Em Portugal, a Antropologia, enquanto prática científica nas suas
diversas assunções, leva já um século de existência, estando todavia por fazer
uma História da Antropologia Portuguesa. Existem, é certo, visões parcelares,
mas mesmo essas surgidas apenas nas últimas duas décadas e referindo-se,
quase que exclusivamente, ao contexto «metropolitano»10. A dimensão colonial,
ou tem sido sistematicamente ignorada, ou tem-se prestado a leituras algo
marcadas por uma visão demasiado ideológica 11.
Esse quase desconhecimento do seu próprio passado poderá ter origem
naquela «cegueira histórica» referida por Thomas Kuhn e que conduz, como
consequência mais evidente, a «uma distorção drástica da percepção que o cientista
possui do passado da sua disciplina»12, ou, então, resultar do relativo atraso da Antropologia Portuguesa. Mas estas são leituras demasiado extemporâneas,
isto é, sem que se proceda à retrospecção factual e analítica das práticas
antropológicas portuguesas não se poderá emitir qualquer parecer nessa área.
Torna-se imperioso, por isso mesmo, reconstituir a História da Antropologia
Portuguesa, conhecer as suas motivações, dar conta das suas limitações, o que
conduzirá, necessariamente, a uma mais completa compreensão das suas
realizações, tanto as do passado, como as do presente