Prevalência de Anticorpos anti-Toxoplasma gondii em grávidas da região de Lisboa e Vale do Tejo e estudo dos factores de risco

Abstract

A toxoplasmose é uma antropozoonose de distribuição mundial que afecta quase um terço da população humana, bem como os animais e é causada por um protozoário intracelular obrigatório, Toxoplasma gondii. A prevalência desta parasitose na população humana varia com os hábitos alimentares, nível sócio-económico e com o clima. A transmissão ao homem está associada à ingestão de oocistos infecciosos (esporulados) provenientes das fezes dos gatos, a partir da água, de alimentos e do solo contaminados, ingestão de quistos na carne crua ou mal cozida, via congénita ou transfusional e por transplante de órgãos e/ou de tecidos de dadores infectados com o parasita e, mais raramente, através do leite não pasteurizado. A transmissão materno-fetal do parasita só ocorre quando a infecção é adquirida pela primeira vez na gravidez, podendo provocar sequelas graves para o feto, nomeadamente, atraso mental e morte fetal. O objectivo deste trabalho foi determinar a prevalência e os factores de risco associados à infecção por T. gondii em grávidas seguidas no Hospital Garcia de Orta. Este estudo teve a duração de 8 meses (Abril de 2010 a Janeiro de 2011) e foram contactadas 163 grávidas, das quais 140 (85,89 %) responderam ao questionário, tendo sido possível recolher soros de 155 (96,88%) grávidas. Os soros recolhidos foram testados para os anticorpos IgG anti-T. gondii pelo kit comercial Toxo-Screen Da e para os anticorpos IgM anti-T. gondii pelo kit comercial Toxo-ISAGA, ambos da bioMérieux®. Nas amostras seropositivas para o anticorpo IgM anti-T. gondii realizou-se a avidez dos anticorpos IgG anti-T. gondii através do kit NovaLisa - Toxoplasma gondii IgG Avidity Test da Novatec™. Foi efectuada a análise descritiva dos dados, centrada essencialmente em frequências absolutas para cada variável. Para testar a associação entre as variáveis utilizou-se o teste Qui-Quadrado de Pearson ou o teste exacto de Fisher (IC 95%, p≤0,05). A prevalência da toxoplasmose nas grávidas, neste estudo, foi de 21,94% (34), dos quais 50% (17) correspondem a grávidas seropositivas só para os anticorpos IgG (imunidade) e os outros 50% (17) correspondem a grávidas seropositivas para os anticorpos IgG/IgM. Neste último grupo, realizou-se a avidez e verificou-se que todas as grávidas eram portadoras de uma infecção antiga. Também, constatou-se que 78,06% das grávidas eram susceptíveis para a toxoplasmose, com risco de adquirirem a doença durante a gravidez. Na análise estatística entre os factores de risco e a infecção por T. gondii nas grávidas verificámos uma associação significativa (p<0,05) entre o número de partos, o conhecimento da toxoplasmose, o contacto com gatos de familiares/amigos e o consumo de carne proveniente da caça (pássaros, coelhos, javalis etc.). Estes factores parecem ser de grande importância na aquisição da infecção por T. gondii nas grávidas, deste estudo, dentre os vários factores investigados. Este trabalho pode constituir um alerta para que os profissionais de saúde insistam na prevenção primária, fornecendo informação (escrita e oral) sobre como evitar a infecção por T. gondii durante a gravidez e efectuar uma vigilância serológica, apenas quando esta se torna necessária, ou seja, nas grávidas não imunes à toxoplasmose.Toxoplasmosis is an anthropozoonosis of worldwide distribution that affects almost one third of the human population, as well as animals, caused by an intracellular protozoan Toxoplasma gondii. The prevalence of this parasite in human population varies due to dietary habits, socio-economic status and the climate. The transmission to humans is associated with ingestion of infectious oocysts (sporulated) from cat feces, water, food, contaminated soil, and ingestion of cysts in raw or undercooked meat, through congenital via or blood transfusion and by organ and/or tissue transplantation from an infected donor and, more rarely, through unpasteurized milk. The maternal-fetal transmission of the parasite only occurs when the infection is acquired for the first time during pregnancy, capable of causing serious harm to the fetus, including mental retardation and fetal death. The purpose of this study was to determine the prevalence and risk factors associated with infection by T. gondii in pregnant women followed at Hospital Garcia de Orta. This study had a duration of eight months (April 2010 to January 2011), where 163 pregnant women were contacted, of which 140 (85.89%) answered the questionnaire, enabling us to collect serum from 155 (96.88%) pregnant women. The collected serums were tested for the anti-T. gondii IgG antibodies by the Toxo-Screen Da commercial kit and for anti-T. gondii IgM antibodies the Toxo-ISAGA commercial kit was utilized, both from bioMérieux®. In seropositive samples for anti-T. gondii IgM antibodies an avidity test was held for anti-T. gondii IgG antibodies by the NovaLisa kit - Toxoplasma gondii IgG Avidity Test of Novatec™. Descriptive analysis was conducted for the gathered data, focusing primarily on absolute frequencies for each variable. To test the association between variables, the Pearson's chi-square test was used (IC 95%, p ≤ 0.05). The prevalence of toxoplasmosis in pregnant women in this study was 21.94% (34), of which 50% (17) correspond to seropositive samples only for IgG antibodies (immunity) and the other 50% (17) correspond to seropositive samples for both IgG/IgM antibodies. In the last group, the avidity test was performed allowing us to discover that all pregnant women were carriers of a past infection. Also, this study allowed us to verify that 78,06% of all pregnant women were susceptible to toxoplasmosis with a certain risk of acquiring the disease during pregnancy. In the statistical analysis between risk factors and infection by T. gondii in pregnant women we found a significant association (p <0.05) between the number of births, knowledge of toxoplasmosis, contact with cats belonging to family/friends and the consumption of meat from hunting sources (birds, rabbits, boars, etc.). These risk factors seem to be of great importance in the acquisition of infection by T. gondii in pregnant women, from this study, among the various factors investigated. This work may therefore constitute a warning for health professionals to insist on primary prevention by providing information (written and oral) about how to avoid infection caused by T. gondii during pregnancy and carry out a serological surveillance only when it becomes necessary, i.e., in pregnant women not immune to toxoplasmosis

    Similar works