectado por esta categoria de determinantes socioeconómicos. Os resultados de ambos os estudos permitiram constatar de forma expressiva a presença de variação espacial na associação entre cada grupo de determinantes socioeconómicos e o risco de AVC nos coortes populacionais investigados. Em ambos os casos, foi possível avaliar quais os determinantes mais relevantes para o risco de AVC e analisar a variação da força e sinal (positivo ou negativo) das associações ao longo do território. O nível de escolaridade surgiu no primeiro estudo como factor protector em geral, mas como factor de risco em certas zonas do território. A incapacidade de aquecer a habitação no Inverno revelou-se no, segundo estudo, como um potencial factor de risco, particularmente na área noroeste do território continental português. Os resultados obtidos sugerem que as metodologias testadas poderão contribuir para a vigilância epidemiológica do AVC, por exemplo na selecção de áreas de intervenção prioritária para acções de prevenção ou mitigação desta doença.Stroke is a major health problem, both in terms of morbidity and mortality. In 2010, this disease was the second major global cause of death, third in terms of Disability Adjusted Life Years (DALY´s). Its temporal evolution raises concerns amongst public health authorities, since a statistically significant global increase was noticed between 1990 and 2010 in health indicators such as DALY´s and total number of survivors to a stroke episode. Although it frequently occurs in middle-aged or older persons, a global and significant increase in incidence amongst persons between 20 and 64 years old was noticed between 1990 and 2010, to which low and medium income countries substantially contributed. This, and the fact that stroke risk presents diversified patterns of geographic distribution between countries but also between regions of the same country, raises serious questions regarding the importance of socioeconomic determinants to general stroke morbidity and mortality, but also about the spatial variation in the association between determinants and stroke risk. Two studies were operationalized here, both aiming to evaluate the spatial variation in the association between stroke mortality and its socioeconomic determinants within a study area comprising the Portuguese mainland territory. The first research study focused on the spatial and temporal variation of the association between determinants from several categories representing socioeconomic status (such as education) and stroke mortality, in persons below 65 years old, using the municipality as statistical unit. The present situation of economic crisis and its potential impacts in working-age population motivated the focus on this population cohort. The second research study was essentially focused on the opposite cohort, namely the population aged 64 years or older, and its statistical unit was the freguesia, an administrative level immediately below municipality and much smaller in size (in 2001 there were 278 municipalities and 4037 freguesias in the Portuguese mainland territory). This second research focused on the spatial variation of associations between poor housing indicators (such as the inability to warm up the dwelling during winter) and stroke mortality, since current evidence suggests that determinants from this category have a stronger effect on this population segment. Results for both studies signaled the presence of expressive spatial variation in associations between each group of socioeconomic determinants and stroke risk, in both cohorts. It was also possible for both cases to evaluate which determinants revealed more relevance to stroke risk and analyze the strength and signal (negative or positive) of associations across the Portuguese mainland territory. Education emerged as a general protective factor in the first study, but also as a risk factor in some areas of the territory. The inability to warm up the dwelling during winter was assessed as a potential risk factor in the second research study, particularly in the northwest area of the portuguese mainland. The accomplished results suggest that the tested methodologies and tools have the potential to contribute to the epidemiological surveillance of stroke. In this context, these could be used to target priority areas for interventions aiming to prevent or mitigate this disease

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